sexta-feira, 31 de março de 2017

UM FINAL DE VENCEDOR E UMA FINAL A VER

Dois jogos internacionais da categoria sénior jogam-se amanhã: um, o jogo final do já conquistado 2017 REIC Rugby Europe Trophy; o outro, a final do 2017-U20 XV Men Championship que garante ao vencedor acesso ao Mundial da categoria etária.
Com uma curiosidade no caso da final U20: jogo entre latinos - final ibérica Portugal-Espanha - num também país latino - Roménia. E com resultado incerto. Mas, após o que se viu, com a certeza de que a capacidade de luta dos portugueses será uma constante a que a sorte dos deuses não puderá virar as costas. No entanto como nunca vi jogar a Espanha desta categoria não tenho ideia alguma sobre o que podem valer... e nisto de selecções etárias podem acontecer as maiores surpresas. Veremos... e veremos mesmo a partir das 15:00 horas de nariz colado ao ecrã.
O acesso da selecção portuguesa de sub-20 à final da competição fez-se num jogo muito difícil, vitória por 21-16, contra a Roménia - os últimos minutos foram de tirar o folêgo com uma defesa de grande atitude competitiva em cima da nossa linha de ensaio - e que teve no ensaio de Manuel Cardoso Pinto - um praça-a-praça exemplar que só pode ficar na história do torneio - o seu ponto mais alto. Recepção de um pontapé romeno, já a rolar no chão, dentro da área de ensaio portuguesa e contra-ataque a trocar as voltas a 3 defensores e a lançar-se numa corrida de 100 metros a encontrar os intervalos necessários e a garantir, na velocidade da corrida, a vantagem até à área de ensaio adversária. Um portento de capacidade individual! Um desplante de se lhe tirar o chapéu e guardar em vídeo. Um hino à virtude atacante e um exemplo a seguir: se há uma hipótese, usa-se! Ensaio! O objectivo essencial do jogo.
Mas a jogada é também um pequeno aviso sobre a perseguição de pontapés: como em todas as circunstâncias do jogo de rugby é necessário uma organização que permita a melhor adaptação ás possibilidades adversárias de exploração da situação. E os romenos não souberam montar essa organização - como modelo pode estabelecer-se que a equipa se deve organizar com 2 perseguidores que "atacam" o espaço da bola, outros 10 numa primeira linha defensiva e que, sem adiantamentos, procuram ocupar terreno, lateral e verticalmente, por forma a não abrir espaços e a não facilitar a colocação em jogo dos adversários pelo contra-atacante portador da bola e 3 outros em defesa profunda para poderem responder, em cobertura defensiva pendular, quer a um eventual pontapé quer a possíveis perfurações dos adversários - que Cardoso Pinto soube muito bem explorar. É também de louvar o espírito da construção da equipa - e conhecendo como conheço os treinadores Luís Pissarra e António Aguilar, sei das suas responsabilidades na exigente atitude de risco - que permite o nível necessário de confiança aos jogadores para explorar aquilo que resulta da leitura realizada. Ler, ponderar o risco e tomar a decisão é a sequência de acção que deve fazer parte integrante do processo de formação de jogadores. Porque será através do desenvolvimento dos processos que permitam o domínio do risco que o rugby português terá maiores capacidades na competição internacional. Principalmente se forem desenvolvidos em simultâneo com o aumento da competitividade interna.
Disto isto, que a sorte nos sorria e a audácia sirva para chegar à vitória.
No jogo da selecção principal não se espera outra coisa que não seja a vitória de Portugal como os nove lugares de diferença no ranking fazem prever, resultando da análise da diferença pontual uma previsão de diferença de 14 pontos no resultado final. De qualquer forma e desde que garantida a vitória, Portugal subirá um lugar no ranking da World Rugby - passará a 23º - trocando o Quénia (23º, 59,28). Jogo portanto de resultado esperado - vitória de Portugal, derrota da Ucrânia - mas que daria jeito que os jogadores portugueses conseguissem ultrapassar a diferença da previsão para atingir uma diferença de 15 ou mais pontos para garantir uma maior pontuação de ranking e, assim, tirar o maior partido da possibilidade de acumulação de pontos. Repare-se que neste tipo de ranking é necessário tirar o máximo partido dos jogos com as equipas pior qualificadas, acumulando pontos, para garantir que os jogos com as equipas mais fortes não provocam perdas demasiado significativas - veja-se a Alemanha que, embora jogando e mantendo-se numa divisão superior à de Portugal, se encontra posicionada em lugar inferior (25º, 58,40) e com todos os jogos do Championship já realizados. 
Por aqui não haverá qualquer surpresa num jogo que deve servir para aumentar os níveis de confiança para a "final" de 20 de Maio contra a Bélgica. Porque aqui, neste jogo-de-barragem, jogar-se-á o desenvolvimento qualitativo do rugby português.

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