domingo, 5 de março de 2017

PREPARAR O RETORNO

Ao vencer a Holanda por 26-10, o XV de Portugal cumpriu as melhores expectativas: vitória contra o principal adversário; 4 ensaios marcados e um ponto de bónus; mais de 14 pontos de jogo com maior número de pontos de ranking conquistados, atingindo agora os 58,88.
Comparação ao longo de 5 anos entre as duas equipas incluindo já o último resultado
ou os pontos nos iii
Com esta vitória Portugal coloca-se em primeiro lugar do Grupo da RE Trophy 2016/2017 e afirma-se como principal favorito a disputar a subida - o retorno - ao RE Championship uma vez que os dois jogos que faltam - Moldávia e Ucrânia - são contra equipas que não têm os hábitos competitivos que a selecção portuguesa tem.
Estão, portanto, os dados lançados com tendência para mostrarem a melhor face para Portugal.
No entanto, mesmo com óptimas perspectivas, é avisado não embandeirar em arco: o jogo de "barragem" - provavelmente contra a Bélgica e em casa desta não vai ser fácil e exigirá preparação cuidada e adequada. Porque o último classificado sairá de uma divisão de maior nível competitivo para jogar contra o nosso actual hábito de jogos de menor nível qualitativo e de menor combate. E fazer a aproximação exige muito trabalho, muita focagem e, até, muita resiliência. O mesmo se passará com o nada fácil percurso para o Mundial 2019.
O objectivo está aí, à vista de todos, e obriga à melhor atenção e alinhamento: desde à organização ao treino para garantir a coesão da equipa necessária à vitória. Tudo com uma estratégia pré-estabelecida, sem últimas da hora e, principalmente, sem esperar qualquer milagre como a moda parece ter introduzido na linguagem formal. Porque apesar desta vitória, o rugby português continua com um campeonato pouco competitivo e longe das exigências da competição internacional de melhor nível e sempre com enormes dificuldades para conseguir juntar os seus melhores jogadores em tempo útil para constituir uma equipa coesa para além das dificuldades existentes na adaptação de treinadores e jogadores aos desenvolvimentos do jogo. E, ainda e sempre e como se pode ver no quadro comparativo, com dificuldades na compleição física o que exige um desenvolvimento de técnicas e tácticas que possam contrariar o poder físico dos adversários. O que exige tempo e disponibilidade competitiva.
Comparação da compacticidade por posições das equipas 
apresentadas por Portugal no Trophy 2016/2017 
e comparadas com a equipa da Geórgia que disputou o Mundial de 2015
Este resultado conseguido por Portugal mostra-nos aspectos que valerá a pena analisar. Em teoria - como o valor obtido pelo algoritmo utilizado  para a previsão e com base nas classificações do ranking demonstra - o resultado deveria mostrar grande equilíbrio entre as duas equipas mais fortes deste Trophy. Como explicar então a grande diferença - o mínimo de 15 pontos de jogo de diferença significa para a World Rugby uma vitória sem margem para qualquer dúvidas - conseguida?
Antes do mais este jogo fez voltar uma dúvida não esclarecida e que voltou com intensidade: como foi possível a derrota na Alemanha por 50-27? Que desleixos a podem explicar: organizativo? preparação do jogo? constituição da equipa? preparação do futuro? Que inconsistências existiram? que falhanços se sobrepuseram? Sejam quais forem as razões que nunca foram suficientemente analisadas por quem o deveria fazer, a consequência está na disputa deste Trophy contra equipas que estão longe de nos preparrarem para os combates que pretendemos realizar.
A explicação desta vitória e dos seus números só pode ter a ver com os percursos anteriores das duas equipas e com o evidente desequilíbrio existente entre os diferentes Tiers - desequilíbrio que afecta também a precisão das previsões, colocando problemas de difícil resolução ao nível do algoritmo utilizado. Desde há dezena e meia de anos que as duas equipas seguiram caminhos diferentes e deixaram de se encontrar: Portugal passando a jogar com equipas de nível superior; a Holanda, em baixo, jogando com os níveis onde hoje se encontra. E isto faz toda a diferença! Porque os hábitos competitivos são essenciais para garantir a capacidade competitiva e Portugal aproveitou muito bem essa capacidade para se impôr.

Por isso urge aproveitar a oportunidade - criando e desenvolvendo as necessárias condições - que temos aberta à nossa frente para garantir o retorno ao nível superior. Porque se assim não for, limitaremos o nosso rugby a vitórias de pouco significado que, por muitas que sejam, só servem a propaganda e não o desenvolvimento. Nem a nossa participação internacional...

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