Porque no resto estiveram bem (vá lá, excepto quando os dois centros galeses se deixaram enganar pelo isco do aparecimento de O'Connor e abriram uma auto-estrada de bandeira para o ensaio de Barnes). O diabo está nos pormenores, diz-se. Os pormenores, em jogos de bota-fora(1), são o diabo. E foram, se tivermos - como tenho - o ponto de vista galês. E pormenor foi também o facto de bola ter sido passada para a frente no ensaio de Shane Williams (que raio de pormenor aquela tentativa de ressalto...). Foi passada para a frente mas só é visível quer pela televisão - fácil, facílimo - quer por um observador parado na linha de passe. Acontece que tudo estava em movimento: árbitro, árbitro auxiliar vulgo juíz-de-linha, jogador receptor e mais importante de tudo, o portador da bola quando parou, derrubado por adversários, já se encontrava á frente da linha de recepção - impossível de ver no momento. Um simples erro de paralaxe (já agora: no outro momento parecido e da responsabilidade australiana não, era fácil de verificar, não havia movimento do passador ou do árbitro).
No nível elevado do alto rendimento onde o rugby do mundial se encontra é preciso, para vencer, garantir que os chutadores da equipa serão capazes de transformar em pontos as faltas adversárias - e é preciso que a equipa adversária reconheça isso e que tenha dúvidas sobre as vantagens das suas faltas. Só assim as defesas serão obrigadas, não podendo arriscar em demasia defensivamente, a deixar os intervalos por onde será possível perfurar para impor o jogo entre-linhas. Não ter um chutador capaz no alto nível é queimar baterias sem fazer a máquina avançar.E foi por isso que, entre aqueles galeses que não puderam estar presentes no jogo das meias-finais e do terceiro/quarto lugar, o maior ausente foi o jovem e notável abertura Rhys Priestland. A falta que ele fez... No jogo da final se for verdade que o melhor ataque é a defesa, os neozelandeses vão sofrer muito para serem campeões do mundo. A França ainda não sabe bem como pode entrar em campo para disputar a final: nunca jogou grande coisa e teve a sorte dos números que fazem a chave da vitória. E uma coisa é certa: para aquele grupo de experientes jogadores, moldados num campeonato onde a derrota pesa muito mais do que a falta de pontos, estar na final é um euromilhões - e oportunidades, eles sabem, não se deitam fora. E se os All-Blacks jogarem? se acharem que precisam da bola, que precisam de conquistar e manter território e que, no final do dia, o que contam são os pontos marcados - garantem ter aprendido a lição de 2007 quando na meia-final deixaram os pontapés de ressalto no balneário - a experiência dos franceses apenas servirá para limitar os prejuízos.
Mas os All-Blacks terãoque jogar bem e muito... o que é bom para o jogo e para nós, espectadores.
(1) - a forma popular que conheço desde sempre para designar jogos a eliminar é bota-fora
e nunca o mata não sei quantos que, para além do mau gosto, é pouco desportivo.