domingo, 4 de novembro de 2012

CORAGEM PARA VENCER

A vitória da selecção nacional de sub-19 com a sua qualificação para o IRB Junior Trophy - o Mundial B de sub-20 que se disputará no Chile no próximo ano - representa um excelente momento para o rugby português. Não só pela vitória e pelas portas que pode abrir - desde a previsão de uma continuidade capazmente garantida da selecção principal até à possibilidade de uma candidatura credível para a realização do Junior Trophy em 2014 - mas, principalmente, pela qualidade como foi obtida.

De início é o costume: eles são grandes, muito mais fortes, não temos hipóteses. Ou seja: a Geórgia como fantasma aterrador. Mas a criação de uma estratégia inteligente e suportada em tácticas adequadas transformou a primeira ideia, proporcionou a confiança necessária, estabeleceu a atitude de conquista e abriu o caminho para uma incontestada vitória. Foi muito agradável ver uma selecção portuguesa produzir um jogo eficaz, colocando em campo a execução dos Princípios Estratégicos Fundamentais do Jogo. Estão de parabéns os treinadores da equipa, Henrique Rocha e João Luís Pinto, pelo resultado, pela qualidade da expressão colectiva e pelo exemplo de inteligência e criatividade competitiva demonstrados.

Tudo começou na montagem da estratégia que teve como elemento motor a procura do domínio da Linha de Vantagem. E aqui começou, com excelente interpretação dos jogadores, o princípio da vitória: na maior parte do tempo os portugueses, em defesa e ataque, jogaram com superioridade numérica com as consequências da vantagem daí resultante.

Sempre que uma equipa domina, ultrapassando, a Linha de Vantagem - a linha imaginária que, passando pelo ponto de libertação ou colocação em jogo da bola, define os dois campos - tem a vantagem da superioridade numérica no confronto directo, possibilitando portanto a assumpção de riscos menos arriscados (porque o Apoio existe em situação de complemento à distância eficaz). E assim uma equipa deve, com bola ou sem bola, cumprir o primeiro Princípio Estratégico Fundamental de Avançar Sempre. Mas se são tão evidentes as vantagens porque não o faz sempre qualquer equipa? Porque é preciso coragem e organização, para além do domínio da cultura táctica. E nem todas as equipas o têm em simultâneo. Ou são treinadas para isso.

Foi essa coragem que os treinadores deram mostras e souberam transmitir aos seus jogadores, dando-lhes a confiança necessária para que subissem em defesa - ao contrário da habitual espera - e avançassem em ataque - ao contrário da habitual lateralização - criando assim a Pressão necessária para provocar erros ao adversário. E aqui, nas diversas expressões tácticas desta estratégia, esteve, ao limitar os pontos fortes da Geórgia e desorganizando o seu modelo, a base da vitória.

Mas a coragem dos responsáveis foi mais longe: decidiram apostar - numa final que apenas apurava o vencedor - em Nuno Sousa Guedes - que não joga na posição - para médio-de-formação - e que mostrou logo ao que vinha no tratado do trabalho feito para abrir caminho ao seu antigo companheiro de clube, José Vareta, no primeiro ensaio da selecção. Esta aposta, demonstrando conhecimento das capacidades dos jogadores, transformou um perdido por cem em ganho por mil. Decisão que mostrou, para além da confiança que transmitiu à equipa, um formação com futuro internacional.

O jogo da final mostrou ainda que podemos, com boa programação para ampliar as suas capacidades técnicas e tácticas e mantendo níveis de exigência competitiva elevados, contar com estes jogadores - a base existe - para a continuidade e mesmo melhoria competitiva da selecção principal.

Parabéns aos jogadores e aos responsáveis destes sub-19! Foi, para além duma boa vitória, um bom jogo com expressões tácticas que já não via há muito no confronto internacional de equipas portuguesas. Bom exemplo a seguir.





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