quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

JOGOS COM ENSINAMENTOS

A jornada das 6 Nações, mantendo as expectativas, trouxe a continuidade de bons jogos de que já havia saudades.
A melhor vitória coube ao País de Gales que, no 7º lugar do ranking - já é 6º - venceu a Escócia que era 5ª classificada - agora é 7ª - por 27 pontos de diferença e um ponto de bónus ofensivo. Muito se falava da necessidade de modificação do tipo de jogo que Gales utilizava - cheio de Warrenballs - e parece que desta foi, com recurso a 10 jogadores - e mais dois suplentes - dos Scarlets onde o espírito de Carwyn James - Llanelli volta a lembrar-se da vitória de 1972 sobre os AllBlacks - parece pairar, o jogo mudou definitivamente e as memórias dos anos setenta voltam a encher os espaços do estádio de Cardiff. Os galeses foram notáveis na forma como souberam impedir o jogo escocês, aparente e provocadoramente caótico, com os seus jogadores a utilizarem muito mais a adaptação ao que aparece na sua frente do que com preocupações de combinações prévias. Mas a defesa galesa, subindo sempre com muita rapidez e adaptando-se colectivamente e em movimento de acordo com as necessidades - defesa com subida rápida e adaptativa (o scramble das esquadrilhas que se atacadas no solo tinham segundos para se pôr no ar organizando-se em simultâneo), foi capaz de contrariar a movimentação escocesa que não se mostrou capaz de, sustentadamente, a ultrapassar. Gales venceu o jogo seguindo um princípio simples: a bola é para ser usada e o objectivo da sua posse consiste em marcar ensaio. O que exige, como bem tem demonstrado os Scarlets, uma capacidade de passar e receber bem dominada por todos os jogadores da equipa. Curiosamente o maior erro de recepção pertenceu ao ponta Steff Evans - que soube finalizar um excelente movimento - que não conseguiu receber um passe-em-carga do seu capitão Alun-Win Jones para desperdiçar uma jogada soberba. Desperdício que se deveu apenas à manutenção da linha de corrida inicial sem qualquer aproximação ao portador da bola num erro muito comum e a deixar a dúvida: jogador de testes ou apenas de clube?  
O papel essencial das manobras de ataque é o de encurtar a linha defensiva, conseguindo assim espaço livre e superioridade numérica atacante. Situação que se alcança com passes, linhas de corrida adequadas e variação nas zonas de penetração. Ou seja, com mais manobra que colisão como procurava Nuno Álvares Pereira nas batalhas em que enfrentou exércitos de superior tamanho. O que signfica que o recurso permanente a perfurações no Canal 1 não serve de coisa alguma porque raríssimas vezes consegue encortar a linha defensiva por não implicar jogadores defensivos suficientes e por permitir uma ajuda e recolocação em tempo útil. É a variação do uso do Canal de penetração de acordo com as situações de confrontação que, retirando o tempo de apoio aos defensores, garante uma continuidade de jogo vantajosa. Como se pode ver no terceiro ensaio inglês de Orwen Farrell em que a expressão táctica da escolha da geografia ditou um fácil final de 4x1. Como resultado de um excelente trabalho de equipa.
Neste jogo Itália-Inglaterra não deixa de ser curioso que até aos 67' o resultado estivesse em 15-27 para acabar com 15-46 ao fim dos 80 minutos (19 pontos em 13'). Aquilo que Eddie Jones procura - a capacidade de terminar forte para dominar os jogos como o fazem os AllBlacks - parece começar a fazer efeito. Deslumbrado com o que encontrou em Guardiola - a designada "periodização táctica" que é criação do portuguesíssimo Vítor Frade e que tem sido utilizada pelos melhores treinadores mundiais como José Mourinho e a que se acrescentam os outros treinadores portugueses que têm marcado pontos no estrangeiro - Eddie Jones tem seguido a preceito a actualíssima tendência de aumento da intensidade e diminuição de volume para - como reconhecem os seus jogadores - sentirem a confiança que estão habituados a níveis muito superiores àqueles a que são obrigados nos jogos que disputam e assim não recearem correr os riscos que a eficácia exige. Não querendo descurar qualquer pormenor - no intervalo das 6 Nações pretende treinar com o pack avançado da Geórgia... - que os possa impedir de atingir o objectivo de vencer o Mundial de 2019, Jones tem também recorrido a um perito das Australian Rules, Neil Craig (que esteve recentemente no Algarve com a equipa inglesa) para treinar a captação de bolas do ar com recurso a diferentes técnicas que podemos apreciar nas captações de Israel Folau. A Itália - depois de ter deixado os treinadores franceses que não a levaram a lado algum - não esteve mal enquanto durou mas precisa de encontrar um grupo de avançados que possam ombrear com os seus jovens mas talentosos três-quartos - Parisse não chega para tudo e um dia destes, com 34 anos, terminará a carreira. 

O jogo França-Irlanda esteve quase a proporcionar uma surpresa: a 3ª equipa do ranking mundial não perdeu por um triz. E não perdeu porque os irlandeses, numa demonstração de inteligência táctica e qualidade técnica levaram o jogo, num encadeamento de 41 fases de jogo para cumprir a estratégia de colocar Sexton dentro da sua distância de conforto de pontapé-de-ressalto, desde a sua área de 22 até ao meio campo adversário. Um tratado: notável trabalho dos avançados irlandeses na preparação, um passe técnicamente capaz de Murray e um ressalto de Sexton de cortar a respiração até à certeza final. Mas de uma 3ª classificada, embora admitindo-se que a França com 253 placagens tenha defendido bem, espera-se mais: mais jogo, mais eficácia, mais pontos.
Mas se no jogo pelo jogo a França não ficou de todo mal na fotografia, no capítulo disciplinar voltou a borrar a pintura. Mais uma vez criou a confusão necessária - lembram-se de 20 minutos a mais de jogo por causa de uma duvidosa substituição contra Gales? - para a substituição do seu Formação em campo por outro anteriormente já substituído. Aparentemente tratou-se de uma hipótese de concussão...mas toda a gente viu o jogador substituído a sair lesionado do joelho. O que, sendo assim, não permitiria a entrada de um jogador já substituído. As dúvidas são tais que o caso está em análise e, espero, caso seja considerado batota - não há outro termo -, que o castigo seja suficientemente exemplar para impedir cópias. O caso pode ser eticamente grave e, portanto, fora dos padrões e valores que regem o Rugby.

Desta jornada fica também e como ponto positivo a demonstração que a "dobra" é uma terrível combinação atacante - sempre que foram feitas colocaram problemas de muito difícil solução às defesas. E é muito fácil de realizar - uma linha de corrida adequada e um passe, chegam.

Quanto ás previsões, se o acerto foi total nos vencedores, o XV contra XV perdeu 36 pontos nas suas previsões enquanto que o Rugby Vision perdeu 29 pontos. Está visto, no mundo das apostas acertámos no que acerta todo o mundo, mas não servimos para apostas nas diferenças de resultados. Mas quem diria que Gales enfiaria um resultadão e a Irlanda faria um resultadinho... sortilégios do Desporto.

Jogos 1ª jornada
Previsões anteriores

Resultado Dif XV contra XV Dif RugbyVision
Dif
Gales-Escócia
34-7
+27
+2
-25
+5
-22
França-Irlanda
13-15
-2
-11
-9
-4
-2
Itália-Inglaterra
15-46
-31
-33
-2
-26
-5

Total
-36
Total
-29

(nota: A Espanha, nos Sevens, já garantiu, ao fim de 4 etapas, 8 pontos de diferença para o último lugar que é ocupado pela Rússia)

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