Ponto prévio para evitar confusões: aquilo sobre que se escreve está muitos furos acima da vulgaridade das equipas normais.
Como é que se explicam as derrotas da África do Sul? Três jogos, três derrotas, mais de noventa pontos consentidos, onze ensaios sofridos.
O primeiro ponto parece ser este: os jogadores já deram – e deram muito – e não podem dar mais, menos ainda adaptando-se a alguns pormenores técnico-legais hoje exigíveis, como é o caso do jogo no chão. O problema maior: se assim for como encontrar substitutos para diversas posições de forma a garantir a eficácia necessária à defesa do título no Mundial do próximo ano?
Por outro lado existem diversas insuficiências na equipa que a afastam dos rivais, mascaradas nas culpas sobre os árbitros e na indisciplina permanente de diversos jogadores.
A África do Sul tem-se mostrado incapaz de resolver diversos problemas que os adversários têm feito ressaltar: com a bola na mão são previsíveis, não aparecem lançados, arrancam depois de receber a bola e assim, caindo na armadilha do mero ataque físico, incapazes de atacar intervalos, são presa fácil para defesas que avançam a conquistar terreno. E aqui não há dimensão de sequências de fases que altere a eficácia. A África do Sul ataca muros, ao contrário das adversárias – Nova Zelândia e Austrália – que se lançam para um passe feito para ser interceptado, podendo assim atacar os intervalos entre defensores. E daqui resulta uma enorme diferença de eficácia.
A falta de combinações desequilibradoras – apostada que tem estado na passagem em força – é outra das incapacidades duma África do Sul que se tem, classicamente, ficado pelas velhas glórias da formação ordenada e alinhamentos conquistadores – que já não chegam para garantir a vitória nos dias de hoje.
Mesmo em defesa, onde a sua capacidade já foi evidente, os sul-africanos já não são uma fortaleza: a sua blitz já não surpreende e não tem segredos para ninguém e a sua adaptação à defesa deslizante deixa algo a desejar, atrasando-se demasiadas vezes para depois jogar tudo numa recuperação nem sempre possível. Pese a tentativa de alteração das formas de defesa de jogo para jogo, as melhorias foram reduzidas e nunca se impuseram para criar problemas insolúveis aos atacantes adversários.
O jogo em força da África do Sul - e as vitórias assim conseguidas - obrigou as equipas da Nova Zelândia e da Austrália a procurar formas de o contrariar. Felizmente e para bem do Rugby a solução assenta no jogo de movimento. Amanhã, num jogo que está a despertar um enorme interesse, veremos como actuarão as duas equipas mais fortes do sul e como conseguirão adaptar o seu movimento à defesa adversária, que propostas apresentarão, que formas utilizarão. O jogo, via Sport TV, é de não perder.