quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

PREPAREM-SE PORQUE SÓ HÁ UM OBJECTIVO

Portugal-Suíça, bancada, Estádio do Vale da Rosa, Setúbal
Pode um jogo de fraca qualidade como foi este Portugal-Suiça deixar, para além do resultado, algo de positivo? Pode e este jogo vai ter que deixar.
Ganhou-se o jogo por um 31-17 enganador, sem conquista do segundo objectivo que seria o ponto de bónus nem tão-pouco o bónus do ranking por não termos atingido os 15 pontos de diferença. E o resultado é enganador porque, por um lado, a 20' do fim Portugal perdia por 17-13 e, por outro, porque os suíços se mostraram uma equipa sem experiência e capacidade táctica para segurar um resultado que lhes era favorável - chutar aos postes daquela distância contra o vento em vez de manter a pressão sobre o fim de campo português (lembre-se que tinham na formação ordenada uma vantagem), jogar rápida e atrapalhadamente uma penalidade em vez de, aí sim, ir aos postes - dando a sensação que o seu único conhecimento do jogo é passar a bola e fazer fases.
O que, no fundo, é o que Portugal faz: passa a bola, faz fases e mostra-se incapaz de usar a bola com eficácia - o ataque à linha de vantagem é feito à distância, com jogadores parados e deixando adivinhar sem grande trabalho o que se irá passar (local de penetração ou jogo ao largo permitindo a organização eficaz da defesa, facilitada aliás pela demora da disponibilidade da bola, num simples deslizar - Louis Rodrigues foi o único a saber tirar partido desse facto) anulando assim qualquer tentativa de encurtamento da linha de defesa.
Agronomia e CDUL com 4 jogadores e Direito com 3 no XV inicial
Saído de um campeonato pouco competitivo e de muito baixa intensidade com, repete-se, as duas melhores equipas dos últimos anos (CDUL e Direito) em más posições e maus resultados, o conjunto de jogadores portugueses selecionados não consegue ultrapassar um fraco nível exibicional, de pouca eficácia e com vulnerabilidades preocupantes. Em suma: pouco jogo com pouco discernimento.
O jogo português é, de facto, fraco, sem estratégia que se veja e com factores negativos em larga medida. A formação ordenada tem-se mostrado desastrosa, sem técnica colectiva capaz e sem a solidez necessária - e não se pode ganhar jogos a nível mais elevado sem uma FO segura e capaz! O jogo-ao-pé, pesem embora as excelentes qualidades técnicas de Louis Rodrigues, surge sempre sem uma estratégia que estabeleça a vantagem do seu uso - o pontapé mais objectivo do jogou pertenceu, mesmo no seu fecho, ao pilar Hugo Valente que recuperou a bola para marcar o ensaio final depois de um excelente sprint. Nos alinhamentos também não existe a necessária e constante sintonia entre lançador e bloco do saltador - para além, claro, da total falta de variedade, nomeadamente no tempo ou forma da continuidade do jogo. Falando em continuidade, por onde anda essa arma do jogo moderno que se chama terceira-linha? Quem recupera e quem transporta? O tempo de disponibilização da bola no jogo no chão é lento e possibilita a recolocação defensiva - e isto acontece por má técnica corporal dos jogadores na entrada em contacto e na colocação da bola (imitar a entrada em "atrelado" usada pelos irlandeses talvez nos desse uma vantagem significativa...)    
O principal objectivo desta época está em garantir a vitória no jogo de barragem que designará o  país que jogará no próximo Rugby Europe Championship da época 2018-2019. Todas as outras pretensões são evidentemente secundários e esta exige a conquista de mais três vitórias - duas mais do que esperadas contra a Moldávia e Polónia e outra contra o último classificado da série superior. E são para estas três vitórias que devemos preparar a equipa nacional e os seus jogadores. Usando os dois primeiros jogos como testes definitivos: de jogadores e de meios estratégicos e tácticos.
E se os holandeses já nos tinham chamado a atenção - a que parece nada termos ligado - estes suíços vieram dizer-nos claramente: a jogarem assim correm o risco de perderem o jogo que conta.
Quadro da SportTV
Dividindo a posse territorial, Portugal conquistou em fases estáticas 32 bolas de acordo com o quadro acima, no entanto teve 104 bolas disponíveis para ultrapassar apenas 28% das vezes a Linha de Vantagem de que resultaram 10% de (3) ensaios. O que quer dizer que andamos pelo chão vezes sem conta, deixando equilibrar o que anteriormente pretendíamos ter desequilibrado.
O jogo com a Suíça traduziu a menor eficácia dos jogos já realizados
Significa isto, se olharmos para o quadro acima, que batemos contra a parede demasiadas vezes - criando as designadas fases que, fundamentalmente, premeiam defesas - numa demonstração da existente enorme dificuldade para o uso eficaz da bola. E a interrogação pertinente e alicerçada nestes factos é fácil: que modelo de jogo temos? que modelo de jogo pretendemos ter? como vamos atacar a linha de vantagem?
O positivo que este jogo Portugal-Suíça pode deixar é lembrar-nos que existe um objectivo para o qual temos de encontrar uma resposta clara, objectiva e eficaz. Porque a questão central é esta: a jogar assim Portugal não se mostra capaz de garantir a desejada saída da 3ª divisão com subida à 2ª.
Que estratégia existe para a absolutamente necessária e adequada preparação da equipa? como se pensa atingir os níveis cruciais de transformação? Ou seja: como vamos chegar lá?

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