Nesta 4ª Jornada do 6Nações 2024, duas surpresas e um desastre. A maior surpresa terá sido a vitória da Itália — a primeira italiana em casa nos 6 Nações em 11anos — sobre a Escócia numa boa sequência de resultados que indiciam uma melhoria de capacidades a aproximar-se dos 5 poderosos — em Sub-20 a Itália venceu a França em Béziers (23/20) e a Escócia em Treviso (47/14) e no 6Nações deste ano empatou com a França (13/13). Com este resultado a Itália entrou para o grupo das 10 primeiras do World Ranking.
Outra das surpresas foi a inesperada vitória da Inglaterra sobre a Irlanda — as apostas eram todas no sentido contrário até com comentários do tipo “só se os irlandeses jogarem com 13 jogadores”. Interessante foi o facto de, finalmente!, a selecção inglesa aparecer a jogar um rugby mais solto e menos clássico — chutou em movimento 23 vezes contra uma habitual média de mais de 30 — de acordo, aliás com o que temos visto realizar as suas melhores equipas de clube. E Ford, de novo com um pontapé-de-ressalto, garantiu sobre o final a vitória inglesa pela diferença de 1 ponto.
O desastre pertenceu a Gales que, em Cardiff, só conseguiu resistir aos três primeiros quartos do jogo — encontrava-se a vencer por 24-23 aos 60’… O estoiro físico no último-quarto imposto pelo fortíssimo bloco-avançado francês permitiu ampliar a diferença com a marcação de 22 pontos. Embora, enquanto teve capacidade física, Gales tivesse mostrado momentos interessantes, a crise do rugby galês pós-pandemia, é uma forte evidência. Esperemos que haja breve recuperação organizativa e competitiva.
Como curiosidade do equilíbrio entre as 6 equipas, nesta jornada, qualquer delas teve — naquilo que é cada vez mais a chave do sucesso — mais de 50% de rucks resolvidos em 3 ou menos segundos, mostrando uma nítida melhoria no conceito táctico do contacto e na disponibilização da bola quando obrigados a ir ao chão. E assim o jogo ganha uma maior velocidade com elevados níveis de intensidade. O que só melhora o espectáculo.
Se a França, com a vitória conseguida também mostrou alterações estratégicas — o desapossessamento já não parece ser a prioridade de Galthié — e compositivas — a entrada de Depoortere e Le Garrec abriram novas oportunidades ao jogo francês e muito se conta da sua parte para embaraçar o super-agressivo sistema defensivo inglês procurando a alternância de espaços-livres com a circulação da bola na esperança de que haja, na rush-defence inglesa, um atraso que permita explorar o buraco da perna-de-cão. E será mais um crunch a marcar a rivalidade exacerbada dos dois lados da Mancha e que faz os adeptos dos dois lados passarem esta semana anterior ao Inglaterra-França nas mais diversas congeminações técnico-tácticas através das redes sociais repletas dos mais diversos comentários de treinadores de bancada. Mas lê-los é, para além do interessante confronto de opiniões, uma forma, às vezes surpreendente, de conhecer novas visões do que se possa vir a passar.
Ver o comportamento da Itália em Cardiff será também interessante — Gales precisa da vitória com ponto de bónus neste jogo para fugir à colher-de-pau (“prémio” para o último classificado) e para ganhar alento na reformulação que está fazendo na sua equipa. A Itália — que venceu em Cardiff na última vez que lá jogou — quererá demonstrar, num jogo de difícil desequílibrio, que já tem direito a ser olhada com o respeito que os últimos resultados lhe permitem exigir. E como uma vitória, ainda por cima se aumentada por um bom resultado nos Sub-20, lhe aumentará a exigência…
Em Dublin, a Irlanda, mesmo depois da derrota, estará a criar as melhores condições para vencer a Escócia e vencer assim o Torneio das 6Nações de 2024.
Curiosamente, com estas defesas de subida muito rápida principalmente motivadas para evitar as consequências da rapidez de reciclagem das bolas dos rucks, pede-se por todo o lado que os árbitros estejam atentos ao fora-de-jogo defensivo bem como às entradas laterais dos defensores para atrasar a saída da bola nos reagrupamentos, motivadas pela conquista de terreno dos transportadores antes da sua ida ao chão.
Teremos, tanto quanto parece, belos e equilibrados jogos, neste fim-de-semana em que, domingo, também os nossos Lobos jogarão a final do European Championship contra a Geórgia.