segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

UMA DERROTA DE COMPETIÇÃO E UMA DERROTA DE SEI LÁ

Uma derrota é uma derrota e é muito difícil sair contente do campo depois de a sofrer. 

Mas a equipa feminina de Portugal conseguiu um resultado normal — a sua diferença para a Holanda é de 26 pontos de jogo e perderam pela diferença de 24 — contra uma equipa muito mais experiente, mais pesada, mais rodada, com boa organização colectiva e, obviamente, mais capaz. Mas deram uma luta tremenda como demonstram as 212 (!!!) placagens realizadas — um número de categoria a demonstrar a abnegação e o estoicismo mantidos durante todo o tempo de jogo. Vê-las a lutar da maneira que o fizeram — nunca desistindo do combate apesar das dificuldades — impõe, pesem os 5 ensaios sofridos, que mostremos a nossa confiança nas suas capacidades. Lembre-se que também se tratou da estreia portuguesa no Rugby Women’s European Championship…

Pena foi o jogo-ao-pé que foi muito fraco e com entrega constante da posse da bola — as holandesas tiveram 71% de posse mas só conseguiram, graças à defesa portuguesa, o dobro de passes. De facto o jogo-ao-pé em Portugal é muito fraco e, para além de não possuir uma técnica por aí além, tem erros tácticos que se devem considerar inadmissíveis. Quando é necessário recorrer ao jogo-ao-pé pelo posicionamento no terreno e pelo organização adversária a decisão assenta em duas bases fundamentais: pontapé-longo a ultrapassar a última linha de cobertura adversária, fazendo juz ao conceito de Barry John num “mostrem-me lá os números que trazem nas costas”, obrigando as adversárias a recuar e a correr os riscos inerentes a quem não vê com que tipo de pressão se vai confrontar; pontapé-curto-e-alto que permita companheiras a lutar pela conquista aérea da bola e permitindo um apoio muito rápido para garantir a velocidade da reciclagem e aproveitar os desequilíbrios conseguidos. Os outros pontapés que colocam a bola nas mãos das adversárias defensoras só servem para desperdício do esforço da conquista anterior. Isto, claro, para além de poder a bola ser jogada para fora porque, entregue por entregue ao adversário, se fôr colocada fora de “forma positiva” permitirá colocar o jogo mais longe da nossa “área vermelha”. E o conhecimento destes princípios tem que ser utilizado no terreno-do-jogo e não chutando por chutar.

Quanto ao jogo realizado em Inglaterra com uma derrota por 91-5 (15-1 em ensaios) — Steve Borthwick avisou, alto e bom som, que os seleccionados para a Inglaterra A eram jogadores que poderão estar na selecção principal muito em breve — não sei que dizer da constituição da equipa portuguesa nem tão pouco da oportunidade do jogo. Para além de alguns momentos interessantes a que se juntava muita inconsistência pode também ficar na memória de quem jogou, não só pela derrota avantajada mas, principalmente, por jogarem frente a uma multidão de que tão cedo não encontrarão outra igual.  

Tenho sérias dúvidas de que um jogo com este desequilíbrio possa servir para dar experiência seja a quem fôr a não ser para perceber que o rugby internacional de alto nível se joga com uma intensidade muito, mas muito, superior àquela a que os jogadores portugueses estão habituados e que, pelo menos, sirva para exigirem aos dirigentes dos seus clubes que pretendem uma organização competitiva do campeonato nacional que aproxime a sua intensidade daquela com que se confrontaram. Para que a proximidade permita uma competição efectiva.

Mas mais grave de tudo é o facto de se ter criado tal confusão que por todo o lado apareceu o anúncio do jogo não como “Inglaterra A x Portugal A” — o próprio presidente da FPR o afirmou por diversas vezes — mas, como se pode ver quer no site da Federação portuguesa quer no site da Rugby Union, como “Inglaterra A x Portugal”. Ou seja e de acordo com o que se lê, quem fez aquele jogo desproporcionado terá sido a principal selecção de Portugal e não uma segunda equipa ou uma equipa em desenvolvimento como já lhe ouvi chamar! E isto é grave até porque houve muita gente compradora de bilhetes na ilusão de irem ver os nossos Storti, Nicolas Martins, Tomás Appleton, Sousa Guedes, Rodrigo Marta, Samuel Marques e outros que lhes chamaram a atenção no Mundial e que queriam ver ao vivo. Agora, sentindo-se ludibriados dão conta desse estado nas redes sociais. E a factura é para o rugby português… para além de que a confusão criada resulta numa falta de respeito para com os verdadeiros internacionais portugueses.

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