Mas estes resultados não surgem por obra e graça de um qualquer dote. A capacidade dos jogadores galeses resulta de uma boa e adequada formação, da criação de competição de níveis elevados e mais próximos da competição internacional e de uma organização que suporta o rugby galês num quadro de alinhamento com os objectivos de elevadas prestações competitivas internacionais. Ou seja, o rugby galês tem uma estratégia e tem, pelo seu acerto, resultados.
A este propósito e com as diversas explicações o Raul Patrício Álvares, meu amigo e parceiro destas coisas rugbísticas - estivemos os dois, e também António Coelho, na equipa técnica da Selecção Nacional - escreveu o texto (em itálico) que transcrevo:
O País de Gales e nós
A presença da selecção do País de Gales nas meias-finais do Campeonato do Mundo, para mais com forte hipótese de chegar á final, deveria fazer pensar os dirigentes do râguebi português (dirigentes em sentido lato: clubes, federação, etc.).
Com efeito é espantoso como uma “região” com pouco mais de 3 milhões de habitantes, consegue produzir uma equipa de elite que não é mais do que o produto final de um sistema que engloba todas as etapas necessárias ao aproveitamento total do potencial disponível.
Quando observamos esta equipa, temos a sensação que não há um único jogador, que alguma vez tenha demonstrado poder fazer parte dela, que não esteja lá.
Os dirigentes do râguebi galês, sabem o que querem, e o que é mais importante, sabem como lá chegar. São evidentes os princípios em que se baseia toda a “governance ”: competência, atitude e organização.
Competência para saber escolher modelos de formação, quadro competitivos , treinadores e técnicos.
Atitude em saber definir o que é realmente importante quando se trata de competição e não ter receio de “olhar para o alto”.
Organização que passou por uma impensável fusão de clubes antiquíssimos (mas em que os dirigentes têm mais amor ao râguebi do que ás camisolas), de modo a permitir que os melhores jogadores se batam com os melhores, numa competição profissional impossível de montar nos seus limites territoriais, em vez de se limitarem a exportar jogadores, método que por si só não garante uma profundidade suficiente para haver consistência competitiva.
Mesmo no “sete”, quando se tratou do Campeonato do Mundo, a aposta foi forte e teve como resultado a vitória. Nunca se preocuparam em serem campeões da Europa “que não joga râguebi”…
Que diferença para o que se passa em Portugal!
Será que os nossos dirigentes ainda não perceberam que não é preciso inventar nada? Basta aprender e adaptar. Lógico que as realidades são diferentes, mas os princípios não mudam, é só necessário fazê-los compaginar.
E escusam de vir com a conversa da aposta no “sete” porque também aí não passamos da mediania, só que não se nota tanto…
Um bocadinho de humildade talvez fizesse bem a quem manda no râguebi português, em vez de permanentemente estarem a tentar “vender” uma competência que não existe.
No desporto, como na vida, só no confronto se vê quem é capaz. A auto-satisfação dá sempre mau resultado.
Vale a pena reflectir para encontrar o caminho - a estratégia - que nos permita a frequência dos grandes momentos da modalidade. De forma sustentada.