terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

A IRLANDA: MESMO QUE TREMA, NÃO CAI


Os jogos desta jornada tiveram uma curiosidade demonstrativa: as equipas derrotadas não tiveram menor posse de bola (Itália: 50%, Gales: 51%, Escócia: 55%). E, com excepção da França, a demonstrar que o rugby é um jogo que exige a conquista territorial. Ou seja, cada vez mais o rugby joga-se com avanço no terreno (a velha regra de Graham Henry: o rugby é uma corrida pela Linha-de-Vantagem), criando engodos que permitam a quebra de linha defensiva adversária quer seja na área central, quer nas áreas laterais.
Ao contrário do que se poderia pensar, o melhor jogo desta 3ª jornada do 6Nações foi o Itália-Irlanda que terminou com a vitória dos irlandeses por 34-20 com 24-17 ao intervalo. Apesar de ter sofrido 5 ensaios e apenas ter marcado 2, a Itália defendeu muito e bem. E se a Irlanda, com 100% dos seus rucks conquistados e a colocar a bola disponível em 2,88 segundos (o tempo mais rápido de toda a jornada), teve uma enorme dificuldade em tornar-se eficaz uma vez que a defesa italiana, subindo muito bem e defendendo com grande eficácia a linha-de-vantagem, não permitiu a exploração da rapidez de disponibilidade da bola. De facto a Itália surpreendeu muito positivamente e mostrou-se um quinze muito eficaz e com uma muito interessante capacidade colectiva. 
No Gales-Inglaterra os problemas contratuais que têm atingido os jogadores galeses a que se juntam as dificuldades que as suas equipas regionais têm demonstrado, desequilibraram o jogo em favor dos ingleses. E as dificuldades do lado galês — num país tradicionalmente “fabricante” de bons médios —podem ver-se logo na falta de qualidade demonstrada — por qualquer dos dois Williams que não mostraram as capacidades necessárias para que a vantagem da posse de bola (51%) se traduzisse eficazmente em pontos — 1 ensaio contra 3 dos ingleses. Verdade seja que nos 93% dos rucks conquistados, o valor médio de disponiblização da bola, sendo de 4,29 segundos (o pior do fim‑de‑semana), também não ajudou grande coisa à eficácia atacante. Tão pouco as indecisões de Gatland  na formação da equipa com as alterações que, obviamente, em nada garantem a sua coesão tão necessária a este desporto de combate… um problema sério: não parece haver jogadores de qualidade em número suficiente e Gatland, dedicado nos últimos anos a tarefas administrativas e organizativas do seu clube na Nova Zelândia, apenas parece ter o seu passado para justificar o regresso.
O França-Escócia foi um interessante jogo em que os franceses, com menos posse de bola (45%) e menos domínio territorial (39%) conseguiram marcar 4 ensaios contra 3 dos escoceses O que mostrou, pese o poderio escocês, uma boa organização defensiva francesa (87% de sucesso contra 82%) , permitindo apenas 7 quebras defensivas. E se a isto juntarmos uma vantagem média de 7 décimas de segundo na disponibilidade da bola para o lado escocês mais se nota a excelente influência de Shan Edwards na construção da organização defensiva dos “blues”. Principalmente na defesa em cima da linha-de-ensaio.
Este jogo disputou-se com 2/3 do seu tempo com as equipas reduzidas a 14 jogadores de cada lado por punição de expulsão (cartão vermelho) por placagens altas e perigosas. E claro que logo se começaram a ouvir as reclamações de que o jogo fica estragado, que os bilhetes são pagos e por bom preço não é para ver equipas reduzidas etc. e tal. Que se deveria fazer como na Nova Zelândia que permite o retorno de um outro jogador que não o jogador expulso, após vinte minutos de suspensão.  
Esta teses ignoram que quando um jogador é expulso do terreno-de-jogo não o foi por qualquer minudência. Foi-o porque cometeu uma falta grave que pôs em causa os princípios comportamentais acordados do jogo. E tanto assim é que a forma neozelandesa dos vinte minutos e como está já a acontecer no Super Rugby, voltou à primeira forma: jogador a quem o árbitro mostre um ”cartão vermelho” é expulso do jogo, sai do campo e ningém volta mais para o substitir.
Neste retorno apenas uma ligeira nuance: se um jogador fôr castigado com um “cartão amarelo” e portanto suspenso por 10 minutos o TMO — vídeo-árbitro — tem até 8 minutos desse tempo para, eventualmente, reanalizar a situação da falta e se considerar que o “amarelo” deve passar a “vermelho”, então o jogador em causa ficará suspenso por 20 minutos e, no final do tempo de suspensão, sem poder reentrar no jogo, poderá ser substituído por um outro jogador. Ou seja, se o “cartão vermelho” fôr mostrado pelo árbitro a expulsão é absoluta; se o árbitro mostrar o “cartão-amarelo” que passará a vermelho por intervenção do TMO, a suspensão, para a equipa, será de 20 minutos e o jogador expulso pode ser substituído após terminado o tempo de 20  minutos. Porquê este pormenor? Julgo que é uma experiência para diminuir o tempo de análise de vídeo. No caso de castigo por 2 “amarelos”, a entrada de um outro jogador — que não o castigado — pode fazer-se mas apenas depois de passarem 20 minutos sobre a amostragem do segundo “amarelo” — o que significará que a equipa do amarelado jogará meia-hora numericamente reduzida.
Mas, nesta época e no outro lado do mundo não haverá dúvidas — cartão vermelho inicial representa expulsão e saída do terreno-de-jogo sem substituição.

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