segunda-feira, 26 de março de 2018

O QUE COMEÇA MAL...


Cumpriu-se a obrigação de ganhar. Foi o que valeu num jogo em que Portugal esteve muito fraco e eliminado da disputa do jogo de barragem até aos 73'. Começando a sofrer um ensaio aos 6' e mostrando debilidades defensivas, a equipa portuguesa começou a fazer-nos temer o pior. O que até não seria de admirar muito se olhássemos para a composição da equipa.
A COESÃO é dado como o factor mais importante para o sucesso de uma equipa em jogos desportivos colectivos. E um dos aspectos mais importantes para construir a coesão é o tempo que os jogadores somam a jogar juntos. E percebe-se esta exigência: só o tempo junto é que permite o mútuo conhecimento, o tipo de reacções, as manias, a forma de jogar, o tipo de passe em cada situação, etc. etc. E, na selecção constituída para este jogo, a linha de três-quartos nunca tinha jogado junta naquela distribuição de posições. E esse acréscimo de dificuldades trazido pela dessincronia entre os diferentes jogadores, causa enormes problemas quer na construção atacante, quer na solidez defensiva. Valeu-nos o facto da Polónia ser uma equipa com a ingenuidade típica da 3ª divisão e não se mostrar capaz de segurar uma vantagem de 10 pontos durante os últimos 30 minutos do jogo.
Na substituição, embora tardia, do médios iniciais com colocação dos dois médios habituais de Agronomia nas posições de construtores do jogo esteve, muito provavelmente, a mudança que possibilitou a chegada à vitória. Porque essa mudança aumentou a coesão da equipa!
E sem uma equipa coesa é sempre demasiado arriscado garantir as vitórias necessárias no nível internacional, onde, por mais desequilibrada que a competição seja - e este Trophy da Rugby Europe é uma prova muito desequilibrada com um Índice de Competitividade muito baixo e onde a quase totalidade dos resultados é previsível - tem sempre um nível superior aos hábitos internos em termos de pressão e de exigências tácticas.  
A selecção portuguesa conseguiu neste jogo o maior número de bolas disponíveis (118) deste campeonato. Mas também conseguiu a percentagem mais baixa de ultrapassagem da Linha de Vantagem de todos os jogos que fez nesta época.
De facto, os jogadores portugueses cometeram uma enormidade de erros - a grande maioria não-forçados - perdendo cerca de uma trintena de bolas, incluindo o desperdício de pontapés em movimento que caíam nas mãos de três-de-trás adversário. Felizmente que os polacos, dividindo assim os erros, também nos entregaram igual quantidade de bolas, nomeadamente em pontapés.
Muito mal se utilizou o jogo-ao-pé... Se com a novas leis do ruck - em que o defensor tem cada vez menos de envolver jogadores - a construção das linhas defensivas está facilitada, o jogo-ao-pé tem de ser cada vez mais utilizado como arma atacante capaz de encontrar espaços livres ou de criar novos. Mas para que assim seja, o jogo-ao-pé atacante tem que ser objectivo e ultrapassar o conceito de alívio, tendo que ser dado com condições efectivas de recuperação da bola - o velho "mostrem-me os números das vossas camisolas" do king Barry John continua a ser uma óptima máxima.
E como não é possível estar em dois sítios ao mesmo tempo, o jogo-ao-pé tem que ter o sentido táctico de saber dividir o três-de-trás adversário, obrigando-o a movimentar o pêndulo em tempo desconfortável - porque imposto - e criar-lhe problemas de decisão na ocupação da melhor posição no campo - se próximo da linha, se em defesa profunda. No entanto e em vez disso o jogo-ao-pé português limitou-se ao despacho e entregou praticamente todas as bolas nas mãos dos defensores, perdendo assim a iniciativa e dando tempo ao adversário. Que, repete-se mostrou a ingenuidade suficiente para não ser capaz de ganhar o jogo que teve na mão.
No que diz respeito ao jogo-de-passes, os jogadores portugueses também cometeram muitos erros, nomeadamente pela má colocação que impedia a entrada no passe ou pela falta de velocidade na recepção - e quando, num ou noutro momento, houve essa velocidade, falhou a sincronização. Valeu a lentidão de reorganização defensiva polaca para que a recuperação, se havia, não fosse eficaz.
E, falando em defesa, os portuguesas não foram suficientemente incisivos nas placagens, deixando-se ficar na comodidade da posição defensiva de "deixar entrar" o portador da bola e dando assim a oportunidade à manutenção da continuidade dos movimentos. E por isso o jogo esteve nas mãos dos polacos...
Agora a questão essencial é esta: como vamos preparar a equipa para o jogo de respescagem contra a Alemanha que só pode ter como objectivo a subida ao Championship da Rugby Europe? Aquilo que mostrámos ser capazes nestes dois últimos jogos contra adversários de fraco nível, não chega para assegurar a vitória - falta-nos intensidade, falta-nos visão táctica, falta-nos verticalidade no jogo. Como vamos fazer?

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