sábado, 5 de dezembro de 2020

UM FAVOR: UMA FINAL QUE SURPREENDA

 Na final da primeira Taça do Outono das Nações entre a Inglaterra e a França e a jogar em Twickenham, os ingleses fazem facilmente figuras de favoritos . Até porque, numa atitude que se percebe muito mal para quem vai organizar o próximo Mundial, a França jogará com uma quase segunda equipa para cumprir um protocolo entre a FFR e a Liga que impede que qualquer jogador apareça mais do que três vezes no boletim de jogo desta competição. E se, mesmo com as melhores equipas, as previsões consideram uma vantagem inglesa por uma diferença entre 13 e 15 pontos...

Não iremos ver o par maravilha — Dupont e Ntamack — e em Inglaterra, quem conseguiu uma das 2000 entradas para o jogo, não se conforma e sente-se prejudicado. E quem paga as assinaturas televisivas, também. E se é verdade que os clubes franceses querem defender o seu campeonato e as suas equipas que se vêem prejudicadas por terem que jogar sem os seus internacionais, só existe uma solução para resolver o problema. Os fins-de-semana anuais são sempre os mesmos, o intervalo mínimo de um mês é necessário para férias e recuperar jogadores, se o campeonato ocupa fins-de-semana demasiados e não há lugar para os jogos das selecções — aqueles que dão bom dinheiro para alimentar anualmente a modalidade nos seus diversos escalões — a solução estará na diminuição do número de equipas no TOP14. Porque de outra maneira... selecções a jogar sem os seus melhores jogadores por vontade administrativa não faz sentido. E o público, que se diz estar a afastar-se, não voltará — pela simples razão de que quer ver os melhores dos melhores em simultâneo e ao vivo. E não jogos com sabor requentado. Se lhe tiram isso...

O jogo, muito provavelmente, vai ser assim: jogo ao pé na procura da ocupação do terreno para então recorrer ao jogo de avançados, mais seguro para garantir a posse da bola, para em "apanha-e-vai" conseguir os pontos necessários à vitória. Portanto pontapé, choque, passe muito curto e uns nas costas uns dos outros com as defesas a multiplicarem-se organizadamente e, saindo muito rápido e subindo bem a darem poucas hipóteses a um jogo sem risco.


Os ingleses decidiram-se pelo pontapé de conquista de terreno depois de terem visto como a África do Sul jogou para lhes vencer a final do Mundial do Japão. E este jogo, de fácil execução e superior segurança, atraiu Eddie Jones que, para além do mais tem a seguinte teoria: "se mostrarmos agora o nosso jogo de ataque, os nossos adversários terão tempo para preparar defesas eficazes e quando chegarmos ao Mundial não surpreenderemos ninguém. A última coisa de que trataremos na nossa preparação será do ataque... Por agora a forma como jogámos, é suficiente

O seleccionador francês, Fabien Galthié, também decidiu adaptar este tipo de jogo de conquista de terreno e, pelo que se percebe de gestos e entrevistas, zanga-se quando os seus jogadores correm riscos. Mas valerá a pena recorrer a este jogo sem graça quando a sua equipa não tem nada a perder por arriscar? Quem levará a mal que uma segunda equipa francesa perca com os dominadores actuais do rugby europeu?

E, se não há qualquer risco no resultado, que tal — e é uma boa hipótese — a equipa francesa esquecer o quadro preto da táctica preparada e decidir-se pelo velho e maravilhoso "french flair" que segundo o antigo internacional Richard Dourthe "não é mais do que a vontade individual de se afirmar, quer dizer de mandar à merda o esquema de jogo e as instruções do treinador numa altura ou outra do jogo!"  Ou seja, aceitar o desafio de correr riscos e aproveitar toda e qualquer oportunidade que permita o jogo colectivo de corridas, fintas e passes. E esta é, porque o poderio dos ingleses no jogo fechado é muito grande, a única maneira dos franceses puderem ganhar o jogo. Até porque em termos defensivos o trabalho de Shaun Edwards (que falta faz aos galeses...) já permitiu uma organização e uma capacidade de defesa atacante — subida imediata e em grande velocidade — que não permitirá grandes abusos ingleses no jogo ao largo ou na recuperação de bolas no chão. E obrigar os ingleses a voltar à cultura do seu jogo de sempre — o que é o seu normal quando se sentem sob pressão — é meio caminho andado para o triunfo. É a minha esperança para uma tarde bem passada no sofá.  

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores