segunda-feira, 21 de novembro de 2016

VENCER PARA APRENDER

O XV de Portugal fez, neste jogo contra os suíços, o que lhe era exigido: venceu o jogo sem margem para dúvidas sobre a sua superioridade como ficou demonstrado nos vinte minutos finais. E com a diferença de pontos de jogo superior a quinze, conseguiu atingir os 58,38 pontos de ranking da World Rugby o que lhe deve permitir - de acordo com as contas feitas - atingir o 25º lugar e entrar desde já no 1º quarto da classificação mundial. O que é um bom início de época. Pena foi que não houvesse capacidade para ir buscar um ponto de bónus - a Holanda já tem dois e a Moldávia um - que pode ter importância nas contas finais...
Mas feitos os resultados, parece razoável reconhecer que as vitórias conseguidas respondem a uma lógica desportiva elementar: os que vêm de baixo têm uma enorme dificuldade em derrotar os que vêm de cima. Por razões relativamente fáceis de explicar: quem vem de cima têm um binómio de talento e coesão naturalmente superiores e que, nos primeiros jogos da época, faz - quase sempre - a diferença. E foi isso que se viu nos dois jogos - contra a Bélgica e Suiça - disputados. Vitórias naturais portanto mas que deixaram um rasto de ensinamentos que não podem ser ignorados. Porque a dificuldade dos futuros jogos do Trophy será superior.
O primeiro e importante ensinamento é que temos - no rugby português - de aceitar que as Leis do Jogo são universais e não permitem interpretações especiais ou diferentes. E nós em Portugal temos que perceber quais são as interpretações, ou seja, qual a forma de arbitrar generalizada internacionalmente. De nada nos servindo, para além das penalidades, entender as coisas de outra forma - e o jogo no chão tem sido, mesmo quando a intensidade não é suficientemente elevada, uma fábrica de faltas ao nível internacional. Fazemos faltas a mais, é um facto! Situação que só nos prejudicará quando os jogos forem mais intensos e equilibrados e que necessita de um real esforço de mudança - na interpretação da lei e na técnica de entrada ao contacto - de treinadores e jogadores das equipas da Divisão de Honra.
O domínio do jogo contra a Suiça foi evidente mas já o mesmo não de pode dizer da eficácia da utilização da bola - apenas ultrapassando, de acordo com as minhas notas que podendo não ser necessariamente de um rigor absoluto estão, no entanto, muito próximas da realidade, a linha de vantagem em 33% das bolas disponíveis das quais desperdiçamos ainda 59% delas nas mais variadas maneiras como pontapés entregues ao adversário, faltas ou perdidas pelo caminho. O que é de mais e que não nos deve fazer esquecer a pouca valia técnica e táctica dos suíços que limitam o seu jogo a uma previsibilidade detectável a quilómetros de distância. 
Continuamos a cometer erros na utilização da bola: jogámos longe de mais da linha de vantagem e deixamos que o portador da bola, ao atacar o intervalo, se transforme em penetrador em vez de - porque se tornou no preferencial alvo da defesa - a entregar, imediatamente antes da zona de contacto, a um companheiro que será, então, o penetrador. Verdade tão mais eficaz quanto mais longe se estiver da cara da defesa... e este conceito táctico tem que fazer obrigatoriamente parte da bagagem de qualquer jogador internacional. O jogo ao pé, por outro lado, não tem o tempo necessário de trajectória aérea para que se cumpra o conhecido aforismo: um pontapé é tão bom quanto permita uma perseguição tal que retire soluções ao adversário receptor. E feito como tem sido, servindo apenas de alívio, torna-se uma forma de desperdício.
Mas verdadeiramente grave, grave foi, mais uma vez, a incapacidade demonstrada nas formações ordenadas. A formação ordenada - momento decisivo para a sequência do jogo ao juntar num pequeno espaço de terreno 16 jogadores e abrindo assim, se houver consistência para "segurar" o adversário, espaços de ataque - é uma questão técnica e não de força bruta. O que exige treino e aprendizagem e a selecção nacional tem que olhar para este aspecto de forma séria.
Faltando tempo suficiente para os jogos do Trophy há também tempo para melhorar, começando logo no próximo jogo contra o Brasil, equipa cujo nível permitirá a procura de soluções que se venham a mostrar futuramente eficazes. Será uma boa oportunidade que não deve ser ignorada.

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