Gales marcou 10 ensaios e sofreu 7 para conseguir uma quota de pontos marcados de 64% e garantiu que as suas capacidades ofensivas eram suficentes com as 837 placagens numa taxa de sucesso de 89%. Ou seja e como primeira lição desta tripla: os campeonatos ganham-se marcando mais pontos do que o adversário — o que tem como consequência garantir que a defesa é suficiente para garantir que o adversário marcará menos. E Gales garantiu isso, não se mostrando nada preocupado em que a sua quota de pontos marcados demonstrasse uma enorme superioridade em relação aos seus adversários. Conseguir resultados positivos, ganhar, é tudo que uma equipa precisa para ganhar campeonatos.
A segunda lição desta notável conquista diz respeito à existência de um capitão à altura às circunstâncias e Alun-Wyn Jones foi esse capitão. E um grande capitão não é apenas aquele que fala com o árbitro durante o jogo, tão pouco aquele que dirige estratégica e tacticamente a equipa, tomando decisões — postes ou maul penetrante? — que têm importância no resultado final do jogo ou que, pela sua atitude e exemplo, arrasta companheiros para conseguir a melhor e mais capaz prestação competitiva da sua equipa. Um capitão é muito mais do que isso, representa, dentro e fora do campo, antes, durante e depois do jogo a Cultura que formata a sua equipa. E o galês Alun-Wyn Jones, um exemplar guerreiro, tem essas características como mostra a fotografia abaixo. Um exemplo modelar de capitão.
Por decisão dos responsáveis irlandeses a cobertura do Principality Stadium não foi fechada. E choveu bem em Cardiff.
Quando tocaram os hinos — emocionante um tradicional “Hen Wlad Fy Nhadau (Old Land of My Fathers)” com o coro das bancadas dirigido, do centro do campo, pelo regente da banda — chovia a bom chover. Um miúdo transportava a bola de mão dada com o capitão. Alun-Wyn Jones percebeu o seu desconforto com a chuva que caía, tirou o blusão, cobriu o rapaz e continuou a cantar o hino com o fervor de uma última vez.
Terceira lição: uma equipa técnica, formada por Warren Gatland e Shaun Edwards, que os jogadores respeitam e que é muito capaz na motivação — “aproveitem esta oportunidade que pode não surgir outra vez” — na estratégia, na táctica e na técnica. Como ficou demonstrado no ensaio marcado e que abriu o caminho da vitória.
O rugby é um desporto colectivo de combate e deve, por isso, subordinar-se aos princípios estratégicos do combate. Sun Tzu dizia: “o desconhecimento do local de combate por parte do inimigo fá-lo preparar-se para um possível ataque em vários locais, forçando-o a distribuir as suas forças por vários pontos, enfraquecendo-se.”, Clausewitz afirmava que “a surpresa é o princípio mais eficaz para obter a vitória” a que se junta a voz do treinador defensivo galês, Edwards, para lembrar que “os grandes jogos são definidos por tácticas, não por ideais”. E assim foi...
...a partir de um maul penetrante dentro dos 22 adversários seguiram-se duas penetrações próximas para avançar e aproximar da área de ensaio irlandesa, obrigando os defensores a tomar decisões.
Assim, o formação Conor Murray teve que avançar para a linha defensiva do lado fechado — questão de igualar atacantes — e o defesa Rob Kearney teve que tomar a decisão de também subir para cobrir a introdução na linha atacante do lado aberto do defesa galês, Liam Williams. Qualquer destes dois defensores ficou assim sem possibilidades de garantir a cobertura da área de ensaio e, com estas acções e movimentos da equipa atacante, o terreno da área dos cinco metros e da área de ensaio ficou livre de defensores e o preciso pontapé curto de Ascombe permitiu ao lançado Hadleigh Parkes, apoiado por Jonathan Davies, captar a bola para fazer o ensaio. Depois foi ver uma permanente e organizada pressão defensiva, com os jogadores a avançar lançados para a corrida de conquista da linha de vantagem e impedir assim encadeamentos adversário, levando-os a cometer as oito penalidades que permitiram as seis penalidades transformadas em dezoito pontos. Em todos os casos o resultado de um treino objectivo e adequado aos propósitos estratégicos previamente determinados. Um dia inesquecível para os galeses e seus adeptos.
Em Roma, a França não deu qualquer espaço para melhorar a desconfiança dos seus adeptos num Mundial vitorioso enquanto que a Itália, mostrando uma enorme falta de maturidade, deixou fugir a vitória que lhe retiraria a Colher de Pau.
Em Twickenham, a enorme surpresa. Chegando ao intervalo a vencer por 31-7, a Inglaterra apanhou o susto da época ao ver os escoceses marcarem mais cinco ensaios para, se colocarem, a cinco minutos do fim, a vencer 38-31. Valeu para diminuir o embaraço inglês um ensaio de George Ford aos 83’ para acabar num inesperado empate de 38-38. Uma festa de onze ensaios.
Daqui para a frente e em termos de jogos-teste, restam-nos um Championship do outro lado do mundo e alguns jogos de preparação para alimentar as expectativas do Mundial do Japão.