domingo, 27 de outubro de 2013

KALÍVIO

Foi um alívio o apito final do árbitro no Portugal-Polónia dos Sub-19. Um ponto de diferença deu-nos a vitória, o importante no fundo. Mas foi um alívio...
A Polónia não pertence, desde há muitos anos, ao nosso circulo competitivo - nós somos 22º do ranking da IRB, a Polónia encontra-se no 28º lugar com 55,64 pontos contra os 58,82 pontos de Portugal. E esta diferença tinha que ficar marcada no campo e isso não aconteceu. Nervoseiras de um primeiro jogo? Dificuldades de adaptação a um ritmo competitivo - nas responsabilidades e na velocidade - fora dos hábitos conhecidos?
Seja o que for que se tenha passado a realidade ia-nos sendo muito desagradável. E no entanto pode perceber-se que o quinze português tem uma cultura táctica superior. Mas não se podem falhar placagens deixando o adversário tornar uma jogada trivial num momento de perigo. Tão pouco se pode ficar à espera, deixando que o adversário ganhe espaço e confiança. Ou jogar ao pé como se a única preocupação fosse a de aliviar.
Houve uma óbvia qualidade na selecção portuguesa: a preocupação de cumprir um plano de jogo. O problema colocou-se na mera capacidade aproximativa, na falta de empenhamento do colectivo. De atitude perseverante e vencedora. De resiliência. E houve individualismo de alguns jogadores que procuraram o brilhar mais do que o ganho colectivo - por duas vezes me lembrei do colectivismo do ensaio de Aaron Cruden no último All Blacks-Austrália - qualquer dos seus companheiros podia tentar marcar mas circularam a bola até ao companheiro nas melhores condições de êxito seguro.
Dois problemas me pareceram estar na causa da menor eficácia: o atraso da entrega da bola no lançamento das linhas atrasadas e a distância destas á linha de vantagem - tornando assim ineficazes as combinações colectivas.
Quem tem o papel de lançar, passando a bola, as linhas atrasadas depois de cada ponto de quebra - feitas, neste jogo, demasiadas vezes pelas mãos tradicionais do número 9 - TEM de o fazer rapidamente. Cada atraso de décimas aumenta a possibilidade da defesa adversária cortar a possibilidade de circulação da bola e "fechando" o acesso ao canal 3. Na formação dos médios-de-formação tem que haver a exigência do passe com os pés quietos, sem passos, sem "cavalinhos". Na formação geral dos jogadores também terá que haver a exigência de passe do chão para um jogador lançado em corrida. Porque é este ponto - a velocidade de passagem de uma forma á outra - que permite explorar o sucesso do desequilibrio conseguido.
Se a isto - á lentidão da transformação - se juntar a enorme distância da linha de vantagem a que as linhas atrasadas jogaram, teremos uma ideia das facilidades dadas aos polacos.
O rugby tem disto: se os colectivos potencialmente mais capazes não aplicam as regras tácticas necessárias à demonstração das fragilidades da equipa adversárias, a sua exploração torna-se impossível e as duas equipas igualizam-se. E o resultado dependerá da sorte dos deuses...
Esperemos que no segundo jogo o mundo seja outro e a demonstração das diferenças seja em pleno.
E se o jogo foi um alívio, vê-lo terminar teve a vantagem de terminar com a actuação do árbitro. Por muito que defenda que o árbitro tem sempre razão mesmo quando se engana, este árbitro, francês ao que me foi dito, fez uma demonstração de profunda incompreensão do jogo, confundindo a Lei da Vantagem com uma espécie de Ensaio de Penalidade. Explico-me: dando correctamente a vantagem sobre uma falta que quebraria a continuidade do movimento, o sr. árbitro mantinha a vantagem até que - pretendia ele - a equipa não faltosa chegasse ao ensaio. Entendamo-nos: se a falta da equipa defensora impediu a marcação de um ensaio a solução é conhecida, ensaio de penalidade; se a falta permite usar a lei da vantagem ela deve ser aplicada mas não até à eternidade com volta posterior ao local da falta. Porque a vantagem tem duas faces simples: ou existiu, ou não. Se existiu, o jogo continua; se não existiu, volta-se ao local da falta. E não se mede a sua existência depois de vários reagrupamentos em que a equipa faltosa nunca teve que empenhar demasiados jogadores e a beneficiadora nunca conseguiu mas do que bater contra um muro.. Percebe-se á primeira. E o sr. árbitro, ignorante das coisas do jogo, prejudicou a equipa portuguesa. Valeram-nos os deuses que impediram os polacos de transformar os brindes em pontos.
Por um ponto, com susto, mas ganhou-se. Mas podíamos ter ganho com estilo. A ficar mais no coração do que no placard.

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