terça-feira, 15 de novembro de 2022

BLACK FERNS CAMPEÃS MUNDIAIS 2021

Belo jogo este entre as Black Ferns (Nova Zelândia)— cinco vezes campeãs mundiais — e as Red Roses (Inglaterra) que traziam consigo 30 vitórias consecutivas e o 1º lugar do ranking actual. Esta final do Mundial Feminino teve 11 ensaios e uma incerteza — diferença final de 3 pontos sobre a equipa vencedora até ao último segundo. Um jogaço!



Estiveram em presença dois estilos distintos de encarar tacticamente o jogo e que, curiosamente, o momento de entoação do tradicional Haka deu logo a conhecer: do lado neozelandês, um grupo compacto formando uma cunha com mais do que uma linha a demonstrar a sua intenção de perfurar a linha-de-defesa e ultrapassar a linha-de-vantagem sempre com a equipa preparada para o apoio permanente para garantir a continuidade de cada movimento com todas as jogadoras na mesma página, permitindo a desestruturação da organização de partida para dificultar a defesa; do lado inglês, ocupando, numa linha, toda a largura do campo, a demonstração da confiança no poder físico individual e colectivo. 

Momento do Haka com as Black Ferns à esquerda e “em cunha” e as Red Roses
à direita e em “Linha”

E ao longo do jogo fomos vendo a tradução destas intenções em acções. As inglesas, com dois mauls-dinâmicos chegaram, iam decorridos 14’, por duas vezes ao ensaio e davam a ideia de potenciais vencedoras e que as Black Ferns não teriam capacidade de resposta à altura. Mas a expulsão — sem qualquer margem de dúvida e que obrigou a neozelandesa e melhor marcadora internacional feminina de ensaios, Portia Woodman, a sair lesionada — da 3/4 ponta inglesa, Lydia Thompson, aos 16’, acabou por “equilibrar” o confronto nos 48’ em que as neozelandesas jogaram em superioridade numérica.

Num jogo de grande intensidade e em que os movimentos de posse e transmissão de bola mostraram, pelos gestos, leitura e adaptação, a qualidade técnico-táctica das 30 jogadoras verificou-se, como em tantos outros jogos, a letalidade dos mauls-dinâmicos, podendo, portanto, dizer-se que no nível internacional este recurso — na qualidade da sua organização ofensiva e defensiva — é factor vital para conseguir chegar à vitória ou evitar a derrota.

Sendo, como aliás se viu, construidor de resultados que armas se podem utilizar para os evitar? A primeira é, sem dúvida, a disciplina: não fazer faltas no seu próprio meio-campo é evitar que a equipa adversária possa usar as penalidades para colocar o alinhamento na proximidade da linha-dos-5metros e, lançando a bola. possa criar todas as condições para ser eficaz. Deixando que o alinhamento se construa na zona de perigo —  5 a 10 metros da linha-de-ensaio — há quem defenda que a melhor maneira de impedir a concretização do ensaio é a não disputa da bola para que seja possível organizar o maul defensivo mais rapidamente e de forma mais estruturada. Não concordo! A não disputa da bola dá aos atacantes uma maior confiança na sua conquista, podendo preparar a organização do seu maul ofensivo sem qualquer dificuldade opositora. O saber da disputa da bola permite criar um mínimo de preocupação nos atacantes que os pode levar ao erro ou, idealmente, a perderem a bola. E foi o que se viu no último alinhamento do jogo — era a última jogada com 3 pontos de diferença no resultado — com lançamento inglês e com o estádio inteiro no alvoroço de perderem a final. Mas as neozelandesas e pela primeira vez, resolveram disputar a bola… e ganharam — ganhando assim a final e tornando-se, pela 6ª vez, Campeãs do Mundo.

Acabou por ser uma merecida vitória para as Black Ferns que conseguiam resistir ao maior poderio físico inglês e ainda conseguiram — correndo muitos risco (e daí as falhas de passes e recepções) — ultrapassar a notável e muito bem organizada defesa das Red Roses. As neozelandesas, pese o facto de terem sido teritorialmente dominadas — 52% para as inglesas — marcaram 6 dos 11 ensaios com uma posse de bola de 55% que lhes permitiu conquistar 651 metros contra 273 das inglesas, realizar 187 passes contra 95, com 12 off-loads e 86 ultrapassagens da linha-de-vantagem contra, respectivamente 1 e 44 das adversárias. Fizeram 86 placagens com 85% de sucesso contra 121 das inglesas que apenas conseguiram 70% de taxa de sucesso. Veja-se, para a justificação da vitória, como a utilização da bola no rugby de movimento desestruturado que as carateriza, as Black Ferns obrigaram as adversárias a um maior e menos eficaz número de placagens. O que representa, apesar dos riscos a que obriga, uma enorme confiança nos seus recursos O que mostra a qualidade de treinador que é Wayne Smith: não só é bom porque faz as jogadores acreditarem nele e nos seus processos, mas é óptimo porque as faz acreditar em si próprias e nas  capacidades de que dispõem.

Enfim, um jogo muito interessante, com conceitos tácticos diferentes mas que se pode considerar um excelente momento de aprendizagem e reflexão.

A França, equipa também muito interessante, conquistou, com alguma facilidade o 3º lugar ao derrota o Canadá por 36-0. As quatro equipas que participaram nos últimos jogos deste Mundial constituem os quatro primeiros classificados do ranking da World Rugby, mantendo-se a Inglaterra no 1º lugar apesar de só (?!) ter conseguido a Prata neste Mundial.

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