terça-feira, 29 de novembro de 2016

SÓ NO FIM


Apesar de tudo os resultados da Rugby Vision foram bem melhores do que os  conseguidos pela utilização directa dos valores da World Rugby (realidade das coisas: o recurso aos dados da Rugby Vision durante a World Cup 2015 proporcionariam um ganho de 11% a um apostador que os tivesse utilizado)
O Desporto, e, portanto o Rugby, tem esta coisa extraordinária: o único algoritmo que permite previsões fiáveis é a equação de João Pinto - Prognósticos só no fim!
E, por isso, as previsões anteriormente aqui publicadas estão longe da realidade. Mas esse facto não retira qualquer importância ao conhecimento das métricas estatísticas que servem, essencialmente para perceber razões e áreas de fraqueza ou de força que têm de ser trabalhadas ou utilizadas para que a equipa se aproxime dos níveis que garantam eficácia e confiança - dois elementos importantes para a desejada construção da coesão da equipa.
A realidade é esta: é dentro do campo com os jogadores, mesmo com a enorme importância que têm os treinadores na preparação estratégica e táctica, que o jogo e portanto o resultado se constrói e se determina. Um segundo mais cedo ou mais tarde, um metro antes ou depois, um angulo mais aberto ou mais fechado de um pontapé ou de uma corrida fazem toda a diferença no resultado final. Tudo incógnitas antes de acontecerem e que dependem da leitura instantânea de cada jogador que, quando se comportam, como gosta de sublinhar Spiro Zavos, como membros de uma orquestra sem maestro mas capazes de sincronizar os naipes, conseguem coisas extraordinárias e inesquecíveis.
Quem iria adivinhar o disparate do ponta inglês Elliot Daly que a 5´ de jogo placou um adversário no ar, levando à sua própria expulsão e colocando a equipa a jogar um 14 contra 15? E isso marcou o jogo até ao fim: a Inglaterra a jogar a maior parte do tempo em inferioridade numérica e a Argentina - pareceu ao ser vista pela televisão - a esquecer-se do dito do lençol curto que, se tapa de um lado, destapa do outro. Não se viram os argentinos, por má alternância do seu jogo ao pé e jogo ao largo, a obrigar os ingleses a precaverem a profundidade ou a largura da sua defesa, abrindo assim um dos seus espaços - a sensação que ficou foi a de que os ingleses não foram totalmente postos à prova e tuveram tempo para se desmultiplicar. No entanto, deve referir-se que a equipa inglesa foi notável na forma como se foi adaptando às situações provocadas pelas relações diferentes de adversidade numérica que o jogo forneceu. Uma óptima demonstração de cultura táctica.
O melhor resultado deste sábado passado - para além da boa vitória de Gales num jogo pouco interessante mas onde parece ter finalmente desaparecido a Warrenball- terá sido o consreguido pela Irlanda. E o pior pela França.
A Irlanda deu de novo uma demonstração da qualidade técnica dos seus jogadores e do seu tradicional fighting spirit a fazer jus ao seu mote de "quatro regiões, uma só equipa". Com mais posse de bola (58% contra 42%), menos metros percorridos para as mesmas rupturas defensivas, a vitória da Irlanda traduz-se na coesão que permitiu uma maior disciplina e menor número de faltas (3 contra 13) e com a pressão necessária para arrancar 2 amarelos aos australianos. A vitória irlandesa abre mo róxióptimas expectativas para o próximo Seis Nações e chama, com os resultados conseguidos nesta janela de Novembro, a atenção para o facto, provavelmente inédito, de as duas Irlandas terem, no caso do Rugby, apenas uma equipa representativa, juntando ombro com ombro jogadores oriundos de ambientes culturais distintos mas capazes da união de combate. O que, como modelo, é único e matéria de reflexão.
A França foi desastrosa! Teve vantagens na grande maioria dos factores-críticos transformadores: 17 a 6 nas rupturas defensivas, mais metros percorridos e mais ultrapassagem de defensores, mais passes em carga e 93% de placagens efectivas contra 84% dos adversários. Mas no final a França perdeu 3-1 nos ensaios. Do lado da Nova Zelândia a vitória assentou numa notável recuperação da quantidade da posse de bola, passando de 39% da 1ª parte para 50% no final do jogo e com menor número de erros no jogo à mão (9 contra 20), portanto com uma maior eficácia. E um sentido de oportunidade devastador - um ensaio na primeira posse, uma intercepção a explorar a lentidão de um passe longo.  Apesar de se tratar de um último jogo de uma época arrasadora - os AllBlacks substituíram 707 internacionalizações sem que os resultados se ressentissem - tratou-se de mais uma demonstração das vantagens do domínio dos gestos básicos e do conceito de utilizar temporariamente uma camisola com a obrigação de a deixar melhor colocada.
Quanto aos franceses, melhorando aparentemente - de início pareciam mostrar-se capazes mas falharam na finalização por precipitação ou atraso no apoio ou ida ao chão a parar todo o movimento nos um, dois metros da linha onde tudo se decide. Mas deixaram, no passe de "chistera" (como gostam de o designar) do formação Baptiste Serin para o ensaio de Picamoles, um perfume de rebeldia e inventiva próximas da imagem de marca do french flair que urge repôr para mudar as cadeias de interesse de resultado minimo num campeonato distorcido pelo custo exagerado de cada equipa. A rapidez e o risco da decisão de Serin traduzem uma lição para o modelo a reinventar: movimento e criatividade. E então a França poderá voltar a encher os sonhos dos amadores da modalidade.


Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores