A Inglaterra fez, contra a Nova Zelândia, o seu melhor jogo de sempre e Eddie Jones foi o Man of the Match ao criar — e ao ter escolhido o neozelandês John Mitchell para treinador da defesa inglesa — uma estratégia que permitiu as expressões tácticas que impediram que os AllBlacks conseguissem utilizar os seus pontos fortes. E começou logo por dizer ao que vinha com o V envolvente do triângulo neozelandês do Haka, demonstrando a disponibilidade para resistir e a confiança para vencer. A Inglaterra venceu — e foi reconhecida por isso pelos jogadores e treinador neozelandeses — com toda a justiça. Jogou mais e dominou completamente em todos os capítulos com que se constrói uma vitória, tendo ainda tido duas situações de ensaio anulados — e bem! — pelo TMO. Foram aspectos muito difíceis de determinar a olho nu mas o instinto de Nigel Owens funcionou bem ao pedir a verificação. E o TMO fez o que tinha a fazer porque a sua chamada implica a análise milimétrica — os erros de árbitros são admissíveis mas a análise do vídeo-árbitro não pode deixar qualquer dúvida.
A Inglaterra que agora ocupa o 1.º lugar do ranking da World Rugby e onde não estava desde Junho de 2004, foi notável, tendo-se superiorizado nos domínios do jogo que permitem chegar à vitória com 62% de controlo territorial para conseguir 64 ultrapassagens da linha-de-vantagem (43,5%) contra 44 dos AllBlacks (28,5%) e conseguindo 15 turnovers contra apenas 4 dos neozelandeses que tiveram que placar 164 vezes para uma taxa de sucesso de 89% para evitar as constantes e determinadas vagas dos atacantes ingleses. A rapidez de subida, ganhando muitas vezes a linha-da-vantagem, a agressividade defensiva e a adaptação (defensive scramble) aos movimentos neozelandeses — reduzindo as 12 rupturas apenas a 1 ensaio — e apesar de uma taxa de sucesso de placagem menor de 81%, permitiu a superioridade nos turnovers e foi uma arma temível dos ingleses que diminuíram, juntamente com os atrasos conseguidos na disponibilidade da bola nos reagrupamentos, as capacidades atacantes dos neozelandeses. Num super-jogo, a vitória da reconhecida melhor equipa do dia.
Num jogo radicalmente diferente — veja-se a tabela abaixo que explicita dois conceitos distintos do jogo — o Gales-África do Sul foi também um jogo dramaticamente interessante (não vou esquecer a decisão — que me pareceu precipitada — do abertura Rhys Patchell de tentar um pontapé-de-ressalto que, se fosse realizado após mais uma ou duas fases, aproximando a distância aos postes, poderia garantir uma final do Norte neste Mundial). Mas Gales fez — depois do número de lesionados com que não pode contar (Faletau, Ellis Jenkins, Anscombe, Cory Hill, Josh Navidi, Liam Williams) — o que pôde e bateu-se muito bem e de acordo com o plano que tinha idealizado e onde o jogo ao pé tinha um papel importante ( 41 pontapés com apenas 8 para fora). Mas jogar contra a capacidade física sul-africana não é fácil e as 147 placagens com 93% de sucesso desgastaram com certeza a capacidade galesa. E enquanto a África do Sul atingia o 2º lugar do ranking da World Rugby, o sonho de uma equipa que Gatland transformou e colocou de novo entre as mundialmente melhores, esfumou-se. Mas com muita dignidade e boas perspectivas de futuro.
Acima de 50% a vantagem estatística pertence ao jogo Inglaterra/Nova Zelândia |
também por isso, com o seu particular aliciante.