domingo, 28 de fevereiro de 2010

UMA ABÁDA

Portugal fez o que lhe competia: deu uma abáda à Alemanha - 69 pontos, nove ensaios e sem pontos sofridos.

Pode ser que agora os senhores da IRB percebam que a política desportiva assente em valores marketing não resulta. Apesar do apoio da IRB, a Alemanha não mostra quaisquer progressos: pura e simplesmente não percebem para que lado a bola deve andar. E é escusado falar em pretensas boas perspectivas de futuro porque - não tendo ninguém estado lá (nem mesmo os iluminadíssimos dirigentes internacionais) - só o presente conta e, esse, é abaixo do nível crítico: a Alemanha não tem categoria para estar onde a colocaram.

A ideia do desenvolvimento desportivo com base numa dimensão de mercado pode parecer muito interessante nos manuais, mas não garante resultados na vida real. Pode parecer ... mas é um engano que custará caro ao desenvolvimento competitivo da modalidade.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

GALES-FRANÇA

A pressão paga dividendos. A prova? A vitória da França sobre Gales: dois ensaios em intercepções provocadas pela organizada subida defensiva – a que não foi alheia a preocupação galesa de fazer chegar a bola aos seus pontas a qualquer preço. Mas os franceses também sabiam isso – é para isso que os vídeos servem – e montaram o esquema defensivo adequado. E assim ganharam.
Mas Gales jogou mal: de borla, entregou a primeira parte, dando a possibilidade ao adversário de marcar 20 pontos. Por atrapalhações sucessivas, erros infantis ou incapacidade táctica, deitou fora, na segunda-parte, muito do jogo criado. E uma falta muito estúpida – uma constante nos últimos tempos galeses – deitou, aos 70’ e em fase de recuperação, tudo a perder.
Duas lições. A primeira: nos jogos internacionais qualquer momento de descontracção ou desconcentração – não é a mesma coisa nem têm a mesma origem – levam ao pagamento de juros altíssimos. A segunda: o domínio do passe em cargaoff-load – é, como se viu, uma arma técnica decisiva para ultrapassar defesas e continuar o jogo penetrante.

Última observação: Gales desenvolveu muito boas sequências, resultando daí algumas boas penetrações provenientes da exploração de intervalos criados pelo movimento da bola e jogadores; não terem sido mais eficazes resulta apenas do facto de Gales não ter mostrado capacidade para montar o apoio ao portador da bola no jogo entre-linhas.
Já se sabe: com o jogo defensivo que hoje é moeda corrente nas equipas de qualidade internacional saber jogar entre-linhas – montando o apoio ao portador e garantindo a continuidade do movimento – é o factor que irá fazer a diferença no resultado final, definindo vencedores e derrotados.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ALEMANHA-PORTUGAL

A Alemanha é a equipa que mais ensaios encaixou na Taça Europeia das Nações. Em 2009, em casa, sofreu, em média, mais de 5 ensaios – 16 ensaios em 3 jogos. Em 2010, jogando fora contra a Roménia e Geórgia sofreu 22 ensaios – onze em cada jogo.

Portugal – mais do que favorito – faz figura de vencedor antecipado neste jogo. Sabendo-se que este papel, em desporto, não existe, a teórica vantagem significa apenas que o foco da equipa portuguesa deverá centrar-se no objectivo de marcar ensaios – mais de cinco – ganhando, na eficácia encontrada, a confiança necessária para encarar os dois jogos seguintes – e decisivos – com claro propósito de vitória.

Uma vitória por larga margem é o que se pede aos jogadores portugueses. Para que o caminho para a Nova Zelândia continue em aberto.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CONCORRÊNCIA: COLABORAÇÃO E COMPETIÇÃO

O propósito competitivo de uma equipa desportiva é o de atingir os objectivos que definiu para si própria: aos atletas cabe prepararem-se técnica, táctica e fisicamente para tal, aos treinadores cabe a criação das condições necessárias para que a expressão das qualidades, características e capacidades dos jogadores possa atingir os níveis de eficácia desejados e desejáveis; aos directores cabe o papel de garantir a organização externa à equipa – a envolvente – de forma a facilitar a tarefa dos outros dois elementos.
Naturalmente que a existência de um grupo alargado – superior às necessidades imediatas da equipa que entra em campo – equilibrado e de qualidade técnica e táctica elevadas, é muito caminho andado para o sucesso dos resultados desportivos a conseguir.


E aqui entra a concorrência interna. Entre jogadores – companheiros de equipa – por um mesmo lugar, dando-se assim início a um processo complexo de colaboração e competição – colaboração interna contra a concorrência externa, permitindo a afirmação da equipa na competição desportiva em que participa; competição interna entre os jogadores, permitindo a superação e a construção de uma equipa capaz, competitiva e adaptável às circunstâncias da competição.
O papel do treinador, neste quadro da realidade colaboração/competição, é o de construir e constituir a equipa que melhor responderá às necessidades competitivas próximas, médias ou, eventualmente, de longo prazo. Isto é: escolher os melhores para cada jogo e de acordo com os problemas que pensa que a equipa terá de resolver ou ultrapassar. E a solução resulta do conhecimento que terá dos seus jogadores manifestado nessa concorrência interna que os jogadores vão desenvolvendo entre si.

E desde que as regras sejam conhecidas e utilizadas com clareza, os problemas que possam surgir – ninguém que seja desportivamente competitivo gosta de ficar de fora – serão menores e ultrapassáveis pelo nível de construção do espírito de equipa até aí conseguido.
O que significa que, num desporto colectivo, é necessário ter sempre presente – jogadores, treinadores, dirigente e adeptos - que A EQUIPA ESTÁ PRIMEIRO!

Dadas as oportunidades aos jogadores – normalmente em treinos – e estabelecido o seu “escalonamento” interno e definidas as suas características específicas, o treinador tem a possibilidade de construir – caso a caso – a melhor equipa possível para o próximo jogo.

No caso das selecções nacionais, mantendo os mesmos princípios, lida-se com um campo de recrutamento muito superior. Que, embora as competições internas o reduzam, tem como base os princípios de: a) serem detentores da cidadania portuguesa; b) estarem federados na modalidade; c) e, claro!, terem categoria internacional. O que significa que o local onde os potenciais escolhidos possam jogar é indiferente – seja em Portugal, na Europa, nas Américas, na China. Seja onde for.

E compete – excepto se algo em contrário tiver sido decidido pelas instâncias dirigentes da modalidade - ao seleccionador nacional procurar, neste enorme campo de recrutamento, os jogadores que melhor possam ajudar a atingir os objectivos em questão - que, no caso português, é a classificação para o Mundial de 2011. Aumentando assim a concorrência no seio da equipa para, tendo garantido uma essencial colaboração interna, poder ultrapassar a concorrência externa. Ou seja: conseguir vitórias.

Esta complexidade da colaboração/competição e a prevalência de um dos seus termos consoante as circunstâncias em que a equipa se encontra é uma constante dos desportos colectivos. Percebê-la e torná-la num hábito, pelo que diminui de pressão e de sentimento de propriedade, só pode melhorar as capacidades competitivas do que tem precedência: A EQUIPA.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

EVIDÊNCIAS

É óbvio que os jogos internacionais se realizam num ambiente de pressão superior. Que a necessidade de preparar os jogadores para este nível exige a criação de hábitos que lhes possibilitem encarar, sem receios, todo este tipo de situações, também não deixa dúvidas. Que tudo isto passa, claramente, por melhores, mais equilibradas e mais elevadas condições competitivas dos campeonatos internos, é elementar.
A existência destas condições para bons resultados internacionais é de uma evidência tal que dói tê-las que discutir ou explicar.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

OPORTUNIDADE DEITADA FORA

Foto de Miguel Rodrigues
O adágio popular “água mole em pedra dura, tanto dá até que fura” não se aplica ao jogo de rugby. No rugby, conforme mandam os Princípios Fundamentais, é preciso COMUNICAR e VARIAR. Ou seja: ter sempre presente que a inteligência, em vez da força bruta, dá melhores resultados.
E foi isso que Portugal não soube utilizar nos minutos finais do jogo de ontem contra a Geórgia. Procurou a entrada em força, numa série de pick and go de canal 1 e esqueceu-se – por leitura negligente – de verificar o que se passava na envolvente. E, por duas vezes do lado esquerdo e, pelo menos uma do lado direito, esteve criada a superioridade numérica ou o espaço necessário para explorar procurando aí o ensaio da vitória. Falhou a leitura. Falhou a inteligência da situação cara a Pierre Villepreux. A França, num superior patamar de cultura táctica, mostrou, minutos antes em Paris e no segundo ensaio contra a Irlanda, como se resolve uma situação idêntica – mesmo se com pack superior.

Falta de experiência que a carência de hábitos constantes de pressão competitiva traduz na dificuldade da capacidade de decisão. Daí ao erro, ao desperdício, de um momento demonstrativo de enorme capacidade de construção, foi um passo. E é aqui, no domínio destes momentos e não na sorte disto ou daquilo, que se ganham ou perdem jogos internacionais ou caminhadas nas qualificações.

Já se sabe: sob pressão, o resultado da Lei de Murphy tende a constante. Excepto se houver o treino suficiente que o possa evitar.
A falha – ou mesmo a inexistência – de decisão na enorme fase dos últimos minutos do jogo, os quatro pontapés desperdiçados – note-se Gardener: “Estes jogos são complicados, é uma pressão maior e infelizmente acabei por não ser tão eficaz.” – são, ambos, resultado da falta de hábitos de jogar sob pressão. E o actual campeonato, com metade dos jogos a brincar, não dará nunca a experiência necessária para enfrentar estes jogos sem tremores, não havendo talento de jogadores ou qualidade de treinadores que consigam ultrapassar este estágio. Porque a transformação de oportunidades em pontos exige, para além da capacidade técnica, o domínio da cultura táctica só possível - como já se percebeu por esse mundo rugbístico fora - com a constante habituação ao nível competitivo mais elevado.

E o irritante é isto: deita-se fora, por não se tomarem decisões que se fundamentem nos princípios da competição desportiva, uma oportunidade soberana e perde-se assim a possibilidade do acesso directo ao Mundial. Ficando a desculpa do azar como justificação para as inércias e incompetências…

O ensaio português mostrou como se ataca uma defesa como a georgiana e quando se joga atrás de um pack a recuar – deixar subir a defesa sem grande encurtamento de espaço dos dois primeiros da linha e aparecimento em velocidade dos restantes três-quartos na zona da fronteira do canal 2/3. Porque não se repetiu mais? Porque não se jogou mais por este forte sobre aquele fraco georgiano. Porque eles não deixaram? Duvido…

Parece idiota dizer-se que os avançados fizeram um grande jogo – pese embora o erro da gulodice final - quando a equipa perdeu contra outra do mesmo campeonato. Mas fizeram… até onde lhes foi possível numa diferença que é notória e que tem consequências técnicas e de experiência – Fernandes, jogando na III divisão francesa, tinha como adversário directo um pilar da I divisão também francesa; a nossa 1ª linha tinha na frente uma 1ª linha do campeonato principal de França. E não se entregaram.

A velha máxima do rugby de que “a superioridade nas formações ordenadas traduz-se em vantagens no resto do jogo” mostrou-se verdadeira e os avançados portugueses tiveram uma tarde de tremenda luta e de notável atitude combativa em todas as fases do jogo. Recuaram vezes sem conta e voltaram sempre à carga. Generosos. Exemplares. Foi por isso que, enquanto membro do júri do Super Lobo – prémio para o melhor jogador da selecção portuguesa – votei a favor do bloco de avançados. Sem individualidades. Assim: Bloco de Avançados!

Não existe justiça nos resultados desportivos. Se assim não fosse a Geórgia teria perdido e bem. Porquê? Porque uma equipa que não sabe traduzir em pontos a enorme superioridade conseguida nos avançados, não merece ganhar.

Ao ver jogar equipas dos nossos principais adversários – Geórgia, Rússia e Roménia – ficamos sempre com a sensação que somos melhores a interpretar o jogo do Rugby. O que tem algum fundo de verdade. Mas com um enorme débito: falta-nos CONSISTÊNCIA para traduzir em vitórias as eventuais vantagens. O que só é possível com outra competição interna.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

PORTUGAL PODE GANHAR? PODE

A tarefa do XV de Portugal na Taça Europeia das Nações não é fácil. Para dois lugares de apuramento directo, três países com qualificação superior no ranking da IRB. O que significa que existem três equipas com maior sustentabilidade desportiva demonstrada ao longo do tempo do que a selecção portuguesa. Ou seja: que têm maior probabilidade de ganhar os jogos contra Portugal.
É o que acontece com a Geórgia, classificada em 18º lugar no ranking e com 66,85 pontos – Portugal está em 21º e com 59,72.

Significa isto que Portugal não pode ganhar o jogo de amanhã? Não, Portugal pode ganhar o jogo. Desde que seja capaz de anular os pontos fortes georgianos e consiga atacar os seus fracos.
Para chegar à vitória os jogadores portugueses têm que entrar em campo com uma firmeza de carácter tal que se traduza numa atitude de combate e cooperação enorme. No combate não cedendo um palmo, na cooperação não perdendo uma oportunidade.
Para chegar à vitória não basta não querer perder; é preciso procurar ganhar. Não desperdiçando jogo, correndo riscos necessariamente calculados, atacando espaços, surpreendendo ou armadilhando movimentos. O que significa procurar mais jogo do que o mero – e confortável – jogo ao pé.

Já se sabe, o bloco de avançados georgiano é poderoso. Mas as suas linhas atrasadas nem surpreendem, nem são muito capazes de reagir e adaptar-se ao movimento atacante. O que implica que os portugueses sejam capazes de utilizar as suas bolas conquistadas – mesmo que se tenham que adaptar a recebê-las no desconforto do recuo. E aqui pode estar a chave de uma vitória: saber transformar, através de um jogo de linhas atrasadas com dois pivots (abertura e 1º centro), o recuo inicial numa plataforma atacante pelo lançamento, no espaço e em velocidade, do 2º centro e elementos do três-de-trás. Para o que é necessário colocação diferente dos três-quartos: dois primeiros em linha e próximos e o terceiro elemento a aparecer lançado, recebendo a bola sobre um defensor já fixado pela sua própria corrida. E depois variar: atacando-os e saltando se “eles” ficam; jogando ao pé em cruzamento se eles sobem – rasteiro se ao nível do centro do terreno; de balão se desde o canal 1. Evitando assim o contacto físico constante e permitindo aos avançados portugueses a única preocupação de “aguentar” o bloco adversário.

Podemos ganhar à Geórgia? Podemos, mas não jogando a mesma coisa.

FRANÇA-IRLANDA

O França-Irlanda do 6Nações do próximo sábado está a criar enorme expectativa. As duas melhores parelhas de centros da Europa vão confrontar-se: Jauzion/Bastareaud contra D’Arcy/O’Driscoll. Só isto valeria a deslocação a Paris se houvesse garantia de bilhete. Assim, valerá a caixa mágica da televisão.

O par irlandês terá a vantagem do serviço do abertura O’Gara; os franceses, do poder do seu bloco avançado. Dos dois lados uma enorme capacidade de utilização das bolas que lhes sejam entregues. Os off-load de Jauzion, o poder de Bastareaud, a imprevisibilidade de D’Arcy e o sentido de oportunidade de O'Driscoll, abrirão espaços suficientes de penetração para um interessante desenvolvimento do jogo entre-linhas – e será curioso observar a organização de cada equipa para os contrariar.
Em defesa, a experiência conjunta do par irlandês dará maiores garantias. Aliás Stuart Barnes – articulista e comentador do Times – dá, numa interessante observação, Bastareaud como o elo fraco da defesa francesa. Porquê? Porque, saindo rápido, adiantando-se numa espécie de blitz, abrirá, no desalinhamento provocado, caminho para a entrada e ultrapassagem da linha de defesa pelo ponta do lado fechado, principalmente quando for Bowe. A ver.

Sendo o jogo em Paris, a França é a favorita. Mas os irlandeses – tendo há muito abandonado o espírito do risco libertador que fazia do final dos seus jogos monumentos ao movimento na procura de um volte–face sempre tardio – reservam o fighting spirit para todos os momentos do jogo e são capazes de, em qualquer altura, ultrapassar qualquer defesa. Veremos que serviço lhes será fornecido pelos seus avançados na luta tremenda que travarão com os seus adversários directos.

Para quem gosta de rugby, a transmissão televisiva da Sport TV (não havendo acesso ao directo ou dando prioridade ao Portugal-Geórgia) é imperdível.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

6 NAÇÕES

A olho nu percebe-se, desde logo, uma enorme diferença entre o 6 Nações e a Taça Europeia das Nações: a qualidade dos relvados. No primeiro, campos sem lama a propor um jogo completo; no segundo, campos ou incapazes de suportar um jogo ou encharcados em lama até dizer basta. O que significa receitas. De que é ilustrativo os estádios cheios de um lado e a meia dúzia de mirones que se podem adivinhar a juntar aos “internos” da modalidade do outro.
E é claro, também há uma enorme diferença na capacidade de produção de jogo. Mesmo se esta 1ª jornada do 6 Nações não foi nada de especial. Mas houve momentos interessantes ou significativos.

O primeiro ensaio da Irlanda é um tratado: salto de O’Hara com um passe notável para o espaço vazio – numa ideia táctica próxima dos quarter backs americanos – onde apareceu, lançadíssimo, o ponta; reagrupamento, saída de bola rápida, ataque ao intervalo, defesa a ficar curta e dois jogadores soltos no corredor de 15 metros para um ensaio em beleza do nº8.
No Inglaterra-Gales, a estupidez do base galês Alun Wyn Jones – uma rasteirita de esperteza saloia – derrotou definitivamente a equipa. Durante os dez minutos que esteve fora por amarelo, os ingleses marcaram 17 pontos. Dezassete pontos! De nada valendo a excelente organização defensiva que Gales mostrava. Tão pouco o desespero dos ataques finais. Mais do que jogou, a Inglaterra agradeceu.
A França apareceu com um bloco de avançados de grande poder – já tinha dado indícios contra a África do Sul. Mas não sei se os seus três-quartos chegarão para desequilibrar o jogo frente a equipas que, ao contrário da Escócia, consigam reduzir o espaço de manobra da 3ª linha francesa. Mesmo quando Bastareaud se aproxima de um Umaga europeu.
A Itália e a Escócia são as duas equipas fracas deste conjunto, a Irlanda, porventura, a mais equilibrada, Inglaterra e Gales a dependerem muito de dias sim de alguns dos seus jogadores. Quanto à França ver-se-á no próximo sábado – precisamente contra a Irlanda – a verdadeira massa de que é feita.

Com maior ou menor qualidade, o 6 Nações não perde o seu encanto. Os estádios continuarão cheios e os jornais e televisões continuarão a reportar os acontecimentos. E a Sport TV, também: para português ver.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

DERROTA NA RÚSSIA

Chovia, estavam cerca de zero graus de temperatura e o campo estava uma lástima. Situação suficiente para fazer desanimar qualquer um. Mas – ao contrário de que se poderia esperar – Portugal esteve muito bem nas fases estáticas e não foi ultrapassado pelo maul dinâmico dos russos. Quer dizer: estivemos bem onde julgávamos poder ter problemas, equilibramos a luta nos sectores onde, teoricamente, teríamos maiores dificuldades. Ultrapassando frio, chuva e lama.
Defendemos bem – com excepção do momento que ditou o ensaio do formação russo. Lutamos muito. Corajosamente. Com excelente atitude.
Fizemos um bom combate defensivo. Então, porque perdemos? O que falhou?


Falhou a capacidade de explorar o ataque.
Tivemos duas oportunidades: a primeira, ainda com 0-0, e depois de uma excelente recuperação numa situação de evidente superioridade numérica, deitámos a bola fora, chutando-a; a segunda, explorando muito bem a colocação subida da defesa – porque a linha de vantagem foi atacada – com um passe ao pé que deu ensaio. Mas não fizemos ou tentamos mais. Não criámos outras. Porque chovia muito? Em parte, mas principalmente por falta de hábito.
O nosso campeonato vale, competitivamente, nada. É uma nulidade onde as oportunidades surgem umas atrás das outras, criando um espírito de pouco rigor. Possibilitando uma espécie de experimentalismo permanente; a ver se dá, dir-se-ia.

Não podemos passar a vida a pedir heroísmo, espírito de sacrifício, capacidade de luta até à morte pela camisola – enfim, aquelas coisas todas que permitem dizer no fim com o ar de comiseração de quem nada mais tem para pedir: bateram-se muito bem. Porque a atitude, o empenho, só por si, não dão vitórias e não chegam para equipas que pretendem estar presentes no Campeonato do Mundo. Dito de outro modo: de equipas ou jogadores que se batem bem, estará o inferno cheio – o paraíso das vitórias, pelo contrário, tem muito poucos inquilinos. Porque há uma exigência de método.
Para que os jogadores possam resolver os problemas que enfrentam a este nível, precisam de ter experiência das situações, estar habituados a reconhecer e utilizar o número reduzido de oportunidades que caracteriza a competição equilibrada e de bom nível. Perceber a oportunidade e (re)agir colectivamente com a eficácia necessária a não a deixar escapar é a marca das boas equipas.


Para atingir essas capacidades, para ganhar internacionalmente, é preciso disputar um bom campeonato – que esteja tão próximo quanto possível do nível internacional. Com aquilo que os internacionais portugueses têm deixado em campo vale a pena perguntar: e se tivessem um campeonato decente, até onde poderiam ir?...
…E pensar que anda por aí gente a pretender impor um campeonato pior.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

RUSSIA-PORTUGAL

Não se esperam facilidades para o XV de Portugal no jogo de hoje contra a Rússia. A vitória abrindo, para uns ou para outros, uma boa estrada para a Nova Zelândia não deixará de pesar no desenrolar do jogo.
Para Portugal, que entregou pontos inesperados na primeira volta em Lisboa, uma vitória significará um aumento claro das perspectivas de apuramento directo.

Dada a situação classificativa actual, Portugal terá que tirar vantagem de correr riscos. Capaz de defender bem, o quinze nacional precisa de saber utilizar as bolas que tiver disponíveis com um jogo inteligente e explorando o fraco adversário – a defesa dos intervalos. Na verdade, os russos, tendo uma maior capacidade no jogo estático, sentem-se suficientemente confortáveis no jogo de contacto próximo para o utilizarem de forma constante. O que significa que, defensivamente, os avançados portugueses terão que encontrar a capacidade necessária para contrariar as tentativas russas de maul dinâmico – e aqui estará, admitindo que haverá atitude suficiente nas formações ordenadas, o principal problema defensivo a resolver. Mas não têm as mesmas capacidades ou confiança no jogo ao largo – atacante ou defensivo.

Se – com a entrada do novo português Joseph Gardener – podemos esperar uma ocupação territorial que nos garanta espaço nas costas (caso o jogo ao pé russo não se revelar mais acutilante do que aquilo que lhe conhecemos) para possibilitar o ataque com mais à-vontade, há que tirar todo o partido desta situação.

No jogo contra os England Students o ensaio de Aguilar mostrou o que se deve fazer para tornar a posse da bola eficaz: conquista da bola, passe para um abertura a atacar a linha de vantagem, um jogador, Fernandes, a penetrar no intervalo defensivo, Aguilar a aparecer lançado em corrida já dentro da defesa que, tendo de abrandar para tentar organizar uma cortina defensiva viu-se, com a dúvida aumentada pela presença do ponta Frederico Oliveira – sempre colocado em apoio e com linhas de passe abertas – ultrapassada em velocidade para o melhor ensaio de todos os jogos de Portugal nesta época.

A simplicidade da aplicação dos Princípios Fundamentais Avançar sempre!, apoio, velocidade e pressão garantiram o espaço necessário para evitar placagens. Se os portugueses o tiverem percebido e o repetirem hoje, a vitória pode acontecer. Perder é perder – tanto fazendo, neste caso, por muitos ou poucos; para ganhar é preciso fazer da utilização de cada bola um problema para os russos, tirando-os do seu espaço de conforto e obrigando-os a jogar em terrenos de erro. E isso só se consegue correndo riscos.
Logo veremos do que seremos capazes na transmissão directa – possível pela compensação da cedência de sinal feita no jogo da época passada – que a Sport TV realizará (Sporttv3, 12:30).

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O RUGBY: DA ESTRATÉGIA À TÁCTICA

O RUGBY é um jogo colectivo de COMBATE ORGANIZADO em que ATACAR significa AVANÇAR SEMPRE com o APOIO suficiente para garantir a CONTINUIDADE do movimento REAGINDO à organização defensiva, COMUNICANDO para garantir uma visão global, VARIANDO para surpreender e com a VELOCIDADE adequada para produzir a PRESSÃO necessária à criação dos desequilíbrios capazes de DESORGANIZAR a oposição e permitir MARCAR PONTOS.

4. PRESSIONAR

Pressionar tem como objectivo diminuir espaço e tempo de decisão, limitando as opções do adversário. Quanto mais se diminui o espaço e o tempo de acção adversária mais fácil se torna obrigá-lo a cometer erros e perder o controlo quer da bola, quer do terreno.
Impôr pressão à equipa adversária é retirar-lhe iniciativa, é obrigá-la a concentrar jogadores num pequeno espaço de terreno, é obrigá-la a sair da sua zona de conforto. É colocar-lhe problemas sem lhe dar tempo para encontrar soluções.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

3.4 VELOCIDADE

Entre dois jogadores idênticos, entre duas equipas com a mesma força, ganham aqueles que tiverem mais velocidade. Fazer bem e depressa, não é fácil. Mas é a regra ao mais alto nível competitivo.
Sendo a forma de limitar a reacção adversária, a velocidade é o único factor para o qual não há resposta defensiva conhecida. Nem individual, nem colectiva.
Se a velocidade individual - de pensamento, de análise, de acção e reacção, de deslocação - é importante, a velocidade colectiva marcará a diferença e define uma equipa vencedora.

3.3 VARIAR

É fácil defender contra uma equipa que se limita às rotinas atacantes. Ser capaz de variar o jogo – de alterar o previamente previsto - para explorar pontos fracos detectados ou para surpreender e retirar o adversário do estádio da comodidade, da sua área de conforto, são exigências a que a jogo colectivo obriga.
Variar o próprio jogo é colocar o adversário sob a necessidade de estar preparado para mais de uma situação: é retirar-lhe iniciativa, mantendo-lhe a dúvida. E assim conseguir mais tempo, mais espaço para os próprios movimentos. Enfrentar uma equipa capaz de variar o seu jogo é um problema muito superior ao que nos coloca o confronto com uma equipa previsível.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

3.2. COMUNICAR

Num jogo colectivo é preciso que a ideia de um se transmita a outros de forma a constituir uma força organizada. No rugby, para que haja uma força organizada, é preciso que quinze jogadores vejam o jogo da mesma maneira e ao mesmo tempo. Que se generalize, percebendo a estratégia momentânea que alguém procura seguir, o que se pretende fazer para, então como equipa, ultrapassar o problema que defrontam.
A comunicação pode ser oral ou corporal, mas tem que existir. Saber falar e ouvir é decisivo. Mas saber ler os movimentos corporais é tanto ou mais importante – é isso que permite a melhor colocação do apoio, é esta leitura que permite a antecipação que fará a diferença.

3.1 REAGIR

Os adversários movem-se, não são fixos como nos esquemas do papel. Daí que seja necessário desenvolver capacidades de leitura e de reacção que permitam a adaptação aos movimentos adversários. Conhecimentos tácticos, leitura, concentração e disponibilidade são os instrumentos essenciais para que a capacidade de reacção seja adequada às situações.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

3. CONTINUAR

Constituído o apoio, o objectivo é continuar o movimento até detectar as debilidades defensivas para garantir os espaços de penetração que permitirão chegar à área de ensaio. Então Avançar sempre! e Apoiar não chega para chegar ao “ensaio”? Chegará se as defesas forem deficientes, mas não quando as defesas sabem subir e desmultiplicar-se. Continuar exige cultura táctica: ao portador da bola e aos apoiantes próximos. Mas também aos restantes que têm que saber ler e antecipar.
Continuar exige também o domínio de gestos técnicos como o passe-em-carga (off-load) ou o meia-volta-contacto que permitem o passe antes duma eventual ida ao solo, garantindo-se assim que o movimento não pára.

Continuar o movimento até à ruptura ou colapso da defesa adversária deve ser um objectivo colectivo de uma equipa. Dominar a cultura táctica da continuidade é a marca das grandes equipas – aquelas que somam mais vitórias que derrotas.

2. APOIAR

Avançar exige organização colectiva, não é um acto individual. O apoio dá forma a essa organização, procurando fornecer ao portador da bola as soluções que lhe garantam – possibilitando assim correr os riscos necessários á criação de desequilíbrios - a manutenção da posse da bola para a sua equipa.
A mais eficiente forma do apoio é a organização em losango: o portador é o vértice frontal, um jogador “por dentro” e outro “por fora” fazem o apoio lateral a permitir diferentes opções havendo ainda um outro jogador em apoio “profundo” com a missão de garantir a posse da bola ou o aproveitamento de qualquer intervalo que seja criado na defesa. Também se pode dizer que o apoio é formado por um portador, dois asas (um interior, outro exterior) e um cauda.
À medida que cada jogador fica empenhado, pela posse da bola ou pelo apoio em contacto que tenha que efectuar, o losango vai-se transformando. Exemplo: o inicial portador passa a apoio interno, o novo portador seria o anterior apoio externo, o apoio profundo ou cauda passa a apoio externo ou asa exterior e o apoio interno ou asa interior passa a apoio profundo ou cauda. E assim sucessivamente numa permanente movimento para manter a bola viva.

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