quinta-feira, 25 de novembro de 2010

VITÓRIA SOBRE A NAMÍBIA

Ao vencer a Namíbia por 12 pontos de diferença, Portugal conseguiu um bom resultado – ganhar conta muito neste níveis: dá prestígio, chama a atenção, atrai ou compensa patrocinadores, eleva a auto-confiança e permite uma construção mais sustentada e com menos pressão imediata.

Da previsão ao resultado
Jogos
Previsão
Resultado real
Vencedor
Diferença pontos
Vencedor
Diferença pontos
Portugal – Namíbia
Portugal
0 a 6
Portugal
12

Duas ou três coisas ressaltam do jogo. A primeira - e que foi comum às duas equipas – uma certa gulodice de mais comprimento que perna: esquecendo as suas capacidades lançaram-se a despropósito em tentativas de jogo tão longe da área de ensaio adversária que, o que parecia interessante, não passou de uma cópia em mau estado do filme dos grandes - Frederico de Sousa bem gritou contra isso... A este nível, com a capacidade que as equipas demonstram de organização colectiva é necessário, antes do mais, encurtar o terreno nas costas da defesa para evitar a dificuldade do jogo entre-linhas. De outra forma foi o que se viu: incapacidade de penetração e a multiplicação improdutiva de fases. Com a qualidade do jogo ao pé de que hoje dispõe a Selecção – houve up and unders brilhantes - partir lá de trás só deve ser tentado em condições surpreendentes e muito favoráveis. Ou então corremos o risco do desperdício…

O bloco-avançado português esteve, mais uma vez, francamente bem. Tão bem que a pergunta surge pertinente: onde esteve durante os tempos da qualificação? Para a memória ficará o push-over try (há anos que não escrevo isto…) final.

Existem ainda alguns problemas sistémicos na construção da equipa. Uns, resultando de uma formação pouco focada em questões tácticas de eficácia gestual e que impede, em situações de contacto, a disponibilização da bola à velocidade exigível para a sua utilização eficaz – questão que tem muito a ver com a concentração do portador e a construção do apoio imediato (posição do corpo na altura do contacto, adaptação do apoio). Para já não falar numa tendência generalizada de procurar o chão e assim dar vantagens à organização defensiva.

E gostaria de ver, nos alinhamentos, a emergência de um ideólogo do contra: alguém capaz de ler os movimentos adversários e impor conquistas de bola aos lançamentos adversários – do que se viu, as melhorias permitem já, julgo, dar este passo. E surpreender.    

As linhas atrasadas continuam sem convencer. Falham no princípio essencial: contornar a defesa exige, antes do mais, fixá-la. Por linhas de corrida de ângulos variados, pelo jogo próximo, pelo recurso a movimentos perturbadores e desequilibradores. E o que se vê são corridas lateralizadas, sem correcção dos ângulos e ajudando a defesa que se limita à deslocação até à linha lateral. Aqui existe um misto de má formação e do síndrome sevens: habituados a treinos desadaptados da necessária e constante leitura-adaptação-decisão ou ao espaço que a variante permite, os jogadores têm mostrado uma enorme dificuldade em aproveitar (ou criar) desequilíbrios defensivos. E por outro lado a falta de hábitos de apoio – a competitividade interna exige-o a nível fracote – faz com que haja um permanente atraso na ajuda necessária – liquidando logo de início a possibilidade da necessária bola rápida.

Muito trabalho ainda. Mas a vitória foi boa. E a conquista de um lugar no ranking também. 

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