segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

BARRY “THE KING” JOHN (1945/2024)

Barry John, “The King” e provavelmente o melhor abertura de sempre

Com 79 anos faleceu Barry John, cognominado, pela sua classe, “The King” e provavelmente o melhor abertura de sempre do rugby mundial. Para além da memória que nos deixa da clareza da sua leitura do jogo encontrando os desequilíbrios defensivos que permitiam à sua linha de três-quartos explorar a eficácia da sua qualidade, da sua capacidade de evitar, pela variedade, as estratégias defensivas adversárias e ainda pela enorme qualidade  no seu jogo-ao-pé nomeadamente nos pontapés aos postes, a sua lembrança é intemporal.

Com Gareth Edwards formou uma dupla de médios inesquecível. E a esse propósito deixou-nos uma frase que define a estrutura de uma parelha eficaz. Naquele tempo — 1967— as selecções nacionais que disputavam o Cinco Nações não tinham treinos de equipa (questão de manter o amadorismo no seu estado mais puro) e Barry John e Gareth Edwards conheceram-se na manhã do seu primeiro jogo internacional. Gareth Edwards fez-lhe a pergunta natural: “Como queres a bola?” para Barry John responder de imediato: “Atira que eu agarro!”. Resposta que, desde logo, demonstra um profundo conhecimento do jogo ao indiciar que sendo o médio-de-formação o elemento que estará sob pressão compete ao receptor adaptar-se da melhor forma possível, facilitando o canal de passe e retirando toda a pressão ao passador, deixando-o apenas com a necessidade de fazer o melhor possível dadas as circunstâncias do momento.

Também no jogo ao pé outra frase sua marca a táctica do jogo-ao-pé: “Vamos lá mostrar os números que trazem nas costas!” significando com isto que o jogo-ao-pé tacticamente eficaz é aquele que obriga os adversários defensores a recuar no terreno e de costas para os atacantes. Conseguindo assim três factores importantes para a perturbação defensiva adversária: conquista de terreno; dificuldades na adaptação à surpresa que o correr de costas para os atacantes sempre provoca; aumento da dificuldade da construção do apoio para os receptores, significando que, assim, a conquista de terreno se pode tornar efectiva e com o retorno da posse da bola.

A oportunidade de ter visto nas transmissões televisivas Barry John na sua melhor expressão rugbística permitiu-me perceber melhor o jogo e a memória dos seus ensinamentos perdurará sempre no meu entendimento do jogo. Rest in peace, dear Barry, The King, John.

Nota: Esta é a versão que conheci desde sempre. No entanto pude ler agora e na versão — bem mais picaresca — do próprio Gareth Edwards publicada no WalesOnline, a descrição da situação, num artigo de homenagem ao seu amigo de uma vida — Ele nunca, nunca será esquecido — e que levou à imortal frase. Assim a conta;

“Jogamos um contra o outro num Prováveis/Possíveis em Maesteg em 1966 e fomos ambos convocados para os Prováveis num novo teste no início de 1967. Éramos então ambos estudantes — ele no Trinity College em Carmarthen e eu no Cardiff Training College — e telefonei-lhe para sugerir que nos deveríamos encontrar antes de jogarmos juntos.

Eu tinha carro e fiquei satisfeito por guiar desde Cardiff e assim o encontro ficou marcado para um campo de Carmarthen. Quando cheguei ao Trinity College, Barry não estava encontrável em parte alguma. E aí estava eu, parecendo imaculado no meu fato-de-treino verde da faculdade, botas na mão e pronto para a acção. Mas Barry aparentemente tinha-se esquecido do nosso encontro.

Cruzei-me com alguém que conhecia e ele disse-me que tinha visto Barry numa divertida festa na noite anterior. […] Quando ele finalmente apareceu, parecia um pouco desatinado e não tinha botas, apenas ténis.

Eu estava preocupado com o meu passe porque todos diziam que não era muito bom e por isso fizemos alguns lançamentos. Ele escorregava por tudo quanto é sítio e no final aproximou-se e disse a frase imortal: Gar, you just play and I get it!”. E assim fizemos desde então.”

(tradução livre).

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