quarta-feira, 16 de março de 2011

T-CUP

“Podemos deixar que este facto nos perturbe ou podemos aprender com ele”
in Red Dragon (2002, Bret Ratnel) fala de Jack Crawford (Harvey Keitel)

A sensação que fica de uma olhadela pelos resultados da selecção portuguesa no pós-Mundial de 2007 é a de que se dá mal com os jogos e adversários a quem deveria ganhar. Conseguiu excelentes resultados onde não se esperava, empatando em Tiblissi, ganhando em Bucareste para perder o ouro em Lisboa. E se já este ano, em Sotchi, venceu os russos, deixou-se apanhar no seu favoritismo pelos espanhóis. Parece, e pareceu muitas vezes, que a pressão de jogar em casa – em frente aos seus, com a obrigação de não os deixar mal – pesava toneladas para se tornarem mais soltos onde nada lhes era exigido. E se isso pode ser normal nas fases de crescimento de uma equipa, há um dia em que tudo tem que acabar: é a idade adulta.

O treinador campeão do mundo Clive Woodward encontrou – para definir com os seus jogadores a atitude pretendida – a mnemónica ideal: T-Cup (chávena de chá). A mnemónica tem ainda a vantagem de falar de uma coisa simples que se usa com facilidade e com a qual, principalmente os ingleses, convivem quotidianamente. T-Cup significa a decisiva atitude competitiva de Thinking Correctly Under Pressure* (pensar correctamente sob pressão) e que traduz a capacidade dos grandes campeões de enfrentarem os grandes e decisivos momentos sem se deixarem absorver negativamente pela envolvente. Coisa que, ao que aparentámos, não somos capazes de interiorizar. Que significa isto? Falta de treino competitivo para o discernimento sob pressão?

Como é que se pode preparar jogadores para pensarem bem nas mais diversas situações de jogo? Aumentando o nível e a complexidade dos treinos, aumentando o nível da competição onde estejam presentes, é a resposta possível.

Reconhecendo que o corolário de Murphy – “quando a pressão aumenta o disparate acontece” – é uma realidade, os campeões retornam ao seu elevado nível subordinando-se a trabalhar sempre para melhorar sempre; a não inventar; a voltar aos gestos, técnicos e tácticos, básicos. Os outros não.

As derrotas desta época foram de borla – não custaram idas ao Mundial ou descidas no ranking. O que significa que a lição dos erros, a aprendizagem necessária, pode ser feita sem grandes custos ou remorsos. O momento constitui assim uma oportunidade que não surgirá muitas vezes. O melhor é aproveitá-la: pensando o jogo e acordando nos caminhos necessários à prestação desportiva de alto nível.

O próximo jogo com a Ucrânia apresenta-se como uma boa oportunidade para conseguir, retornando com a humildade necessária às bases estratégicas, tácticas e técnicas que possibilitem reencontrar o sentido colectivo e solidário que define uma equipa vencedora.

*a partir de Yehuda Shinar

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