Estou de acordo com Lagisquet: o resultado deste Geórgia-Portugal deixou um gosto amargo-doce. Se um empate em casa de um adversário que estava qualificado na 12ª posição do ranking mundial é um bom resultado, ficou o amargo de boca — mais uma vez e embora se tenha conquistado 1 ponto de ranking correspondente a uma subida de 3 lugares, de 20º para 17º— de se ter deixado fugir a vitória.
Mas houve interferência grave do árbitro, Romain Poite, que prejudicou o resultado final com um erro inadmissível — aquilo que se designa por “incidente crítico” — ao assinalar um avant de Samuel Marques quando a bola lhe bateu apenas no peito — é só ver no vídeo como fez Supervisor do Árbitro do Jogo e que tem a mesma opinião — que motivou a formação ordenada (mal defendida, aliás — quem comanda os avançados? — de que resultou o ensaio do empate. Aliás o árbitro esteve mal, nomeadamente ao fechar os olhos a diversos foras-de-jogo georgianos. E também percebi mal aquela preocupação — fiquei com ideia que tinha, pela linguagem corporal, uma única direcção… — de avisar, por mais do que uma vez, o número de minutos que faltavam para o final. Pode ser que não, mas qué las hay, hay.
A este aspecto negativo ressalta outro, desta vez positivo: acabou-se o mito da fortaleza georgiana! Que são enormes. que são muito mais fortes, que nós não aguentamos com eles, que quebraremos mais tarde ou mais cedo… Não é verdade conforme já demonstrado neste post, as equipas equivalem-se na morfologia física. O que falta é a nossa adequação técnica e táctica.
E os Lobos podiam ter resolvido o jogo se adequassem as suas manobras às circunstâncias — a jogar longe uns dos outros, falharam passes sem sentido e deram a possibilidade à defesa de, sem grande esforço e não subindo muito rapidamente, deslizar para equilibrar — pelo contrário, o jogo próximo, vejam-se os irlandeses, permitindo uma jogo de passes com manobras e combinações, facilitando o apoio e a continuidade, encurta a defesa e é muito mais imprevisível, adequando-se bastante melhor às características dos jogadores portugueses. As estas dificuldades juntou-se um jogo-ao-pé de mau sentido táctico entregando demasiadas bolas grátis ao adversário — 31 pontapés segundo a RE, 25 segundo as minhas notas. E no jogo-ao-pé a viagem da bola na sua altura e no seu comprimento, tem que estar sincronizada com a corrida dos perseguidores para que não seja uma dádiva ao adversário. E passaram demasiadas vezes pelo chão, permitindo que a defesa adversária se reorganizasse. Isto sem falar no desperdício do campeão mundial de sub20 que, em vez de se decidir por um cadrage-debordement como terá aprendido na sua formação, entrou para dentro e, sem recorrer a um cruzamento, entregou-se à cobertura defensiva. E no final valeu a maturidade de Samuel Marques para impôr ordem num incomprensível excitamento que pretendia — correndo um risco absurdo dado o esforço dos últimos minutos — jogar uma penalidade nos 22 portugueses. E a defesa, colectiva e individual, também deixou algo a desejar com, de acordo com os números da Rugby Europe, 22 placagens falhadas embora tivessem defendido muito bem a linha-de-ensaio no final. E 11 faltas para penalidade também é entrega de bola e terreno ao adversário — o que é que passou pela cabeça do asa estreante para jogar a bola com a mão na formação-ordenada? Para ganhar é preciso disciplina, rigor e foco permanentes — colocando o colectivo em primeiro para que possa ser superior à soma das partes.
Tivemos bolas suficientes — contei 72 e a RE contou 12 turnovers favoráveis — mas desperdiçámos muito. Passamos poucas vezes a Linha da Vantagem e conseguimos poucas rupturas para o número de bolas disponíveis que tivemos (33% e apenas com 5 rupturas para 3 ensaios) E fomos muito para o chão — cerca de metade das vezes em que tivemos bolas disponíveis — muito mais na ideia de colisão em vez do jogo de passes para utilização dos intervalos. E dispusemos de bolas suficientes para conseguir um melhor resultado final. Com a vantagem de não termos a pressão do resultado a tolher os movimentos.