"A vida está cheia de oportunidades e temos que pensar em aproveitá-las." Luís Figo, El Mundo, 17/2/2013
VITÓRIA!
Conseguimos a vitória e o alívio das bancadas. Nos últimos minutos, o fantasma das derrotas dos jogos anteriores pairou sobre todos nós.
Valeu a vitória, desvaleu o jogo. Vá lá, cumpriu-se o necessário mas sem glória.
O jogo foi muito mau e Portugal deitou fora uma excelente oportunidade para se recompôr e preparar-se animicamente para o resto da prova. E perdeu também a possibilidade de conquistar um ponto de bónus atacante, acabando por ceder um ponto de bónus defensivo que entregou à Bélgica. Porque a verdade é esta: a Bélgica não pertence a este campeonato e só com a sorte de todos as estatuetas de Manneken Pis é que rasgará o bilhete de ida-e-volta. O XV belga não passa de um conjunto destruidor e com algum capacidade de combate, mas não joga.
Está aliás muito longe da mitologia com que nos foi pintado : uma primeira-linha poderosíssima - nem com truques o conseguiu demonstrar; uns centros irrequietos e bons atacantes da linha - nada vi que ultrapassasse o trivial. São de facto uma equipa normalíssima e sem nível capaz (escapa apenas o irrequieto formação).
Mas quando se usa a força contra a força em vez de utilizar a inteligência contra a força, deixa-se que a equipa menor pareça eficaz. E foi isso que Portugal fez: jogou com pouca inteligência, não se adaptando ao que tinha na frente, jogando pela sebenta, longe da linha de vantagem e permitindo que a defesa belga deslizasse e tapasse o espaço exterior numa constante relação de superioridade numérica - o ensaio do Appleton é perdido assim.
Infelizmente Portugal mostrou uma enorme falta de cultura táctica, insistindo nas mesmas previsíveis acções, com fácil espera da defesa próxima belga: quem é que se lembrou das constantes saídas de nº8 ainda por cima sobre uma FO instável? Como é que não existe mais nada na bagagem da equipa para lidar com penalidades próximas dos 5 metros: nem uma jogada rápida para tirar partido de um recuo dos adversários para dentro da área de ensaio? E as linhas atrasadas não têm nada a dizer em primeiro-tempo? Contra a Bélgica?!
A velocidade e a variedade são os ingredientes necessários para criar problemas ao adversário, retirando-os da zona de conforto e provocando os desequilíbrios necessários para abater a sua resistência. Os sistemas são a zona de recuo quando tudo parece correr mal e é preciso uma plataforma de segurança. Mas o jogo de uma equipa que pretende vencer assenta na exploração daquilo que nos surge na frente: usando a capacidade de leitura, explorando intervalos, usando o apoio axial - o ensaio de Gales contra a Itália é uma excelente demonstração de tudo isto: mindtry como refere Wayne Smith.
A arbitragem teve momentos de desastre absoluto. Embora possa haver queixa pela falta de marcação de ensaio de penalidade, também se deve lembrar que nunca marcou as entradas para dentro do nosso pilar - que não foram tão poucas assim. Mas verdade, verdadinha, o homem não percebia nada das questões da primeira-linha e passou o tempo todo a rezar para que aquilo passasse depressa. Tudo sem falar no delegado ao jogo - um também romeno - que com o seu brilhante conhecimento das Leis do Jogo deixou os belgas jogarem cerca de vinte minutos com outro pilar para o inicial descansar - uma vigaricezinha comandada pelo treinador francês a que não será estranha a conhecida aliança franco-romena que conheço desde há anos. E tudo se passou na frente de um alto representante da IRB que, como sempre, se limitou a impôr a opinião soberana da anglofilia: só à quarta falta é que é ensaio (muitos outros dizem três, mas a pergunta impõe-se como tantas vezes: onde é que isso está escrito e com acesso universal?). O resto dos comentários tinha aquele ar paternalista habitual: no fundo acham que somos uns ignorantes esforçados.
Mas não foi por causa da arbitragem que não fizemos explodir o jogo: foi por nossa culpa, pura e simplesmente! Porque não quisemos jogar e ficámos à espera que o sistema o fizesse por nós. E para a tarefa que temos para chegar ao Mundial de 2015, seria bom que alguma coisa mudasse. Porque o sistema não chega.