Naquele que foi, provavelmente, o único momento de satisfação de todos os adeptos que encheram o estádio de Cardiff ou que estavam pelo mundo fora a vê-los na televisão, Gales marcou um ensaio a partir dum pouco usual alinhamento com 13 jogadores.
Surpreendidos, os All-Blacks não souberam responder e ficaram - para alguns deles é literal - a ver que ideia seria aquela... Mais divertido ainda foi a expressão dos galeses na bancada - delirantes com a partida pregada aos campeões do mundo.
Há anos também usamos, na selecção nacional de que fui responsável, uma jogada parecida. Tinha uma vantagem sobre esta dos galeses: tinha um plano B. A jogada que Gales fez, utilizando 13 jogadores em linha, um lançador e um formação, tem dificuldades de saída eficaz - embora a distância à linha de ensaio dê poucas hipóteses aos defensores - se a resposta dos defensores seguir a lei do espelho - pessoalmente e se houvesse a desconfiança antecipada que o adversário poderia utilizar esta jogada a defesa seria montada com 12 jogadores em linha, um no corredor, outro no final do alinhamento e dentro da área de ensaio, caso a distância fosse menor que sete metros porque se maior seria integrado como cerra-fila, e outro ainda como formação para ocorrer a qualquer perfuração ou queda da bola.
A jogada que então fazíamos colocava 12 jogadores em linha e exteriores um lançador, um formação e dois jogadores nas linhas atrasadas - um abertura capaz de agarrar qualquer bola que viesse e um poderoso sprinter capaz de garantir, se necessário, a vitória da corrida na diagonal dos 50 e tal metros que poderia ter que correr. As alternativas dependiam do adversário: se este respondia com a lei do espelho a bola era para abrir e jogar pelos dois três-quartos; se o adversário se preocupava com o espaço livre e colocava menos jogadores no alinhamento, a entrada seria em força e em maul. Estas duas soluções permitiam que a jogada pudesse ser realizada dentro dos 22 sem que fosse necessário muita proximidade da linha de ensaio. Era divertido e eficaz.
Lição a reter deste momento de Cardiff: a surpresa é uma arma terrível - para o bem e para o mal - para uma equipa de rugby. E tendo o jogo começado com a inovação do menino William, a inventiva passou a ser característica integrante deste nosso jogo: use-se, portanto!