quinta-feira, 1 de março de 2012

OUTRO MUNDO

Por mais que o sentimento de pertença nos imponha optimismos, a sustentabilidade desportiva necessária à manutenção dos lugares no ranking IRB não deixa enganar: a diferença entre a actual Geórgia e Portugal já é muito grande. Como se viu no jogo.

Com linguagem comum reduzida ao francês falado por grande parte dos jogadores, as diferenças de concepção do jogo e o estádio de desenvolvimento falaram outra língua e foram perceptíveis no desajustamento.

A Geórgia joga outro jogo, encontrando-se num estádio superior de desenvolvimento. E fê-lo notar dentro do campo. Logo na aplicação prática de um princípio fundamental: só se alarga quando se avança! E a Geórgia esteve sempre atenta a essa condicionante – pelo contrário os portugueses alargavam o jogo mal tinham uma bola (eficaz no sevens, completamente desajustado no XV) – provocando um enorme esforço à defensiva portuguesa.

Mas mostraram mais. Mostraram - atrevo-me a dizê-lo - uma surpreendente capacidade de manter a continuidade do jogo, aderindo à responsabilidade, sem hesitações, de apoiar o portador da bola e aceitando, para o melhor e pior, o seu comando táctico – o portador da bola serve para criar problemas à defesa adversária, os restantes jogadores têm a obrigação de garantir o apoio necessário à continuidade do movimento, abrindo linhas de passe, facilitando o avanço no terreno, criando indecisões defensivas, garantindo a posse da bola e permitindo, até, o brilho do companheiro. O que exige espírito de equipa, espírito de corpo, solidariedade: mais "nós", muito mais "nós", do que "eus". Na mira de construir um todo superior à soma das partes.

Mostrando todos os seus jogadores disponibilidade para o apoio que garantisse a continuidade do movimento, a Geórgia ainda se estabeleceu num nível superior – e já não falo na capacidade de “dar as costas” para facilitar a sequência da posse da bola sem passagem pelo chão – ao alternar as direcções do movimento da bola, jogando ora para dentro ora para fora, atacando os intervalos, numa alternância de ponto de encontro ataque/defesa que criou sempre grandes dificuldades à selecção nacional. Que, enquanto pode desmultiplicar-se, resistiu. Mas o que se via dentro do campo chamava a atenção para a diferença de pontos que se lia no ranking IRB: dois mundos.

E, se queremos ser seriamente competitivos, teremos que pensar estrategicamente em qual caminho percorrer – começando logo na formação (o texto do Tomaz Morais em A Bola de 5ª feira passada estabelece os princípios éticos) que deve alicerçar-se, desenvolvendo os métodos e processos, nas tendências que definirão o jogo daqui a cinco/dez anos. E a melhoria do quadro competitivo onde joga a nossa elite é - seja internamente, seja alargando à Ibéria, seja colocando os melhores jogadores em clubes estrangeiros - factor decisivo. Porque o tempo que nos escapa serve os nossos adversários.

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