Para além dos habituais crentes de fé inabalável quem é que esperaria uma vitória galesa sobre Fiji de sessenta e seis secos? E a jogar bem: ataque aos intervalos, descoberta e criação de espaços livres para lançar jogadores determinados a bater a defesa e conquistar terreno. E a defesa numa aposta de que não nos marcarão? - Shaun Edwards é provavelmente o melhor treinador defensivo actual e soube, de maneira soberba, traduzir e adaptar as tácticas defensivas do XIII a uma consistente defesa do quinze galês.
Em termos de beleza de jogo, não vejo melhor exemplo: as diferentes formas possíveis aplicam-se de acordo com a leitura feita do movimento da defesa adversária - a adaptação que garante a sobrevivência (Darwin dixit) mostra-se a cada movimento galês. Está uma senhora equipa - incluindo a capacidade de penetração que desequilibra defesas e permite a exploração do espaço numa melhoria óbvia do seu jogo-entre-linhas.
Talvez mais importante - zero pontos marcaram os adversários, lembra-se - foi o facto de Gales não ter feito faltas em zonas perigosas. Facto relevante e que significa disciplina, confiança e domínio. E que pode ser um plus nos jogos que restam.
Que Gales pode ir longe? Pode, muito longe até - e que jogo se prepara nos quartos-finais entre os primos celtas. Mas apostas são apostas: Gales ganha! nem que seja rés-vés.
Agora as más notícias: os analistas da IRB apostam no habitual - as vitórias, nesta altura de bota-fora, vão pelo insuportável adágio de que a defesa é a melhor forma de defesa que, somada a um pontapeador capaz, ditará a vitória. O que significa o insuportável: África do Sul e Inglaterra colocam-se no topo - um de cada lado - dos favoritos. Já se sabe, em provas compridas e compactas como este Mundial, uns e outros são capazes de repetir a sensaborona final de Paris.
Para bem do rugby e do gosto pelo divertimento do jogo espero que haja - naqueles que usam a bola e que consideram que o jogo de passes - o ataque é a melhor defesa - é o meio mais eficaz para chegar à vitória - quem garanta a vitória final. E que os que não gostam de jogar mas apenas de garantir resultados (franceses incluídos que ainda não concordaram na forma) viajem mais cedo para casa.