segunda-feira, 11 de junho de 2012

DIRECÇÕES, ÂNGULOS E LINHAS DE CORRIDA

Gostei dos Jaguares argentinos. O modelo de jogo que apresentarem deveria ser anotado pelos portugueses - porque é aquele que melhor serve as capacidades e características dos rugbistas portugueses. Daniel Hourcade, sabe da poda - já o tinha mostrado quando esteve em Portugal.

Os Jaguares argentinos - não sendo robots de ginásio (bem pelo contrário à vista televisiva) - previlegiam a inteligência do jogo de movimento, movimentando-se os jogadores de acordo com o movimento da bola e com a reacção da defesa adversária, num turbilhão de circulação de bola e de ângulos e linhas de corrida de diferentes direcções com os jogadores a aparecerem num mesmo canal de penetração em condições de receber o passe. Assim conseguem o que melhor desarticula e desestabiliza uma defesa: a surpresa da variedade. E sabem também como pressionar, cortando o tempo e o espaço, aos movimentos atacantes adversários. E esta fórmula permitiu-lhes bons resultados na África do Sul...

Aliás esta forma de jogar, movimento da bola, aparecimento de jogadores com linhas de corrida e ângulos com diferentes direcções foi a constante dos jogos do outro lado do mundo neste fim-de-semana - o jogo dos All-Blacks é uma boa lição e o último ensaio australiano contra os galeses mostra o que são linhas e ângulos de corrida eficazes para quebrar uma linha defensiva. Brian O'Discroll, depois do 1º teste contra os neozelandeses, disse da sensação da sua equipa : We were chasing shadows - o que, traduzido, significa que se sentiram à caça de gambozinhos... que é o que pode acontecer sempre a quem tem que defrontar o movimento da bola e dos jogadores num turbilhão de direcções, ângulos e velocidades diversas. E Portugal, cujos jogadores não serão os maiores matulões do mundo, devia jogar assim, aprender a jogar assim - fazendo uma aposta estratégica na formação adequada.

Mas o XV de Portugal mostrou outra faceta, muito longe da pretendida.

Neste jogo contra os Jaguares a selecção nacional esteve francamente mal. Com uma defesa de espera, sem pressão efectiva, dando demasiado espaço e tempo, aumentou a eficácia atacante argentina; sem atacar a linha de vantagem com a velocidade necessária, os seus movimentos, lateralizados e previsíveis, tornaram-se presa fácil para a defesa argentina que pouco mais teve que fazer do que deslizar para garantir a sua superioridade numérica.

A posição do rugby português não está fácil: a subida de outros países tornou a concorrência mais forte e colocou a fasquia internacional num elevado grau de exigência. O mundo rugbístico está em mudança, os resultados internacionais contam cada vez mais para garantir o acesso a competições competitivas e a IRB não vai preocupar-se com mais do que as vinte, vinte-e-oito, primeiras federações do ranking; as outras terão que tratar da vida no seu mundo particular. E para que não haja arrependimentos fora de tempo, para que haja resultados em tempo útil, convém estabelecer desde já a estratégia mais adequada. Com objectivos competitivos claros e que se mostrem eficazes.

O combóio está em movimento e já não tem estações de paragem.

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