quarta-feira, 21 de março de 2018

O QUE PARECE, MUITAS VEZES, É

Já tenho idade e experiência desportiva-rugbística suficiente para saber que o rugby não corresponde - por muito que pudéssemos gostar que assim fosse - ao retrato conceptual do reverendo W.J. Carey e que deu o mote aos Barbarians RFC: "O Rugby é um jogo para cavalheiros de qualquer classe mas não para maus desportistas seja qual for a sua origem." E também gostaria que, na melhor tradição da modalidade, fosse aceite por todos os jogadores e treinadores a regra fundamental de respeito pelo árbitro e pelas suas decisões. Como escreve o jornalista Spiro Zavos "a integridade do jogo de rugby está no entendimento que o árbitro é o juiz final dos factos em qualquer jogo de rugby".

Dito isto, direi que o comportamento dos jogadores espanhóis no final do Bélgica-Espanha de domingo passado foi um vergonha, sendo desonroso para uma modalidade que se quer diferente do que assistimos noutras modalidades (principalmente no futebol e na sua envolvente) e não pode ser permitido. Não há desculpas!

Por pior que o árbitro tenha sido - e foi mau e prejudicial - os jogadores não têm qualquer direito a terem aquele destemperado comportamento. Não há desculpas!

Mas também - o que não quer dizer que os incorrectos comportamentos dos jogadores espanhóis possam ser absolvidos - não há desculpas para a demonstração de amadorismo incipiente da Rugby Europe e seus mandantes.

Na minha experiência internacional já assisti e já me vi envolvido em diversas situações que atiraram os princípios e valores desportivos para a sargeta. Tive que enfrentar situações, antes, durante ou depois de jogos que violaram as regras elementares do que defendemos como espírito desportivo e que gostámos de integrar no rugby como único e específico. Infelizmente as coisas são o que são e tapar os olhos com a peneira para fazer de conta que somos diferentes é um erro sistemático e que nos faz cair nos buracos armadilhados que, com medo de um "isto afinal é tudo o mesmo", são embrulhados no celofane de casuais acidentes.

A decisão da Rugby Europe de manter a nomeação de uma equipa de arbitragem romena para um jogo que se sabia decisivo desde 16 de Fevereiro último - nomeadamente para a Roménia - é um disparate sem dimensão e corresponde a uma atitude eticamente deplorável que atinge mesmo o nível do escândalo! Porque é uma situação que levanta as maiores suspeitas. Porquê? porque a equipa de arbitragem é romena, o presidente da Rugby Europe, Octavian Morariu, é romeno e a equipa que dependia do resultado é romena. Ou seja, tudo areia do mesmo saco. E como para ser sério não basta sê-lo, sendo preciso parecê-lo, o chefe dos árbitros europeus, Patrick Robin, em vez da leviandade (bastante habitual, diga-se) com que encarou o assunto deveria, de imediato, ter procedido à mudança. Não tendo procedido à sua substituição e colocando a resolução na dependência da sua vontade, aumentou o nível das suspeitas. Ou seja, como propositado não se conseguiria melhor.

Já assisti, quer no rugby quer noutras modalidades, a diversas arbitragens habilidosas para saber reconhecer o encaminhamento. E a arbitragem dos romenos no Bélgica-Espanha foi tendenciosa e, nitidamente - o que, repete-se não valida o comportamento final espanhol - favorecedora da Bélgica. Favorecendo assim a Roménia.

Resultados desta situação vergonhosa? Duvido que sejam palpáveis mas, no mínimo, deveriam traduzir-se no afastamento da arbitragem internacional dos romenos Iordarchecu, Petrescu e Ionescu e também no definitivo afastamento dos responsáveis pela sua nomeação bem como do ou dos responsáveis por terem ignorado o pedido espanhol de substituição da equipa de arbitragem.

E no meio disto como fica o Presidente Morariu? Mal! Só lhe valendo, para garantir a continuidade, alguns fretes e a demagogia das medidas que, ignorando as regras desportivas dos patamares competitivos que permitem a existência do equilíbrio da competição, estabelecem a "participação" como valor, permitindo que equipas de mais baixo nível e em "salto de cavalo" disputem  apuramentos imaginários para o Mundial como acontece com Portugal que, da 3ª divisão, faz o "difícil" jogo com a "melhor da 4ª divisão", a República Checa e trepa três melhores qualificados para entrar na disputa dos apuramentos seguintes. Simpatias que as federações europeias parecem gostar e admitir como boas práticas. E assim se conquistam aliados e se cobrem os erros e a falta de decisões adequadas.

O que se passou em Bruxelas - que teve repercussão mundial - mostra que muita coisa vai mal na administração da modalidade e que, para colmatar enquanto possível, mudar é absolutamente necessário.

Exige-se mudança e a responsabilidade está do lado das federações europeias. Que se mude quanto antes.

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