Atingindo o intervalo com a vantagem de 10 pontos de jogo (20-10), os Lobos terminaram a vencer 49-24, marcando 6 ensaios, com 41% de posse de bola mas com 125 passes, contra 3 ensaios dos romenos.
Houve, nesta vitória, uma melhoria generalizada no jogo de movimento com mais jogadores — apoio mais eficaz — a movimentar-se de acordo com o movimento da bola. De facto, uma brutal diferença em relação ao jogo que ditou a derrota contra a Bèlgica, e — deve reconhecer-se — o enorme tributo que, para isso, tiveram os dois médios — o abertura. Aubry e o formação Camacho (boa visão e excelente passe) — fazendo recordar o velho conceito “dêem-me um par de médios que vos dou uma equipa” — e que conseguiram manter o jogo movimentado com a velocidade e variedade necessárias para garantir o ataque à linha-de-vantagem e possibilitar a eficácia da nossa evidente superioridade, em velocidade e técnica, das linhas atrasadas portuguesas que obrigaram os romenos, por ter havido uma maior preocupação de ataque aos intervalos e menos preocupação para colisões, a falhar 31 das 89 placagens tentadas. Essa capacidade de rápida articulação permitiu que, embora com metade dos rucks conquistados do que o conseguido pelos romenos, fosse possível explorar os desequilíbrios anteriormente conseguidos. A melhoria da procura do ataque — embora, para que a adaptação a cada situação se possa fazer da melhor forma, se tenha que trabalhar mais este aspecto para o sucesso em nível mais elevado — através de encadeamentos e penetrações no intervalo, rompendo a linha-de-defesa adversária, que proporcionaram a ultrapassagem da defesa numa mais rápida reciclagem da bola e movimentos muito interessantes pelo recurso a passes-em-carga (off-loads) que tornam a organização defensiva muito complicada.
A jogada que mostra o modelo de jogo que devemos — movimento, movimento, movimento — seguir, procurando (e treinando) as bases que o permitem, está demonstrada num dos ensaios (ver aqui) conseguido por Lucas Martins aos 51’: Vasco Baptista (nº8) recebeu a bola de um ruck ainda dentro dos 22m da sua equipa e num 5-contra-2 passa, com salto, a bola a Camacho (9) que ataca o ombro exterior do último defensor já quase nos 15 metros do lado direito do campo. Com a aproximação do defensor interior na tentativa defensiva de equilibrar num 2-contra-2, Camacho percebe que tem um enorme intervalo para explorar na zona mais central e faz, variando a direcção, um passe-interior para Cardoso Pinto (15) que, bem lançado, explora o intervalo, ultrapassando a linha-de-vantagem e já sobre o meio-campo, joga-ao-pé para ulrapassar os dois jogadores que constituíam a última cortina-defensiva adversária. Na já dentro dos 22 adversários, Cardoso Pinto, tendo que disputar, no ar, a bola com o último defensor decidiu — e muito bem1 — tocar a bola para trás onde percebeu haver três companheiros em apoio contra apenas um outro defensor. A bola acabou por ser captada de novo, quase em linha com o poste direito e sobre a linha-de-22, por Vasco Baptista que, correndo para fora, é placado, mas com um passe-em-carga, entrega a bola a Camacho que corre para o centro do terreno e, percebendo que, para defender a sequência anterior, os jogadores da última cortina defensiva tinham vindo ocupar a zona da direita do campo decidiu, num demonstração de conhecimento táctico do jogo uma vez que a circulação em passe iria possibilitar a reposição deslizante da defesa e sabendo que no corredor exterior esquerdo estariam, como consequência da organização atacante normal da equipa, um ponta e um terceira-linha (que no caso eram os dois irmãos Martins) contra não mais do que um defensor. E chutou em diagonal com Lucas Martins a captar a bola no ar, correr e marcar. Um espectacular ensaio que demonstra uma série de decisões concordantes com o sistema de movimento: linhas de ataque variáveis em adaptações imediatas ao movimento da bola, recepção da bola em velocidade apoio organizado e preparado para diversas situações, decisões tendo em conta o posicionamento de companheiros e defensores, confiança e determinação. Muito bom — mostrando a eficaz utilização dos principios do jogo: posse, avançar, continuar e apoiar para garantir pressão sobre a organização defensiva — e boa amostra do que é possível fazer com uma equipa coesa nos métodos e nos processos.
Pena é que não seja possível utilizar esta equipa, pelos menos os dois médios, contra a Inglaterra A para possibilitar a adaptação a jogos de intensidade superior em todos os capítulos porque, com a expressão de jogo conseguido, é altura de testes de nível mais elevado para garantir a constância de resultados.
E pena é também o facto de não ter acesso a estatísticas completas e de qualidade para uma análise profunda…mas é o que há…