segunda-feira, 22 de julho de 2019

O PONTO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

O sabor amargo de um ponto de diferença marca o nosso final da noite de domingo. Durante boa parte do jogo a esperança de vitória final esteve connosco mas falhou-nos a prova decisiva da força directa.

Podíamos ter ganho? Podíamos!

Mas neste nível o desperdício, por menor que seja, pode fazer a diferença final. Porque neste nível os pormenores contam: nas formações-ordenadas, nos pontapés aos postes, nos passes desacertados, na espera pela bola no conforto da recepção parada, no atraso de um apoio convergente, na demora da recirculação da bola dando o tempo de reorganização ao adversário. Ou também na continuidade da sequência preparada sem a preocupação de adaptação ao que havia na frente. Tudo isto impediu Portugal de expressar as suas maiores capacidades no jogo de movimento, marcando os pontos que permitiriam a vitória. Mas, atenção! Esta equipa é formada por jogadores com menos de 20 anos e que se encontram ainda numa fase competitiva, embora avançada, de formação. E, para mais, têm hábitos dos campeonatos internos de muito baixa intensidade e onde, por não existirem estatísticas capazes, as equipas não sabem bem o grau de exigência a que se obrigam em comparação com a exigência que deveriam atingir. Tudo isto, em alturas decisivas do Alto Rendimento, tem peso e provoca erros e incapacidades de leitura e interpretação. Pior! no jogo mais colectivo que se conhece, o peso da organização e coesão da equipa perde-se quando as exigências ultrapassam os hábitos.

Mas não se devem recriminar os jogadores que fizeram, viu-se!, o melhor que podiam e sabiam. Tiveram falhas, tiveram. Cometeram erros, cometeram. Mas ultrapassaram as expectativas que lhes podiam ser colocadas. Jogaram o que puderam, procuraram a vitória até ao minuto final e mostraram uma atitude de grande dignidade. Podem, num direito que lhes pertence, manter a cabeça levantada e uma boa memória do campeonato conseguido.

Em dois ou três pontos tácticos e técnicos os japoneses mostraram-se superiores: no jogo no chão e no controlo da bola, na demonstração de uma maior capacidade técnica do seu cinco-da-frente que, assim e logo desde o impacto, garantia uma boa vantagem na conquista da bola e de terreno a que juntavam a acção unida dos seus oito elementos cuja preocupação, ao contrário dos jogadores portugueses, era sempre comum. Aliás as dificuldades sentidas nas formações-ordenadas pela equipa portuguesa foram uma permanente dor de cabeça a que se juntaram demasiadas faltas. Outro ponto dos japoneses que lhes garantiu a vantagem foi a capacidade de organização de mauls-dinâmicos com as consequências que se viram.

Mas a selecção portuguesa dos Sub-20, esteve quase lá.

Aparentemente o jogo fugiu-nos em cima do final e assim é mais doloroso, porque a culpa parece evidente. Mas não há qualquer culpa e houve competência japonesa que não desistiu de procurar a vitória usando e insistindo nos seus pontos fortes. O que significa coesão e confiança.

Enfim, um ponto de diferença que faz a tristeza do nosso agradecimento. Porque esta equipa portuguesa, pesem os erros de aflições, merece o nosso agradecimento pelo tipo de jogo que nos mostrou. E até pela clara demonstração que nos deixa sobre a distância a que se encontam os aspectos técnicos, tácticos e estratégicos do jogo a que nos habituamos internamente e que devem obrigar a pensar nos processos de como desenvolver a construção da qualidade do jogo português. Bem lido este jogo pode ser precioso na necessária aproximação ao mundo internacional que nos permite e de que necessitamos. Os exemplos estão lá, basta querer lê-los.

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