sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

GESTÃO DO RISCO E PRESSÃO

Depois dos maus resultados internacionais deste fim-de-semana do rugby português, só a vitória de Gales em Paris - e ganhar em Paris sabe muito bem mesmo para os adeptos - disfarçou o incómodo.

O fim-de-semana de resultados negativos portugueses pode deixar marcas desagradáveis se não houver capacidade de transformar a situação. Passaram-se coisas de difícil explicação para o nível em causa, no campo da "gestão de risco": no XV a decisão de chutar aos postes nos minutos finais quando já havia uma diferença que garantia o ponto de bónus defensivo - a procura de um alinhamento próximo da linha de ensaio que se traduziria num mais inteligente "na melhor, marcando ensaio, ganhamos o jogo; na pior ficamos na mesma", foi ignorada; ou nos Sevens, onde não foram feitas as contas necessárias para perceber o significado da perda de pontos - e assim ignorar o objectivo principal da manutenção no World Series - em troca da poupança dos mais eficazes para uma final tida como garantida.

Adiante... com a esperança que se cumpra a regra dos campeões: erros sim, mas nunca os mesmos.

No 6 Nações alguns momentos interessantes e um reconhecimento. A Inglaterra, jovem equipa, está um colectivo de se lhe tirar o chapéu. Brian Ashton, conceituado treinador inglês, refere que a grande qualidade de Stuart Lancaster - o responsável pela equipa da Rosa - foi a de ter "gasto" a época passada a trabalhar o Espírito de Equipa e só depois se ter preocupado com as questões que dizem respeito à organização da equipa e que isso, hoje, paga os dividendos visíveis: os jogadores, em todos os momentos, batem-se uns pelos outros.

Do Escócia-Itália retira-se a demonstração de uma regra a que nem sempre se presta a atenção devida: a posse da bola não garante vitórias; a pressão pode garanti-las. A Itália teve próximo de 60% de posse da bola e perdeu por resultado que não deixa margem para dúvidas. O que coloca a questão do jogo, da vitória e da derrota, na utilização da bola: não basta tê-la, é preciso ser eficaz no seu uso, garantindo o cumprimento dos Princípios Fundamentais do Jogo. Mas mesmo assim a Itália continua a mostrar-se interessada em desenvolver o seu jogo numa dimensão que há-de também pagar dividendos.

Em todos os campos se viram elevados níveis de pressão defensiva, com os problemas que daí resultam para o ataque. Donde ressalta a questão-chave do rugby contemporâneo: como atacar contra uma forte pressão defensiva? Há anos atrás, a França atacava "aguentando" para aproveitar a subida rápida dos britânicos (que viviam obcecados pela rapidez de chegar à Linha de Vantagem) e assim, aproveitando a auto-colocação nos "carris", ultrapassá-los pelo exterior. Mas hoje os britânicos, como toda a gente com um mínimo de nível, já sabem "deslizar". O que, exigindo uma qualidade superior da utilização da bola, impõe uma formação diferente e focada na capacidade de leitura, na tomada de decisão, adaptação aos movimentos da defesa, ataques aos intervalos com linhas, ângulos, velocidades de corrida perfurantes e apoios axiais a garantir de imediato uma segunda-linha de ataque para manter a continuidade do movimento, num tema de estudo permanente.

Neste aspecto as duas selecções francesas jovens que jogaram em Portugal deram uma boa lição sobre a construção de jogadores e do modelo do jogo de movimento e que deve ser visto, revisto e pensado pelos treinadores portugueses. Paradoxalmente a França sénior, nas duas derrotas que leva, ficou sempre muito longe deste modelo - as acusações pesam sobre um campeonato demasiado pesado (questões economicistas, naturalmente) que queima os jogadores por não lhes permitir adequada recuperação - mas parece estar lançada, se houver preocupação efectiva com os jogadores, para um futuro muito competitivo.

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