Os Lobos fizeram contra o País de Gales e na sua estreia mundial um bom resultado. Perder contra uma das grandes é um resultado normal e se o normal estaria em perder, de acordo com o algoritmo utilizado pelo XVContraXV, por uma diferença de 24 pontos (veja aqui), terminar com uma diferença de 20 pontos, é bom. Significa atitude, combate, determinação. Mas não autoriza a tomar a nuvem por Juno.
Em alguns momentos a equipa não esteve mal produziu acções interessantes e não foi um qualquer entusiasmo levado longe demais que fez somar erros mas sim a falta de hábito competitivo deste nível que nos impôs a dificuldade de ultrapassar a linha-de-vantagem e assim não foi possível encadear para colocar dificuldades a um adversário que, embora se conheça colectivamente apenas de treinos, é constituído por jogadores habituados a níveis de intensidade e pressão muito superiores aos dos nossos jogadores, incluindo aqueles que jogam em França onde só Tadjer jogou na época passada no TOP14. Por essa realidade ainda é só aparente a possibilidade de um resultado inverso. E não vale a pena chover no molhado mas sim reagir, percebendo as adaptações necessárias para o elevado nível em que nos encontramos. Até porque a atitude combativa dos Lobos, devendo ser salientada, foi exemplar.
São normais os erros cometidos. Porque os mundos de vivência e hábitos são diferentes.
Mas gostei de Nicolas Martins e Rafael Simões e considero formidável o ensaio do alinhamento — a captação de Rafael Simões é de uma limpidez olímpica e, feito no ar, o passe a uma mão com torsão do pulso e ainda o disfarce de não olhar para o receptor para entregar, num offload aéreo, a bola a Nicolas Martins, foi excepcional. De verdadeira categoria. Ali ou em qualquer outro estádio do mundo. E Nicolas com as suas 18 placagens e os 47 metros de transporte de bola mereceu, pelo que tem demonstrado também noutros jogos, o primeiro ensaio lobo deste Mundial.
Mas tudo terminou da pior maneira com a expulsão de Vicent Pinto que, negligentemente, acertou com um pé na cara de Josh Adams — e não vale a pena introduzir qualquer estória sobre o caso. Intencionalmente ou não, não é isso que está em causa no julgamento mas sim a consequência da acção. E a consequência foi um pontapé na cabeça do adversário que está lá e não caiu do céu e a preocupação evidente da salvaguarda da integridade física dos jogadores não encontra, na forma como a acção se desenrolou, qualquer mitigação e tem o cartão vermelho como resultado lógico.
Do jogo, lições suficientes se podem tirar para que a evolução da equipa seja uma realidade. Sem procurar que os azares sirvam de desculpa para os erros cometidos que são reais e têm reais causas. Avancemos, portanto.
Esta segunda jornada mundial foi quase totalmente de resultados previsíveis, tendo alguns aumentado ainda o desequilíbrio já previsto. A excepção foi dada por Fiji que nos ofereceu a surpresa de uma vitória sobre os australianos e criando assim no Grupo C — grupo ao qual Portugal pertence — um aumento de intensidade e de dificuldades em que, para além da vitória, os pontos de bónus vão ser essenciais para a classificação final, formando, juntamente com o Grupo B, um novo “grupo da morte” onde os próximos jogos não permitirão descansos. Estamos num Mundial…