terça-feira, 19 de setembro de 2023

UMA VITÓRIA DESPERDIÇADA?

 UMA VITÓRIA DESPERDIÇADA?

Na abertura do seu Mundial, Portugal fez um bom resultado — derrota por diferença menor (20 pontos) do que o então posicionamento de ambas as equipas no ranking mundial propõe (24 pontos) — contra a equipa de Gales que apesar de uns últimos resultados pouco de acordo com o seu historial de pertença, desde sempre, ao melhor cinco europeu, continua a ser formada por jogadores habituados a um nível competitivo onde a intensidade faz regra e a adaptação à rapidez de movimentos obriga ao desenvolvimento de gestos técnicos eficazes. E estes jogadores galeses, apesar de se mostrarem, como é natural porque, como equipa, não se conhecem fora dos treinos, um colectivo falho de boas soluções, possuem no entanto uma experiência muito superior à dos jogadores que formam a equipa portuguesa — enquanto todos os jogadores galeses jogam nas divisões mais elevadas, os jogadores que jogam na equipa portuguesa são limitados a um campeonato nacional português sem nível competitivo capaz (16 jogadores) e os que jogam em França — tirando Madjer e Samuel Marques que já jogaram no Top14 —  jogam na 2ª(11), 3ª(2), 4ª(1) e até na 5ª (1) divisões francesas. O que significa que não são peças do mesmo mundo.


O resultado, a atitude e a exibição dos Lobos terá assim — essa estória de que iríamos ganhar aos galeses não tinha, como não tem, qualquer sustentação e não passa de uma fabulação sobre uma realidade inexistente — que ser positivamente considerada: mostramos, apesar das diversas inconsistências, saber jogar— o ensaio de Nicolas Martins depois de uma captação olímpica e um passe magistral a uma mão com desvio enganoso do olhar de Rafael Simões, é de enorme categoria numa manobra muito bem combinada (vai ser “roubada” por outras equipas…). Mas não nos podemos colocar em patamares que estão muito longe da nossa realidade. Porque o nosso mundo —o que torna a prestação dos jogadores portugueses ainda mais valiosa — está noutro lugar. E para o perceber basta ver onde jogam, domingo a domingo.


Tudo correu bem?! Fora do faz-de-conta das aparências, não! Muita coisa está ainda longe de estar afinada e no seu devido lugar, faltando ainda muita construção e alterações conceptuais. Mas há melhorias: menos colisão e mais manobra mas ainda sem a capacidade de penetração desejável — apenas 53 ultrapassagens da linha-de-vantagem contra 90 dos adversários e, por isso a diferença entre os 373 metros de transporte da bola contra os 636 dos galeses — porque falta à equipa a coesão do apoio. E se melhorámos muito nos alinhamentos com 12 conquistas em 13 lançamentos e 2 “roubos”, já a formação-ordenada, pese a entrega e esforço dos nossos Francisco Fernandes, Mike Tadjer e Anthony Alves, tem ainda muito que melhorar e o Força 8 que anda por aí ao dependuro tem que ser retomado — preparando os necessários substitutos. Naturalmente que fizemos mais placagens (156) do que os galeses (112) mas fomos menos eficazes: 76% contra 78%. 


E tudo isto justifica o resultado final que espelha a realidade da diferença das duas equipas: 4 ensaios a 1.


Para podermos competir a este nível ainda nos falta muito. A começar por um campeonato interno suficientemente competitivo que possa habituar os jogadores a um nível elevado que lhes proporcione experiência em equipas estrangeiras de primeira categoria. Então sim, estaremos em pé de igualdade e poderemos exigir resultados contra as grandes equipas. Até lá… 

(publicado no Público on-line de 19 de Setembro de 2023) 

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