Ao longo dos séculos a civilização construiu e estabeleceu diversos princípios comuns daquilo que hoje designámos por cidadania. Obrigando-nos, com eles vivemos e com eles conseguimos uma vida melhor, de respeito mútuo e maior harmonia, tentando garantir que os preconceitos não tomem conta do nosso quotidiano.
Um desses princípios de cidadania impõe-nos que não façamos justiça pelas próprias mãos.
Princípio que se aplica, naturalmente, ao desporto - a expressão civilizada do confronto - em geral e ao rugby em particular, cujos valores característicos assim o exigem. Nenhum jogador, passe-se o que se passar, está autorizado a fazer justiça pelas suas próprias mãos – para isso existe um árbitro e, depois, toda uma estrutura directiva – constituída por diversos órgãos institucionais – que deverá tratar do assunto de acordo com as normas e regras estabelecidas.
No recente Nova Zelândia-África do Sul, o segunda-linha sul-africano Bakkies Botta agrediu com um despropositado e desajustado golpe de cabeça a nuca do formação neozelandês Jimmy Cowan, pretendendo responder – impondo a justiça das suas próprias mãos – a um puxão de camisola. O árbitro não viu, o jogo continuou mas a televisão mostrou por diversas vezes a agressão. Dir-se-á – na distorsão típica da visão macho/marialva – que, pelo menos, valeu a pena: o outro ficou avisado… Para além da óbvia desproporcionalidade (cabeçada v. agarrar de camisola) é também óbvio o abuso e o nenhum respeito pelo espaço de confronto leal e de acordo com as regras que é o jogo. E não deve ficar impune.
Ficarei muito admirado que, dentro de dois ou três dias, não surja a notícia do castigo imposto pelas autoridades desportivas que superintendem ao Três Nações. De facto não pode valer a pena!