domingo, 27 de dezembro de 2020

O BELENENESES ENTREGOU-SE À SORTE

Não era fácil, neste confronto luso-espanhol, a tarefa do Belenenses contra uma equipa como o VRAC de Valladolid com 4 títulos na Taça Ibérica — três dos quais nas últimas três épocas — e com 10 títulos de Campeão de Espanha — com 4 campeonatos nas últimas 4 épocas. 

E essa dificuldade de disputar uma Taça contra uma equipa com grande experiência ganhadora aumentou com a competição que uma e outra disputou até se encontrarem. Ambas as equipas realizaram, nesta época, 6 jogos e obtiveram 6 vitórias. Igualdade diferenciada nos adversários que defrontaram e no grau de competitividade com que foram confrontados. E aí, os dados desportivos favorecem os espanhóis.

Pontos marcados nos seis jogos realizados por ambas as equipas 

Como se pode verificar pelo gráfico acima, o Belenenses obteve, nos seus 6 jogos de campeonato, 4 vitórias por mais de 30 pontos de diferença, uma vitória entre os 16 e os 30 pontos de diferença e outra vitória com uma diferença de pontos entre 8 e 15. Pelo seu lado, o VRAC teve 2 vitórias por 16 a 30 pontos de diferença — as mais folgadas — 2 outras vitórias com uma diferença pontual entre 8 e 15 pontos e, por fim, duas outras vitórias por menos de 8 pontos e que permitiram pontos de bónus defensivos aos adversários. É também significativa a diferença de pontos marcados e sofridos pelas duas equipas: o Belenenses consegui uma vantagem positiva de 132 pontos enquanto que o VRAC, com 92 pontos, ficava a 40 pontos de distância. Ou seja e como se percebe, o VRAC defrontou adversários mais competitivos do que o seu adversário Belenenses. O que faz toda a diferença nos hábitos do jogo. Diferença que se notou estratégica e tacticamente nesta final.

O Belenenses habituado às facilidades — pouca pressão, muita conquista de terreno e bola, tempo de decisão e de execução — dos seus jogos internos, desperdiçou iniciativas e perdeu-se na criação de oportunidades; o VRAC, mais treinado na dificuldade, aproveitou o que pode e ainda resistiu  a ter que jogar com 14 jogadores durante 10 minutos por cartão amarelo do seu influente Nº8 — que aliás, por acidente com o seu pilar direito, teve que abandonar o jogo numa exemplar postura do médico espanhol que, apesar das pressões, seguiu a preceito o "Reconhecer e Remover". 

Quer nesta fase, quer nas fases em que o Belenenses parecia atingir uma maior domínio, os hábitos competitivos resultantes de um campeonato mais equilibrado mostraram-se, como se esperaria, vantajosos. Para o lado espanhol, claro.

E foi pena porque o Belenenses tem, individualmente, melhores jogadores... mas deixou equilibrar o jogo ao não explorar convenientemente as suas maiores vantagens e ao escolher opções tácticas erradas ou desadaptadas. A desconfiança de que a coisa não iria ser fácil começou quando, apesar de uma boa entrada no jogo, os lisboetas não conseguiram marcar uma suficiente diferença pontual que, protegendo, impusesse o domínio sobre a desvantagem adversária de "correr atrás do prejuízo". E essa indefinição resultava essencialmente da lentidão de disponibilização da bola nos reagrupamentos que anulava desequilíbrios e permitia reorganizações defensivas. E a isto, pouco habituados a uma pressão que obriga a ler, adaptar e decidir mais rápido, juntaram-se distribuições e lançamentos do jogo desapropriados das circunstâncias e a que um jogo-ao-pé pouco esclarecido, muito pouco incisivo e de constante entrega da iniciativa ao adversário permitiu que adversários, principalmente graças à sua boa velocidade de libertação da bola, equilibrassem o jogo e conseguissem o espaço necessário para construir a vitória. 

E embora parecendo que o Belenenses poderia chegar à vitória — mas, com o passar do tempo, dependendo cada vez mais de um golpe individual uma vez que a equipa funcionava mal nos tempos exactos de apoio— o mau uso ou má adaptação dos seus trunfos não o permitiu. E foi pena...

De facto quando se chega a estes níveis competitivos, todos os pormenores contam. E o hábito competitivo de exigência, de grande intensidade, de poucas facilidades faz a diferença entre vitória e derrota.

Deste jogo fica-nos um ensinamento: se queremos competir com os melhores, teremos que garantir uma competição interna que tenha um equilíbrio tal que obrigue ao desenvolvimento de eficácias adaptativas para qualquer das situações que formam a essência do jogo. As regras deverão ser as do rendimento — o domínio do desporto federado não é o lazer ou puro divertimento — para que o salto para o alto rendimento não seja, pela falta de hábito, um salto no escuro. Com os custos inerentes. 

 

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