terça-feira, 26 de junho de 2012

A ORGANIZAÇÃO DA MUDANÇA

O rugby tem, desde 1995 – ano de introdução do profissionalismo – evoluído muito. Em termos de organização e exigência competitivas, em termos de expressão global. E nesta evolução da expressão global ressalta a cada vez maior importância dos jogos e competições internacionais com janelas, mundiais, taças de isto e daquilo e um ranking feito de regras claras e exactas que garante o posicionamento comparativo entre todos os intervenientes na competição do rugby.

Estas alterações exigiram mudanças. Mudanças que, tendo como objectivo a criação das melhores condições para a competição internacional, criaram competições que ultrapassaram as habituais fronteiras e que permitem que equipas constituídas por um alargado número de melhores jogadores de cada país possam competir a um nível superior às competições nacionais a que anteriormente estavam limitados. E assim nasceram, para além de uma maior incidência de provas internacionais para clubes, as provas de franquias que no Norte e no Sul permitem um maior equilíbrio, uma maior competitividade e um maior interesse público facilitando o retorno financeiro necessário à garantia do nível exigido. E assim se vê a internacionalização dos jogos que envolvem neozelandeses com sul-africanos e australianos, de italianos com galeses, escoceses ou irlandeses para além das diversas ligas profissionais como em França, Inglaterra ou Rússia.

Como é fácil de perceber – basta analisar os resultados dos últimos anos - o actual modelo competitivo português está completamente ultrapassado e não responde, pelo seu absoluto desequilíbrio, às necessidades que se colocam aos jogadores que representam a selecção nacional nas competições internacionais. Ora as necessidades internacionais – aquelas que motivam os apoios necessários ao desenvolvimento interno da modalidade – são cada vez maiores e de maior responsabilidade. O tempo em que uma derrota representava apenas uma contrariedade, acabou: hoje uma derrota inesperada – ou impossível – pode traduzir dificuldades ou mesmo diminuições drásticas no posicionamento financeiro e competitivo. Urge que o rugby português, porque a continuidade da queda do posicionamento internacional terá graves repercussões no desenvolvimento rugbístico interno, mude os seus modelos competitivos e de formação. E quanto antes. A mudança é essencial e deve ser organizada e  globalmente pensada.

A convite do presidente da Federação, Amado da Silva, fiz parte de um grupo externo que se reuniu com a Comissão Técnica federativa e aí pude dar conta do que penso sobre a matéria e das propostas que defendo e que aqui descreverei sucintamente.

A primeira questão que se coloca é: para que serve uma federação de utilidade pública desportiva? Qual a sua Missão? Em minha opinião para criar condições para que os seus jogadores possam competir internacionalmente em condições da mais próxima igualdade competitiva desportiva. E, no caso do Rugby, sob uma Visão exigente: colocar Portugal nos vinte primeiros lugares do Ranking IRB. Missão e Visão que exigem da Federação uma organização técnico-desportiva de grande qualidade e extensível, para ser sustentada, a toda a pirâmide da comunidade do rugby português.

A segunda questão sobre a qual se deve ter resposta será: qual é o propósito de uma Campeonato Nacional? A primeira resposta é óbvia: atribuir o título de campeão nacional. A outra, menos óbvia mas absolutamente necessária para se atingir o grau de exigência pretendido: permitir que os atletas participantes se preparem para o nível competitivo superior com um mínimo de adaptações.

Sabendo que um campeonato desportivo deve reger-se por Princípios como o Equilíbrio – ser disputado por iguais para garantir os níveis de competitividade – como a Consistência – tenha continuidade, mantendo os parâmetros, seja coerente com o conhecimento antecipado das regras e suas consequências e seja consistente nos seus propósitos – como a Equidade – é necessário que exista igualdade de oportunidades alicerçada num projecto de crescimento qualitativo conhecido e sustentado – a questão a resolver trata de definir o modelo competitivo que responderá às questões suscitadas. No essencial: que estratégia seguir para responder aos objectivos propostos?

Uma questão a exigir decisão surge de imediato e a curtíssimo prazo: como articular a presença na Sevens World Series com as necessidades da selecção nacional de XV, existindo em ambos os casos uma exigência, por razões de continuidade, de resultados positivos? Separando absolutamente parece ser a única solução na nossa realidade: um grupo vai disputar os sevens, outro dedica-se ao XV! Duas estruturas independentes, portanto.

Penso que o ideal para o modelo competitivo nacional seria caminhar, tão breve quanto possível, para a divisão entre o domínio do Alto Rendimento e domínio do Rugby Recreativo ou de Lazer. Criando-se competições adequadas e organizadas em conformidade com os objectivos perseguidos – a responsabilidade das grandes competições e o direito ao jogo de rugby.

Como provas principais para o primeiro nível – Alto Rendimento - a criação de uma competição ibérica – duas franquias portuguesas com os 50/60 melhores jogadores nacionais elegíveis para a selecção nacional e 3 a 4 franquias espanholas com um calendário de acordo com as obrigações internacionais – um campeonato sénior - 6 equipas para 180 jogadores e com o objectivo de preparar jogadores para subirem ao nível superior e com um calendário adequado aos interesses internos – e um campeonato sub-20 ou 21 (de acordo com a qualificação etária internacional) – 10 equipas para 300 jogadores com o objectivo de alimentar as equipas do campeonato sénior interno e de formar a selecção nacional etária correspondente.      

A organização do domínio Rugby Recreativo, embora com apoio federativo, seria descentralizada para as associações regionais e poderia ser realizada sem a formalidade das competições habituais e estruturada em pequenas competições de acordo com os interesses dos diversos clubes, possibilitando uma competição de maior proximidade geográfica.

Neste domínio, quer sénior, quer nos escalões etários, as competições poderiam estender-se nas condições adequadas (durante mais de um século o rugby da Grã-Bretanha não teve campeonatos) às capacidades económicas e desportivas dos clubes.

Para o funcionamento deste modelo seria necessário a existência de um período de carência – 3 anos? - no habitual sobe-e-desce interdivisões. Este tempo permitiria que as equipas interessadas num outro nível de competição ganhassem a sustentabilidade necessária à capacidade competitiva exigível no nível do Alto Rendimento. Para que no final do período de carência houvesse uma hierarquização de clubes, seria feito um ranking tipo IRB que permitiria a organização das competições com eventuais trocas de posição e, eventualmente e então, alargamento do campeonato sénior interno.

É claro que a competição ibérica não é imediata e não depende só de nós. Mas é um caminho necessário. Como necessário e urgente é, para aumentar a competitividade interna que permita uma maior aproximação ao nível internacional, reduzir a divisão principal às seis melhores equipas.

No actual modelo – e de acordo como mesmo objectivo de aproximar do nível internacional –  o campeonato deve ser realizado antes das competições internacionais de 2013 e a fase final – porque o jogo internacional é cada vez mais um jogo sem retorno e os jogadores representativos a isso devem ser habituados – deve ser realizada em jogos únicos de meias-finais e final.

O aumento da competitividade do campeonato pode ainda ser afinado com a regulação dos pontos de bónus – ofensivo para a equipa que marque 4 ou mais ensaios e mantenha para o adversário uma diferença de 3 ensaios e defensivo apenas para a equipa que seja derrotada por menos de oito pontos.

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores