Os Primórdios. As receitas da IRB, ao que julgo, resultam principalmente das transmissões televisivas e outros direitos dos jogos – quase sempre de forma indirecta – realizados entre as equipas qualificadas nos 10 primeiros lugares do ranking mundial – 6 Nações, Tri-Nations e Mundiais, de onde lhe virá o grosso da capacidade financeira. Com essas receitas, a IRB alimenta o rugby mundial, nomeadamente os países emergentes como nós, comparticipando em deslocações, torneios, equipamento ou mesmo apoiando a presença de treinadores.
Acontece que à medida do desenvolvimento competitivo e dos interesses em jogo os fazedores de receita começaram a pretender uma maior participação com a consequente exigência de menor distribuição, assim traduzida: somos nós que fazemos receita, queremos pagar melhor a mais dos nossos jogadores – já no Mundial de França, Portugal não foi contemplado com qualquer prémio de presença, mesmo enchendo estádios…
E aí, os países emergentes – essa longa cauda de pesos mortos que, no entanto, servem para justificar o carácter global da IRB – percebendo a perda dos apoios financeiros decisivos para o seu desenvolvimento, iriam mostrar o seu desagrado. (À parte: nunca percebi, salvo pela notável política de dividir para reinar da IRB, porque é que não se criaram associações de interesse dos pequenos…)
Se melhor o pensaram, melhor o fizeram. Temos o SEVENS (então 7’s) e se o conseguirmos colocar nos Jogos Olímpicos, teremos algo valoroso para oferecer e assim sossegar a eventual irritação dos emergentes. Porquê o Sevens e não o XV, poder-se-á perguntar? A razão é fácil de perceber se tivermos em conta as questões económicas e financeiras: as grandes receitas realizam-se com os jogos de XV e deixar que esse retorno financeiro pudesse ser partilhado com o COI era ideia para NUNCA deixar avançar – daí que as propostas para que nos Jogos houvesse torneios de sub-23 (como foi proposto nomeadamente pelo representante europeu, Raul Martins) fossem enterradas à nascença.
O Sevens parecia ser uma óptima solução: desenrola-se em 2/3 dias, não assustando as organizações olímpicas; mantem as receitas do XV e a sua distribuição sob controlo da IRB; aumenta a visibilidade da modalidade; permite calar o rugby emergente pela doçaria proposta; e não abre qualquer brecha por onde, no futuro, pudessem entrar tentações de levar o XV aos Jogos.
E o problema para os países emergentes de verem os seus governos imporem – deixando o XV entregue a si próprio – apoios apenas para a variante era, na estratégia desenvolvida, um não-problema (serviria até para aumentar a apetência pelo bolo oferecido).
Feita a campanha – um bom trabalho de marketing, diga-se – e convencida a assembleia olímpica, o Sevens é dado como modalidade para os Jogos do Rio de Janeiro de 2016. Tudo ouro sobre azul...
...não fora um erro de avaliação por parte da IRB.
Um erro de avaliação. Tão contentes terão ficado com a descoberta das possibilidades proporcionadas pelo Sevens, olhando tão para si próprios – Sevens é o modelo Mundial, ponto! - que, esquecendo-se que quem manda nos Jogos Olímpicos é o Comité Olímpico Internacional, não souberam medir as consequências de ser também o COI a decidir no rugby olímpico.E decidiu assim e de imediato: fim do Campeonato do Mundo de Sevens e, porque o mundo olímpico é simétrico em género, aceitação de 12 equipas masculinas e 12 femininas – com a distribuição geográfica habitual.
Ou seja, do sonho de uma super prova que permitisse, mesmo no silêncio de um sorriso, o remate lapidar de que mais querem? já têm os Jogos Olímpicos, surgiu uma mão cheia de nada – 1 equipa pelo país organizador, 3 pela Europa e 2 por cada um dos outros continentes – Oceânia, Ásia, América e África. Doze!
E são estes os Jogos Olímpicos de Sevens que se perspectivam.
E Portugal, que caminho? Mesmo se, olimpicamente, as federações britânicas são representadas pela Grã-Bretanha (o que afasta, desde logo, dois adversários) o panorama não é risonho. Porque, tratando-se da variante simplificada de 7, diversos países de grande e superior cultura olímpica, nomeadamente nos desportos colectivos, irão fazer os investimentos necessários para se apresentarem nas provas de apuramento à altura da qualificação, dificultando, em muito e naturalmente, as nossas possibilidades de qualificação. O Sevens não tem a complexidade do XV para estruturar equipas internacionalmente capazes - veja-se o exemplo e a posição do Quénia (40º lugar no ranking de XV) e o primeiro ar de graça que a Rússia mostrou recentemente e que traduz um objectivo programa já em execução.
Presente envenenado?! Habituados como estamos a deixar que seja a sorte dos deuses a decidir e reduzidos à expectativa de um de dois lugares, como definir a estratégia que nos permita ter um mínimo de possibilidades de êxito?
No fundo, a entrada do Sevens para os Jogos Olímpicos não passa, muito provavelmente, de um presente envenenado. Por um lado porque vemos desaparecer o Campeonato do Mundo onde, dado o número de participantes e a relativa importância conferida pelos apoios dos países emergentes, teríamos normalmente lugar e a garantia da visibilidade necessária por boa figura; por outro, porque, tratando-se dos Jogos Olímpicos, existe um aumento de concorrência que a cultura olímpica de diversos países traduzirá, trazendo mais equipas, a curto prazo, para a ribalta da variante.
Um erro de avaliação. Tão contentes terão ficado com a descoberta das possibilidades proporcionadas pelo Sevens, olhando tão para si próprios – Sevens é o modelo Mundial, ponto! - que, esquecendo-se que quem manda nos Jogos Olímpicos é o Comité Olímpico Internacional, não souberam medir as consequências de ser também o COI a decidir no rugby olímpico.E decidiu assim e de imediato: fim do Campeonato do Mundo de Sevens e, porque o mundo olímpico é simétrico em género, aceitação de 12 equipas masculinas e 12 femininas – com a distribuição geográfica habitual.
Ou seja, do sonho de uma super prova que permitisse, mesmo no silêncio de um sorriso, o remate lapidar de que mais querem? já têm os Jogos Olímpicos, surgiu uma mão cheia de nada – 1 equipa pelo país organizador, 3 pela Europa e 2 por cada um dos outros continentes – Oceânia, Ásia, América e África. Doze!
E são estes os Jogos Olímpicos de Sevens que se perspectivam.
E Portugal, que caminho? Mesmo se, olimpicamente, as federações britânicas são representadas pela Grã-Bretanha (o que afasta, desde logo, dois adversários) o panorama não é risonho. Porque, tratando-se da variante simplificada de 7, diversos países de grande e superior cultura olímpica, nomeadamente nos desportos colectivos, irão fazer os investimentos necessários para se apresentarem nas provas de apuramento à altura da qualificação, dificultando, em muito e naturalmente, as nossas possibilidades de qualificação. O Sevens não tem a complexidade do XV para estruturar equipas internacionalmente capazes - veja-se o exemplo e a posição do Quénia (40º lugar no ranking de XV) e o primeiro ar de graça que a Rússia mostrou recentemente e que traduz um objectivo programa já em execução.
Presente envenenado?! Habituados como estamos a deixar que seja a sorte dos deuses a decidir e reduzidos à expectativa de um de dois lugares, como definir a estratégia que nos permita ter um mínimo de possibilidades de êxito?
No fundo, a entrada do Sevens para os Jogos Olímpicos não passa, muito provavelmente, de um presente envenenado. Por um lado porque vemos desaparecer o Campeonato do Mundo onde, dado o número de participantes e a relativa importância conferida pelos apoios dos países emergentes, teríamos normalmente lugar e a garantia da visibilidade necessária por boa figura; por outro, porque, tratando-se dos Jogos Olímpicos, existe um aumento de concorrência que a cultura olímpica de diversos países traduzirá, trazendo mais equipas, a curto prazo, para a ribalta da variante.
Neste enquadramento e com as dificuldades de desenvolvimento desportivo generalizado – e portanto também da particularidade rugby – que o país sempre mostrou, não vejo grandes hipóteses de êxito numa aposta em duas frentes. O que significa que, estando nós, portugueses, mais avançados do que outros países europeus – onde a prática de desportos colectivos é mais desenvolvida – numa modalidade mais complexa e onde o acesso ao alto nível se traduz em maiores dificuldades – falo do XV - a Portugal e à sua Federação não se mostra melhor caminho que apostar preferencialmente no rugby de XV e deixar o Sevens como modalidade residual. Porque qualquer tentativa para colocar o Sevens em condições de acesso às Olimpíadas significará, pelo enorme esforço financeiro, organizativo e competitivo, um decréscimo, por exaustão, na qualidade do XV. Porque andaremos atrás de duas a voar em vez de nos contentarmos com uma na mão.
De facto, não penso que o Sevens olímpico seja para nós. E não gostaria de ver o XV a ir cano abaixo...