Não entendo as distracções que a World Rugby tem dado mostras na organização da competição que é um campeonato do mundo.
Primeiro, vejam-se os Grupos C e D, onde se juntam equipas da mesma região — da Europa, Portugal e Geórgia e da América Latina, Argentina e Chile, num óbvio convite ao jogo de interesses. É que não basta dizer-se que nós, no rugby, somos diferentes. É preciso mostrá-lo com toda a transparência.
Como é evidente e ficando o terceiro qualificado apurado para o Mundial da Austrália em 2027, a mais fraca das duas equipas em confronto tem todo o interesse em permitir que a mais forte se qualifique porque assim é eliminado um forte adversário no futuro apuramento. E se o empate Geórgia-Portugal retira qualquer dúvida sobre uma combinação, o Argentina-Chile que se disputará no próximo sábado pode provocar desconfianças — e as entidades que fiscalizam estas coisas de fixação de resultados ou de apostas já estão atentas. E só o facto de haver desconfianças é mau, muito mau, para a integridade do Rugby em particular e do Desporto em geral.
Todos conhecemos o conceito de que “à mulher de César não basta ser séria, deve parecer séria”. Pois ao Rugby também precisa de o parecer e não viver de frases feitas que são atiradas com alguma vaidade e pesporrência.
Por exemplo e por falta de cuidado, a França é nitidamente favorecida com um primeiro jogo 8 de Setembro e o último do seu grupo a 6 de Outubro, quase um mês depois — Portugal teve o seu primeiro jogo a 16 de Setembro e terá o último a 8 de Outubro… E sabe-se o que vale o descanso no peso de competições deste quilate.
Mas há pior: no regulamento de desempate, o 1º factor a considerar é o resultado entre as duas equipas empatadas — situação que estabelece o disparate do mesmo reultado contar para duas coisas diferentes mas cheias de importância qualificativa: conta para a classificação das equipas no grupo onde se inserem e, mais tarde e em caso de empate pontual, serve para defenir o melhor classificado entre as duas equipas. Como é óbvio existem outras formas de definir o desempate como acontece em Portugal e em outros países da primeira-linha do rugby internacional como a Inglaterra onde o desempate se faz pelo maior número de vitórias classificando assim primeiramente aquele que se mostrou mais eficaz, ou mais capaz, no conjunto do grupo.
E este processo, principalmente em grupos com número ímpar de equipas e em que uma delas acabará a sua participação mais cedo, pode provocar desconfianças de jogos de interesse. Já se sabe que a realização dos jogos de um mesmo grupo à mesma hora é, numa competição que se espalha por um mundo de espectadores, muito difícil e provoca diminuição de receitas televisivas. Seja, mas tomem-se os cuidados necessários com outros instrumentos.
Veja-se o que se pode passar no Grupo de Portugal com Fiji a jogar no dia anterior do Austrália-Portugal. Se Fiji e a Austrália conseguirem o mesmo número de pontos de classificação — quatro ou cinco se ponto de bónus — ficarão empatadas e Fiji terá o seu último jogo contra Portugal para garantir o acesso aos quartos-de-final. Mas as coisas não são tâo interessantes assim. Porque Fiji derrotou a Austrália e assim não precisa sequer de pontuar contra os Lobos para se qualificar. E pode ainda ser menos interessante uma vez que Fiji joga no dia anterior ao jogo entre portugueses e australianos. E sabendo-se do resultado pode dar-se o caso que a Austrália, por causa do 1º factor regulmentar, não tenha qualquer interesse no resultado com Portugal. O que não é decente numa competição com o nível de um campeonato do mundo. E sendo assim, com Fiji e Austrália pontualmente empatadas, o jogo entre Fiji e Portugal pode também transformar-se numa farsa… a Fiji basta aparecer em campo e até fazendo descansar os jogadores que melhor entender. E os espectadores, que pagaram viagens e caros bilhetes, são desrespeitados e desconsiderados. E os jogadores portugueses podem perder uma importante oportunidade de ganho de experiência.
Estes erros por falta de respeito, atenção e consideração não servem ao Rugby e ao seu desenvolvimento. Cito Pep Guardiola: “O desporto não é Desporto quando não existe relação entre esforço e recompensa. Não é Desporto se o sucesso é garantido ou se a derrota não importa.”