No final da época passada a International Board realizou um encontro com os
Treinadores responsáveis pelas selecções das 6 Nações, TriNations e Argentina para discutir assuntos relacionados com as Leis do Jogo e sua aplicação.
Da reunião resultou a exigência comum de clareza e consistência na interpretação e de aplicação rigorosa das Leis do Jogo por parte dos árbitros. Foi colectivamente acentuado a necessidade de penalizar todas as faltas evidentes e claras.
Neste sentido foram determinadas especiais atenções com aplicação rigorosa da lei em cinco áreas-chave do jogo:
a) arbitragem rigorosa do fora-de-jogo nas formações espontâneas;
b) arbitragem rigorosa do fora-de-jogo no jogo-ao-pé;
c) arbitragem rigorosa das posições ilegais no maul e que provocam obstrução;
d) arbitragem rigorosa das faltas evidentes e claras na formação-ordenada, incluindo o atrasar da sequência de encaixe, as ligações das primeiras-linhas e a introdução da bola;
e) consistência na aplicação das Leis da placagem.
Destes pontos e da sua aplicação pudemos ver, ao longo do TriNations de 2010, vantagens indiscutíveis sobre o anterior torneio de 2009 como demonstra este conjunto de estatísticas:
No entanto os jogos não foram desequilibrados: dos 9 jogos, 4 jogos terminaram com uma diferença menor do que 8 pontos (bónus defensivo), 6 jogos com intervalo de resultado menor de 15 pontos (limite ranking IRB para dobragem de pontos), 2 jogos com diferença no intervalo de 16-20 pontos e 1 jogo com diferença de 21 pontos. - o dobro de ensaios conseguidos com 5,8 ensaios de média por jogo e a constituir 53% da totalidade dos pontos;- mais 22% do total de pontos marcados;- mais 35% de passes com consequente mais 7% de tempo útil de jogo;- menos 38% de jogo-ao-pé;- menos 23% de pontapés de penalidade;- menos 2% de alinhamentos ;- menos 5% de formações-ordenadas;- menos 3% de penalidades e pontapés-livres.
e, naturalmente, mais 40% de rucks.
Ou seja, vimos mais jogo e mais movimento da bola, mais pontos e mais ensaios. A perspectiva é de uma dinâmica do jogo mais exigente e mais interessante. Desde logo porque e no que diz respeito à arbitragem do jogo-no-chão, ao obrigar, antes do mais, o placador a soltar o portador da bola, as vantagens de colocação da bola e consequente continuidade de movimento da equipa atacante são óbvias e ainda porque a diminuição dos riscos de penalidade por não disponibilização da bola, permite uma maior procura de soluções para ultrapassar as defesas; por outro, a maior exigência dos árbitros, no jogo-ao-pé, a obrigar ao recuo de todos os jogadores que se encontrem a menos de 10 metros do presumível ponto de queda da bola, permite – finalmente – o recurso, pelo espaço que liberta, ao contra-ataque – em vez do insuportável ping-pong – com o consequente espectáculo que estes movimentos possibilitam.
O jogo está a mudar – as estatísticas mostram-no – pela aplicação mais rigorosa das mesmas Leis. Para o que parece bastar arbitragens consistentes.
Ao ponto de Ian McGeechan – o conceituado treinador escocês dos Lions – considerar que o jogo está mesmo a mudar, prevendo uma alteração na procura do perfil dos jogadores: não mais macacos de ginásio e sim jogadores tecnicamente evoluídos e capazes de procurar intervalos e espaços. Porque, como diz, o jogo, não perdendo os seus impactos físicos, será mais "uma questão de impactos dinâmicos para produzir um jogo dinâmico.” Ou seja e estabelecendo uma norma: o ginásio pode sustentar a solução mas é a qualidade da relação entre a técnica e a táctica individuais que resolve os problemas do jogo.
Neste sentido de melhoria da qualidade do jogo – e para demonstrar a importância dada a este capítulo da consistência e rigorosa aplicação das Leis – cito o Director dos Árbitros da IRB, Paddy O’Brien:
“ As Leis do Jogo existem para que o jogo seja fluído e se desenrole aceitavelmente. O que, no entanto, pode trazer preocupações com as interpretações das leis. O IRB está actualmente concentrado em cinco áreas-chave e pretende que os árbitros aí se focalizem para melhorar a qualidade do jogo.”
A palavra agora pertencerá a treinadores, jogadores e dirigentes e ás suas capacidades de adequar o jogo das suas equipas a estes conceitos das Leis do Jogo e contribuir para a melhoria da espectacularidade do rugby em Portugal. Os árbitros portugueses já trabalham dentro do conceito…