sábado, 26 de novembro de 2016

PREVISÕES E ESTATÍSTICAS

Mais um sábado cheio de bons jogos de rugby a que poderemos assistir quer na SportTV, quer no Eurosport.

De acordo com os vaticínios possíveis - e que se encontram no Quadro 1 - através da pontuação do ranking da World Rugby que separa as duas equipas em confronto, o jogo mais equilibrado de todos deverá ser o Gales-África do Sul, jogo que opõe o 6º e o 5º classificados do ranking - os galeses não tem estado brilhantes e têm mostrado grandes dificuldades na utilização eficaz da posse da bola parecendo tardar  a encontrar a coesão necessária para que as partes possam somar-se num todo colectivo; os sul-africanos, vindos de uma derrota inimaginável contra a Itália (que assim nos recordou a sua pertença à elite mundial) têm neste jogo a última oportunidade para salvar a honra do convento e entrar de férias de forma mais descansada. 
Quadro 1 - Previsões
Recurso ao Ranking da World Rugby e aos dados da Rugby Vision de Niven Winchester
A Rugby Vision, site onde o neozelandês Niven Winchester, economista e professor no MIT dos USA, faz as suas previsões com base numa tabela de escalonamento das equipas criada de forma diferente da considerada pela World Rugby para, recorrendo a algoritmos que englobam diferentes componentes estatísticas do jogo de cada equipa, estabelecer as probalidades de vitória, considera que a probabilidade da vitória de Gales se situa apenas nos 52% e se traduzirá por um ponto de diferença - a análise dos valores do ranking oficial propõe uma vitória galesa por 4 pontos. Seja como for o que dizem estas previsões é que haverá jogo até ao fim e que os adeptos galeses, como eu, se devem preparar para aguentar a tensão.
O jogo de dificuldade seguinte será concerteza o Irlanda (4º)-Austrália (3º) que tem - entre os valores da World Rugby e os da Rugby Vision - previsões diferentes: com os dados oficiais, derrota da Irlanda por 3 pontos, com os dados propostos por Winchester, vitória da Irlanda por 4 pontos. O jogo dirá. A probabilidade proposta de vitória para a Irlanda é de 61,6% - e seria bom que assim fosse e a vitória pertencesse aos irlandeses que estão a jogar bem e de forma muito interessante sob o comando do seu excelente treinador, o neozelandês Joe Schmit. Só a enorme pressão dos AllBlacks, retirando todo o centímetro de espaço e segundo de tempo, impediu a concretização das suas manobras atacantes.
No Inglaterra-Argentina a vitória não deve fugir aos comandados de Eddie Jones - a equipa do "nosso" Daniel Hourcade não teve conseguir contrariar o poder e a, agora, muito melhor movimentação das linhas e jogadores ingleses. Do Escócia-Geórgia espera-se - o que já não é pouco - uma demonstração das cada vez maiores capacidades competitivas dos georgianos que, até há pouco tempo eram adversários do nosso nível (a-propósito: nos anos 70 empatamos 0-0 com a Itália, em Pádua, ganhamos 9-6 em Coimbra e perdemos 26-24 em Jesi nos meados dos anos 80).
Quadro 2 - Médias por jogo: Nova Zelândia e os outros
Muito provavelmente os AllBlacks ganharão com à-vontade em Paris. Porquê? Porque conseguem, como demonstra o Quadro 2 da autoria do The Economist, melhores resultados naquilo que são as situações de jogo estratégicas, isto é as que, quando realizadas resultam em transformações decisivas para o resultado final - rupturas defensivas, metros percorridos com a bola, recuperações conseguidas, formações e alinhamentos perdidos. De acordo com o desenvolvimento da investigação sabe-se que uma equipa do Nível Um consegue, em média, 5,6 rupturas da defesa adversária por jogo. Ora as investigações também demonstraram que basta uma unidade de desvio padrão nas rupturas defensivas- naquele que é o indicador mais transformador (veja-se o Quadro 3 também da autoria do The Economist) - para aumentar as possibilidades em 4,7 pontos de jogo. Ora, como se pode ler no Quadro 2, os AllBlacks têm uma média de mais de 9 rupturas defensivas o que explicará a notável capacidade de permanentes pontos de bónus nos jogos realizados na Championship ou nos restantes - com excepção da vitória de Dublin onde apenas marcou 3 ensaios. 
Quadro 3 - Vale um ensaio? Pontos de jogo associados à mudança de uma unidade de desvio padrão
A conjugação de rupturas defensivas com a capacidade que demonstram os 500 metros percorridos com bola - as outras equipas situam este parametro entre 300 a 400 metros (ver Quadro 2) - constituem a capacidade letal dos neozelandeses que têm as 15,5 recuperações como base preferencial de lançamento.
Os dados estão lançados e o resultado dos jogos mostrará a acuidade das consequências retiradas das estatísticas, mostrando também e antes das coisas acontecerem a utilidade destas ferramentas métricas.
Por aqui, pelo uso possível da análise estatística, se pode perceber a importância  - mesmo com a desconfiança que lhes atribuía Churchill ou, hoje em dia e no rugby, Wayne Smith ("as estatísticas são como um candeeiro para um bebâdo: serve mais de apoio do que de iluminação") que estes dados podem ter. E que urge, se queremos encontrar os melhores caminhos competitivos, estabelecer um programa de dados estatísticos para o rugby português.

[um abraço ao Rafael que me colocou na pista destes dados]


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