Ganhou-se e pronto: está feita a obrigação!... e subimos uns lugares no ranking.
Mas é bom que não nos deixemos enganar, a Holanda é apenas uma típica equipa da III divisão europeia a quem faltam conhecimentos tácticos, capacidades técnicas e que tem demasiados balofos no pack que, naturalmente, não duram o jogo todo. No final, o seu treinador mostrava-se contristado com a falta de aproveitamento das oportunidades mas satisfeito com a actuação dos seus jogadores...
Pode perguntar-se: se a equipa holandesa é assim tão fraca como a considero, como é que estava 3 lugares acima de Portugal? Porque nesta matéria o ranking é neutro e preocupa-se apenas com a tradução em pontos dos resultados obtidos entre duas equipas que não estejam separadas por um intervalo superior a 10 pontos. E Portugal jogou, perdendo e por isso diminuindo os seus pontos de ranking, contra duas equipas superiores (a Roménia no play-off da Championship e a Namíbia na janela de Novembro) enquanto que a Holanda se limitou a acumular pontos nos jogos da sua III divisão. Situação que se pode verificar com o facto de, no início da época, Portugal se encontrar no 24.º lugar com com 58,30 pontos enquanto que a Holanda estava no 27.º lugar com 56,52 pontos — diferença que não alteraria a previsão, embora por dois pontos de jogo, da derrota de Portugal a jogar em Amsterdam. Ou seja, o ranking tem um óbvio significado permitindo relacionar o histórico comparativo entre equipas mas está longe de ser a melhor das bases para prever um resultado.
Voltando ao jogo...
A selecção portuguesa começou a jogar com um forte vento pelas costas. O que recomendava — para mais com áreas de ensaio de 22 metros de profundidade — o uso do jogo-ao-pé para conquistar terreno e criar a pressão suplementar sobre o três-de-trás adversário (e é preciso qualidade elevada para que não haja erros) pela proximidade da linha-de-ensaio. Nada disso se viu trocado que foi pelo jogo de passes sem adaptação ás condições atmosféricas, num erro táctico indesculpável a que se juntaram erros técnicos na relação passador/receptor que fizeram perder dois ensaios feitos. Ao intervalo, em vez de um jogo resolvido, um 6-0 demasiado curto e perigoso para enfrentar uma equipa com o vento a favor. Valeu que a equipa holandesa não mostrou as competências para o fazer e, também e por erros tácticos evidentes, não conseguiu marcar no início da segunda-parte quando teve uma série de sequências a palmos da linha-de-ensaio portuguesa mas que se limitaram, numa situação de mais fácil defesa, ao pick-and-go resvés do agrupamento. E pelo menos mais um ensaio feito para Portugal, foi deitado fora por incapacidade técnico-táctica.
De bom para Portugal o primeiro ensaio — de Rodrigo Marta — que demonstrou na prática aquilo que se sabe: a aceleração para receber o passe com alteração do ângulo de corrida é a situação que melhor permite explorar qualquer intervalo entre os defensores. E assim foi feito, explorando mas sem continuidade, a fragilidade defensiva holandesa com os defensores a apresentarem-se demasiadas vezes com a linha-de-ancas orientada para fora.
A vitória portuguesa — e o ranking não tem a ver com a qualidade do jogo mas, repete-se, com o resultado — permitiu arrecadar 1,40 pontos e conquistar 4 lugares, passando para o 23.º lugar e colocando a Holanda no 27.º lugar. Mas podia ter sido melhor não fora uma disparatada e desnecessária indisciplina de Rebelo de Andrade que, já no final do jogo (82’), levou cartão amarelo e na falta subsequente viu a Holanda marcar o ensaio que diminuiu a diferença para menos de 15 pontos de jogo com a consequente perda de 0,70 pontos que nos colocaria em cima da Namíbia.
Mas não vale embandeirar em arco e considerar que os resultados são muito bons e que traduzem um extraordinário trabalho de desenvolvimento. Porque o jogo demonstrou bem as dificuldades e incapacidades do rugby português. Impõe-se, portanto, reserva.
A experiência demonstra que vencer todos os jogos da Trophy — como tem a ontecido nos últimos anos — não garante coisa alguma para o jogo mais importante da época, o play-off de acesso ao Championship. A subida, para que o rugby português possa singrar e desenvolver-se competitivamente, é necessária e decisiva — sem resultados capazes, sem um programa competitivo ascendente, não haverá apoios. E o jogo de rugby em Portugal tenderá ao apagamento. Pelo que haverá que rever competições e conceitos: conceitos técnicos e tácticos, composições, comandos e responsabilidades.
No início de Abril haverá eleições e exige-se à nova direcção eleita que coloque e desde logo a sua preocupação na Selecção Nacional, dando-lhe condições para poder encarar o play-off com condições de êxito.
[nota: o jogo Holanda-Portugal foi realizado num terreno-de-jogo em de relva artificial. Ao contrário do que se passa na ignorância caseira, a nenhum jogador foi proibida a utilização de pitões de alumínio. Porque desde que de acordo com os regulamentos da World Rugby estão autorizados em tido o mundo.]