segunda-feira, 25 de setembro de 2023

VITÓRIA DEITADA FORA

Num estádio cheio — Stadium de Toulouse — os Lobos conseguiram, perante uma enorme parte do público a apoiá-los veementemente, um bom resultado com o empate de 18-18 (o 4º de 26 jogos com 18 vitórias georgianas e 4 portuguesas) quando as perspectivas davam uma diferença de 11 pontos favoráveis à Geórgia. Mas soube a pouco, a muito pouco até…porque a vitória esteve lá, à mão de semear, até ao minuto final, mas… e como os jogadores mereciam esta vitória. Pela atitude, pela determinação, pelo empenho e pela adaptação conseguida. Pena foi que…


O jogo teve duas partes distintas. Na primeira, o domínio da Geórgia foi absoluto — 67% de posse, 78% de território com um ensaio marcado aos 3 minutos (e mais 2 anulados por muito pouco) — com os portugueses a jogarem muito mal ao pé e a cometerem vários erros mas a conseguirem aguentar-se em defesa e impedindo o descalabro que, face ao que se via, se começou a temer. Mas marcando também um ensaio aos 35’ a aumentar a confiança nas suas possibilidades, a 1ª parte terminou com 13-5 favorável à Geórgia sempre com o incansável público a puxar pelos Lobos num belo espectáculo das bancadas — houve holás!

Na 2ª parte tudo mudou e Portugal conseguiu inverter os dados (62% de posse e 52% de território) marcando, depois de transformar 2 penalidades por Samuel Marques, um ensaio aos 57’ de novo por Rafaelle Storti e os Lobos passavam, com 13-18, para a frente do marcador. E assim se mantiveram, numa permanente incerteza de acelerar o coração, até aos 78’, altura em que um fucking-rucking-maul georgiano, depois de uma falta estúpida, despropositada e escusada que permitiu colocar o alinhamento a 5 metros da linha de ensaio portuguesa, conseguiu o ensaio para chegar ao empate de 18-18. Um verdadeiro pontapé no peito!

Pontapé no peito que seria desnecessário porque com a vantagem de 5 pontos a partir dos 57’, a vitória, desde que houvesse a estratégia adequada, estava ali. Ali mesmo à mão!

Na 2ª parte os georgianos não foram capazes, por erro conceptual, de se mostrarem perigosos. Isto é, os georgianos procuraram de novo impôr a sua força como tinham feito na 1ª parte. Mas com um erro monumental: nunca conquistando território suficiente para se posicionarem na área-de-22 portuguesa. Ou seja e com medo — questão táctica trazida do balneário — do nosso três-de-trás, esqueceram-se de chutar e permitiram que os Lobos tivessem, nas suas costas, terreno suficiente para poderem adaptar e desmultiplicar a sua defesa. E os georgianos continuavam obcecadamente a tentar romper a defesa portuguesa no 1º canal nem tendo reparado que Jerónimo Portela estava a defender na posição de 2º centro. E sem sentir o perigo de ter que defender na proximidade da própria linha-de-ensaio, os portugueses seguravam o jogo e procuravam uma oportunidade de recuperação para o lançamento dos ataques desorganizados de que tanto gostam e onde são bem eficazes.

Mas o jogo pedia mais inteligência táctica. Coisa a que o banco se manteve alheio.

Primeiro substituindo Samuel Marques aos 73’ num erro  — não se percebeu que tivesse sido por lesão — brutal ao lançar nos últimos minutos de jogo um novo jogador que estava fora do conhecimento dos pormenores que o jogo havia já determinado e que, portanto, seria, como foi, o primeiro passo para o desastre. Falta e penalidade por desatenção, por desfoque e jogo empatado com vitória a fugir e o empate a chegar.

Em segundo lugar, não houve ordens ou chamadas de atenção — e dentro do campo ninguém se lembrou provavelmente porque não foram treinadas situações para o fazer (o que depois do que se viu com o inglês Ford é um erro, no mínimo, de concepção) — para a realização de pontapés-de-ressalto que colocassem o resultado com a diferença vitoriosa de 8 pontos. Atrás de um português, antigo jogador e que jogou em França, estava Didier Camberabero — o notável abertura internacional francês — e que, contou-me, lhe perguntava: pourquoi pas un drop? Il faut essayer le drop. Que grau de risco haveria? Praticamente nenhum: ressalto falhado, pontapés-de-22 do adversário com entrega de bola — a que podia seguir-se nova e nova tentativa…

E, no caso da penalidade da última — ponteiro nos 80 minutos — oportunidade, que estava localizada no lado direito do campo e próximo da lateral, não devia ter sido escolhido o excelente Nuno Sousa Guedes, pelo facto de que áquela distância e naquela localização, ser preferível um canhoto para que a curva da trajectória fosse favorável — e o canhoto com hábitos de chutador, estava dentro do campo: era o Jerónimo Portela. A responsabilidade do último pontapé deveria ter-lhe sido entregue.

O empate, sendo um bom resultado e permitindo os dois primeiros  pontos na classificação de um Mundial, deixou aos espectadores e principalmente aos jogadores — com um Madeira com 18 placagens, um Pedro Bettencourt e Nicolas Martins seleccionados pelo Midi Olympique para o XV de la Semaine, Jerónimo Portela considerado o Homem do Jogo e um Raffelle Storti que marcou — notável proeza — dois ensaios com 123 metros conquistados, um enorme amârgo de boca. Foi um resultado curto que tinha todas as possibilidades de o não ser. A vitória estava à porta e foi deitada fora —  tenho pena de o ter que escrever — por diversas negligências e desatenções táctico-estratégicas… 

Ou seja: perdeu-se um jogo que estava ganho por falta de inteligência táctica que não permitiu evitar os erros que deitaram fora a vitória. E em vez da satisfação, fica-nos a decepção. Os jogadores não mereciam!

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