quarta-feira, 17 de novembro de 2010

LOBOS E EAGLES

[…] Não passámos este exame, mas foi um bom e exigente teste.
Errol Brain, seleccionador nacional
Apesar de estarem acima de nós no ranking devíamos ter ganho
João Correia, capitão do XV de Portugal

O XV de Portugal conseguiu um resultado com os Estados Unidos bem melhor do que o de 1998 (61-5) – sei bem como sentimos a impotência de então: a equipa era da minha responsabilidade.

...cinco-da-frente capaz...
Os tempos de hoje são outros, os equilíbrios no Tiers2 também e Portugal, embora derrotado fez, afinal, o resultado normal que os seus pontos do Ranking IRB e a condição de visitado minimamente exigiam: derrota por 7 pontos de diferença para um intervalo de razoabilidade de 4 a 10 pontos. Derrotado por 5 pontos o XV português fez o que lhe competia, pode dizer-se. Sem rasgos, mas mantendo-se respeitável.

O acesso à alta cavalaria desportiva exige o cumprimento de responsabilidades competitivas que permitam a coexistência de equilíbrio e resultado – as excepções exigem um outro nível de consistência curricular. Ou seja: a respeitabilidade dos resultados ao nível do Alto Rendimento não caem do céu mas resultam da fluidez sistémica e da eficácia e capacidade de uma organização desportiva.

Sabendo-se que não há jogos a feijões, estes jogos, numa visão estratégica de posicionamento, contam – desde que com resultados equilibrados e que não traduzam desastres competitivos como aconteceu à Espanha – para garantir, na situação portuguesa, argumentos para a manutenção futura no Tiers2 – e o acesso a jogos desta natureza – ou para obrigar a que se mantenham vinte equipas na fase final do Mundial. Ou seja: os resultados internacionais, para além do prestígio e conforto, têm a importância de permitir a defesa dos nossos interesses.

Embora derrotado dentro do previsível, Portugal podia ter ganho o jogo – como aliás reconhecem seleccionador e capitão. A oportunidade esteve lá mas os erros cometidos resultantes, é bom de ver, das facilidades competitivas internas, não perdoaram… valeram-nos, para a aproximação ao equilíbrio, o maior ritmo e habituação dos portugueses que jogam em França. E assim encontrámos um cinco-da-frente capaz de se impor, empurrando a formação americana. Com Gardener – finalmente a jogar na sua única posição possível: abertura – a dar, com a excelência do seu jogo ao pé, espaço às costas dos nossos defensores, aliviando pressões e marcando pontos, o XV de Portugal conseguiu uma estabilidade posicional que já não encontrava há muito tempo; mas Cabral, capaz de jogar em cima da linha da vantagem é um melhor atacante colectivo: mostrou-o mal tocou na bola ao encontrar intervalos para lançar companheiros. A terceira-linha de Bardy-Girão-Uva-Balangue teve um comportamento notável e terá sido a grande responsável, com as dobras defensivas ao meio-campo, pelo resultado conseguido. Sentimos a perda da oportunidade mas é bom fazer notar que nas linhas atrasadas – pena a falta na excelente combinação ao pé Gardener-Aguilar – não havia, para além das enormes dificuldades defensivas, capacidade de penetração para as exigências do jogo. Mas houve atitude e durante longos minutos da primeira-parte, a defesa colectiva da linha de ensaio foi épica.

Os Estados Unidos, que estarão presentes no Mundial 2011, desiludiram. E se fosse americano estaria muito preocupado com as incapacidades tácticas demonstradas pela equipa – e provavelmente a perguntar-me o que farão Eddie Sulivan e seis (!?) adjuntos... – que se mostrou incapaz de impor jogo. E que acabou por ganhar apenas pela exploração dos erros portugueses não mostrando qualquer capacidade de exploração táctica da relação de forças entre as duas equipas.

Como ponto positivo apenas a sua capacidade de agrupar eficazmente nos pontos de quebra, garantindo a posse da bola em tempo útil mas para, logo de seguida e incapaz de ler o jogo à sua frente, atacar para o lado da superioridade numérica portuguesa (de um ponto de vista táctico é fácil perceber porque haveria mais portugueses…). Apenas uma vez escolheu o lado fechado para conquistar 30m de terreno – de nada serviu, nem para dentro do campo nem para o banco.
  
O XV USA nunca se mostrou capaz de ler a defesa portuguesa e apresentar argumentos para a ultrapassar. Jogando a quilómetros da linha da vantagem (LV) os três-quartos americanos deram sempre tempo e espaço para que a defesa portuguesa fizesse duas coisas: que a sua terceira-linha conseguisse chegar em tempo de cobrir as deficiências defensivas do meio-campo e que estes, mesmo defendendo em dificuldade, pudessem – pela leitura que a distância permitia – fechar o intervalo e, em dupla, bloquear o atacante. Da única vez em que atacaram a LV resultou um ensaio – não o repetindo, demonstra-se a incompreensão…

Os portugueses podiam ter ganho: por duas vezes chutaram para fora para tentar – em provável erro de perspectiva – o penalti-touche que lhes desse o ensaio. Não conseguiram e seria mais acertado tacticamente garantir os três pontos do primeiro para aumentar a pressão sobre os americanos. Aliás não percebo – parece que está fora-de-moda – porque não existem – como sempre existiram – combinações para jogar os pontapés de penalidade que, por uma ou outra razão, não são tentados aos postes ou não se pretende chutar para fora. Ter uma ou duas combinações no bolso pode ser útil e marcar a diferença entre derrotas e vitórias…

Para uma promessa da arbitragem com que vinha rotulado, o árbitro, JP Doyle, foi uma sombra. Não é que tenha prejudicado expressamente alguém, mas foi fraco, pouco coerente, pouco consistente e suficientemente confuso. Andou, meio perdido, por ali. Dois exemplos, favoráveis aos Lobos: marcar (1ª parte) a penalidade a 15m quando era no local, no corredor de 5m – melhor ângulo e maior facilidade para três pontos; pontapé de Gardener (2ª parte) dentro da área de ensaio, catorze portugueses à frente que nada fizeram para recuar – pontapé de penalidade por marcar em posição favorável. Um exemplo favorável aos Eagles: o passe para o segundo ensaio americano foi, muito provavelmente, adiantado e só a má colocação do árbitro não lhe permitiu, ainda hoje, saber o que se passou. Quem se queixa da arbitragem portuguesa deveria pôr aqui os olhos…

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