segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

VAMOS MUDAR ISTO?

 A Inglaterra é sempre assim: quando é pressionada capazmente, recua uma dezena de anos e faz da colisão o seu jogo até que o adversário ceda. Portanto, estamos conversados: colisão e pontapé na conquista de território, faltas, pega-e-vai para, como diz Eddie Jones, ser suficiente para ganhar. Mas uma chatice de jogo, sem qualquer graça.

A França, com uma equipa que somava 10 vezes menos internacionalizações do que os seus adversários ingleses (cerca de 60 contra cerca de 600), parecia, de início, que se ia libertar das grilhetas que Galthié lhe parece colocar: pouco risco e conquista de território através do jogo ao pé. No fundo, o mesmo modelo com que a África do Sul venceu o Mundial e que a Inglaterra copiou. Mas foram sol de pouca dura as promessas iniciais e os mais turnovers ganhos (10 contra 4) não criaram grande vantagem porque a lentidão de saída da bola era exasperante — e viu-se, num belo ensaio, o que podem produzir as bolas rápidas — muito por falta de um jogador que substituísse o formação que, demasiado preocupado com as suas tarefas de defesa de cobertura chegava sempre demasiado tarde. E a defesa inglesa, sem grande problema, recompunha-se.

Diz-se que os franceses foram prejudicados pela arbitragem — há mesmo quem fale de roubo de catedral com o fechar de olhos a um adiantado de Vunipola na sequência que dará o último ensaio. Que foi adiantado, foi. Que tenha sido visto para além da câmara, duvido. Mas, seja como fôr, os franceses só podem queixar-se de si próprios. Com 16 penalidades contra, só se mantiveram com resultado favorável porque Owen Farrell não acertava um único pontapé — um ridículo 56% de sucesso nos pontapés aos postes. A sensação que dava, durante o jogo, é que os franceses não sabiam as leis do jogo — as faltas no chão são infantis. O que significa que no TOP14 a arbitragem, como, aliás, se pode ver nas transmissões televisivas, deixa muito a desejar. Ou seja: os jogadores estão mal habituados e largar a bola na placagem é um castigo...

E quanto jogo desperdiçado com os 55 pontapés dados pelos jogadores franceses (os ingleses, os reis europeus do chuta-e-corre, chutaram 48 vezes...) contrariando aquilo que é a cultura do rugby francês, o "french-flair", o jogo-de-movimento, em que a bola, comandando o jogo, permite a vantagem da capacidade de adaptação conseguida numa formação em que a decisão comanda a acção. De ganho a França leva o reconhecimento que tem, em alguns dos jovens jogadores — no defesa Brice Dulin e no abertura Mathieu Jalibert, por exemplo —realidades para o Mundial de 23. Mas está a faltar o jogo que permita a expressão das suas capacidades e que possa garantir vitórias contra qualquer tipo de adversários. E terá que ser assim se o sonho é ser campeão mundial na própria casa.

E, acima de tudo, com o exagerado domínio das defesas por falta de aposta no risco e com o jogo ao pé como preferência dominante de aproximação à área-de-ensaio adversária, a atracção do rugby está a perder-se... importam-se de dar um passo atrás e voltar ao jogo? O rugby é bonito de mais para ser estragado com uma visão serôdia do resultado!

Os últimos resultados de jogos entre selecções do ano 2020

  

EM TEMPO: depois de já ter escrito o texto acima, encontrei, por mão amiga, um texto no site LERUGBYNISTÈRE onde são analisados diversos momentos de situações faltosas do jogo Inglaterra-França e que dá uma perspectiva mais correcta da arbitragem e das suas dificuldades do que a visão emotiva ou justificativa do coração de adepto. O acesso pode ser conseguido clicando aqui  

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