Durante o passado mês de Junho – na chamada janela de verão – dezassete das vinte equipas primeiras classificadas no ranking IRB estiveram em acção em diversos pontos do globo. Portugal que no início do mês estava em 20º lugar – desceu uma posição durante esse período – não participou em qualquer actividade de XV e dedicou-se ao seven’s.
Há anos atrás o torneio - Nations Cup - que envolve as selecções da segunda-linha europeia teve a sua primeira realização em Lisboa. Por razões que desconheço deixámos fugir o nosso posicionamento. Erro de perspectiva ou azar puro e simples – quem manda não quis saber de nós? Deixando de fazer parte do grupo, deixamos fugir uma oportunidade. Que dificilmente se repetirá mas que os nossos adversários directos, na Europa e nas qualificações para os Mundiais, aproveitam, jogando, ganhando experiência, aproximando-se do primeiro grupo... e afastando-se de nós que... jogávamos seven’s.
Ao certo, ao certo, não percebo bem qual a estratégia seguida para garantir um posicionamento adequado no XV. Lá para Fevereiro veremos eventuais e directas consequências. Na janela de Novembro começaremos a percebê-las.
Foi só no final de Maio e princípio de Junho que terminaram os campeonatos de França e de Inglaterra – e também o Super 14 – e se podemos admitir que se trata de uma época demasiado comprida – os maus resultados obtidos no Hemisfério Sul podem ter nisto parte da sua causa – tenho alguma dificuldade em perceber as vantagens estratégicas da recente redução proposta pela direcção da FPR. Não conhecendo explicações, só posso estranhar a proposta publicada no site: compreendo mal um campeonato que se inicia na terceira semana de Setembro e que termina a sua fase regular a 19 de Dezembro com a final marcada para o terceiro fim-de-semana de Janeiro. Setembro a Janeiro. Depois umas selecções regionais e uma taça Super Bock de que desconheço os moldes e com fecho para a maioria dos jogadores na segunda semana de Maio e espaço para actividades da selecção nacional na janela de Junho.
Nas aparências até pode parecer bem: redução temporal da época, libertação de espaço para os compromissos internacionais e realização do campeonato antes da disputa do Europeu B (possibilitando uma melhor preparação dos jogadores, é o chavão usual…). De facto, os internacionais – de acordo com o calendário apresentado - não participarão em três jornadas, pelo menos, do campeonato nacional (continuando embora, o nacional a ser a prova mais importante da época). Mas terão quase dois meses de intervalo até aos compromissos internacionais - se existirem - de Junho... Então para quê a pressa? Intencional ou não, só pode servir para uma causa: permitir maior recurso a jogadores estrangeiros por diminuição do tempo de despesas numa preocupação igualitária de oportunidades, proporcionando a versão económica do equilíbrio competitivo. E neste falso equilíbrio competitivo de desequilibrado calendário, pergunta-se: que vantagens para o desenvolvimento e competitividade do rugby português?
E se este calendário propõe mais do que duvidosos benefícios - sem que se percebam hipóteses sustentáveis de melhoria competitiva - ainda se acrescentam preocupações sobre as consequências da data do seu início. Começando a meio de Setembro o campeonato, os clubes serão obrigados a iniciar os seus treinos a 1 de Agosto – seis semanas antes do início da principal competição é o mínimo espaço de tempo necessário para dar as consistências necessárias a uma equipa competitiva. Pergunto: é possível contar com jogadores amadores para começar treinos no início de Agosto? Porque, se não for, a factura da má preparação, tarde ou cedo, se pagará. E o campeonato tenderá para pior nível.