A final entre os Sharks e a Western Province deixou-me uma impressão mais vincada do que o elevado ritmo, as placagens duríssimas, a capacidade de jogar no chão – marcada pela imediata leitura da situação com a (também) imediata e consequente adaptação – o desportivismo dos intervenientes, a excelência da arbitragem, o estádio cheio ou a qualidade do jogo de Patrick Lambie e a sua capacidade para jogar na linha.
A impressão que me ficou mais vincada correspondeu à razão da derrota da Western Province: a distância da linha de vantagem a que os três-quartos azuis-e-brancos jogaram.
Apesar de sequências com inúmeras fases de jogo os WP Rugby pouco vezes ultrapassaram a linha defensiva adversária. E menos ainda a linha de vantagem. É óbvio que a equipa da casa defendeu muito bem mas também é verdade que a WP Rugby lhes facilitou a vida ao jogar à distância da previsibilidade, muito longe da cara do adversário.
Se ao jogar longe se tem mais tempo para circular a bola, para ler a defesa, para perceber se há intervalos ou buracos, também se dá – é mesmo um presente – ao adversário defensor a possibilidade de subir, sem riscos, no terreno, garantindo que as suas costas estarão protegidas, em tempo útil, pelas linhas defensivas de cobertura e que terão sempre tempo para reagir e se adaptar a qualquer movimento-surpresa dos atacantes. Jogar longe é estabelecer uma relação de facilidade e de conforto - é seguro mas rende pouco.
O ataque no rugby de bom nível só é eficaz se realizado em cima da defesa – obrigando os defensores a precaverem-se, desconfiando do seu corredor interior, a diminuir a sua velocidade de subida, a tomarem decisões e a não poderem, pura e simplesmente, deslizar para fora e usar as linhas laterais como parceiro ou a inverter a sua subida, fechando o exterior e obrigando à penetração premeditada. A aproximação da linha de vantagem garante ainda a eficácia, pela maior rapidez, do apoio na zona de contacto – questão decisiva para a manutenção ou reconquista da bola. Sendo hoje o ataque favorecido quando do contacto na manutenção da bola– pela exigência ao placador de soltar de imediato o portador – o jogar “dentro” do seu meio-campo, retirando a vantagem ainda possibilita a recuperação adversária (turnover).
Não sendo fácil jogar na cara da defesa, as equipas devem ser sempre treinadas nesse sentido – começando, para que isso seja possível, por garantir que o cinco-da-frente não cede um centímetro de terreno.
