quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
PORTUGAL-BÉLGICA FEMININO: 2º jogo internacional
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
FALTA DE RESPEITO!
… e sem desculpas!
sábado, 4 de dezembro de 2021
OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO (PARTE I)
Todos nós gostamos de ver, em Coimbra, os Lobos (19º lugar no ranking) a baterem-se contra uma equipa superior no quadro internacional com muito maior experiência como o Japão (10º lugar no ranking). Lutaram, tiveram uma boa atitude — muito superior, diga-se, ao dia seguinte, na Luz, ao que mostraram os futebolistas portugueses (7º lugar do ranking) contra a Sérvia (23º do ranking) — e tiveram sempre a possibilidade da vitória na cabeça.
Para uma previsão de derrota por 19 pontos, a diferença final de 13 pontos estabelece um resultado melhor do que o esperado. Mas, por melhor que seja o contentamento de uma consequência de apenas 0,03 pontos de ranking perdidos, este jogo contra o Japão não foi mais do que uma esplêndida oportunidade deitada fora. E como tal deve ser olhada.
Seria o melhor resultado de sempre do rugby português e deixámo-lo fugir por entre os dedos. E não foi apenas pelo erro de ansiedade da última jogada — um passe feito numa situação que, se lida convenientemente, resultaria na decisão de uma finta-de-passe. Mas houve mais desperdício: que exige análise, pensamento e correcção.
Também não se pode falar de falta de experiência — os jogadores que actuam no campeonato português têm já, fora os feitos pelos Lusitanos, mais de 10 jogos internacionais efectuados enquanto que os outros, jogando no campeonato francês que, mesmo sendo o PROD2, lhes dá a experiência necessária. Não sendo portanto falta de experiência, será falta de conceito na sequência de jogos anteriores que entregaram a vitória por entre os dedos?
Desperdiçada esta oportunidade mandam os princípios do desenvolvimento competitivo permanente que não se disfarcem as falhas e erros com o contentamento despropositado por a derrota não ter sido tão má como isso. O que se deve fazer é proceder à análise conjunta do sistema competitivo em que nos movemos e encontrar as mudanças estratégicas, tácticas e técnicas que serão necessárias promover.
Como se pode ver pelo gráfico "Conquista", existiu, em todos os parâmetros deste domínio e com excepção das formações-ordenadas que se equilibraram na conquista, vantagem da equipa portuguesa. E com mais vantagem nos rucks, turnovers e penalidades conseguidas — 15, sendo 6 no meio-campo adversário, contra 8 consentidas pela equipa portuguesa. Com esta vantagem global, como se perde o jogo? E não, a resposta não foi o azar do último minuto. Foi o desperdício... até porque, para além da vantagem da posse, tivemos ainda a vantagem de jogar durante 15 minutos, nomeadamente os 5 minutos finais, contra 14 japoneses por dois amarelos aos 41 e 75 minutos.
E esta pior relação de eficácia — e os japoneses tiveram dois cartões amarelos — deve-se muito ao facto de, por um lado, continuarmos a ir demasiadas vezes para o chão em situações de contacto, esquecendo-nos que a ida para o chão representa a vitória da defesa que assim ganha tempo para se reorganizar — manter a bola viva, seja com passes-em-carga, seja com o dar-as-costas ao adversário antes do contacto, procurando o apoio de um companheiro, deve ser a marca do nosso jogo. Ou seja um permanente jogo de movimento em que a circulação da bola vai comandar as linhas, ângulos e direcções do apoio dos jogadores com o objectivo de chegar ao ensaio como propósito.
Por outro lado, continuamos, ao recorrer ao bloco de 3 jogadores, normalmente avançados, para procurar uma entrada que desorganize a defesa, entregando a tarefa ao jogador central do trio sem qualquer movimento — como um passe que permita jogar para o interior ou uma dobra para atacar o exterior — que possa surpreender o adversário. Com o resultado habitual do chão para tudo se ter reiniciar outra e outra vez porque a desorganização defensiva não existiu. E a isto junta-se ainda uma linha-de-três-quartos a manobrar muito longe da linha-de-vantagem, não conseguindo a necessária verticalização e sem qualquer recurso a movimentos — como se viu ainda recentemente a dobra irlandesa continua e permitindo assim que a defesa possa deslizar sem problemas e equilibrar a relação defesa/ataque, garantindo com facilidade o cumprimento da lei-do-espelho. E a regra aqui é simples: se vamos ao chão, o tempo de libertação da bola para a voltar a fazer circular continua no limte do “1-2-3” — se a rapidez de disponibilização for desta natureza, o movimento pode continuar e os três-quartos podem ser chamados a intervir, se a demora ultrapassa os três segundos é necessário, como se já se viu, voltar a atacar junto do reagrupamento seja por “apanhar e andar”, seja por passes curtos. Com uma vantagem: poder ultrapassar a linha defensiva e criar uma boa oportunidade atacante. Mas tudo exije movimento — da bola e dos jogadores — e uma boa leitura que deve assentar numa boa comunicação.
Outro dos factores que não tem melhorado ao longo dos jogos tem sido o jogo-ao-pé que não garante a criação de situações de desconforto ao adversário nem tão pouco o obriga a tomar decisões de risco. Com a 50:22 e o normal recuo da terceira-linha de cobertura defensiva torna-se necessário, para explorar as novas situações espaciais, utilizar também novos processos que provoquem mossa na organização defensiva adversária. Chutar por chutar não corresponde mais do que a um jogo ao pé de alívio e a uma entrega fácil da bola ao adversário. Isto é, a deitar fora bolas que permitiriam uma utilização atacante e, pelo menos e na grande maioria dos casos, exigiriam ao adversário esforços de conquista. Chutá-las assim é, dir-se-ia, dar uma borla…
[CONTINUA em OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO (PARTE II) ]
OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃo (PARTE II)
[ CONTINUAÇÃO DE OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO (PARTE I) ]
Ao nível internacional, o jogo-ao-pé tem um enorme importância e, se bem explorado, pode ser uma arma que transforma um jogo, alterando as suas circunstâncias e colocando o adversário em difíceis situações... e muitas vezes, principalmente com a área-de-ensaio perto, recorrendo ao pontapé-rasteiro, como teria sido o caso numa das situações do jogo, em vez do escolhido curto pontapé-de-balão. Porque no pontapé-rasteiro, para além de ser corrida pura e os atacantes terem a vantagem de ir de frente, ao defensor cria-se uma mais difícil situação de pontapear a bola e, com a nova regra, uma difícil opção se lhe coloca: ao fazer toque-no-solo o defensor fica — de acordo com a responsabilidade da colocação da bola na área-de-ensaio — com a possibilidade de recomeçar o jogo com um pontapé-de-ressalto da linha-de-ensaio ou a de entregar a bola ao adversário para uma formação-ordenada a 5 metros. Em qualquer das situações as vantagens do atacante são óbvias — se a bola for pelo ar a possibilidade de um pontapé-de-alívio é de maior facilidade de execução…
Onde se notou a maior diferença entre a suas selecções foi nas placagens. Os jogadores portugueses falharam, para 105 tentativas, 24 placagens enquanto que os japoneses em 137 tentativas apenas falharam 14 placagens numa diferença de 30% para 11%. E aqui terá estado uma das razões da derrota portuguesa que terá permitido a marcação de ensaios que construíu a vitória nipónica.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
O QUIM PEREIRA FAZIA ANOS HOJE
O Quim fazia hoje 84 anos. Infelizmente, deixou-nos antes de o podermos comemorar...
Tive com o Quim uma relação de profunda amizade construída na relação de jogadores de uma mesma equipa — CDUL —e com uma mesma visão rugbística, entre o treinador que ele era e o jogador que eu fui e entre o treinador que sou e o jogador que ele foi. Ou seja: jogamos juntos, ele foi meu treinador e eu fui seu treinador num ciclo invejável. A sua última selecção foi, comigo a seleccionador, contra a Espanha em 1984 — tinha então 46 anos! E jogou pelo CDUL até aos 50. Uma força da natureza.
E tivemos diversas aventuras nas viagens pelo país fora. Numa delas, numa vinda de um jogo em Coimbra já depois do jantar e de uma cervejolas no clube, ficámos sem gasolina no carro — o Quim tinha-se esquecido de verificar o depósito... Já era noite e com o carro parado na estrada, só víamos faróis aos quais acenávamos a ver se alguém parava... Parou um e quando explicávamos que éramos dos rugby e tínhamos ficado sem gasolina ouvimos um "Do Rugby?! Você é o Quim Pereira, não é?" e tivemos a oferta do Joaquim Meirim, treinador de futebol, que, com toda a simpatia, nos disponibilizou toda a gasolina que precisássemos. Uma sorte!
Recordo também e sempre os seus telefonemas quando estava na tropa: “Podes vir jogar no domingo?”. E quantas vezes, de serviço, mas com o apoio do “sargento-de-dia” vinha de Tancos a Lisboa numa ida-e-volta com jogo pelo meio. Belos tempos passados em treinos, em viagens, em jogos, em recuperações à mesa e sempre com o Rugby como tema.O Quim foi, no rugby português e numa longevidade ímpar, um “homem dos sete ofícios”: jogador internacional, formador de centenas de jogadores, jogador-treinador, treinador-jogador, treinador de selecções jovens, adjunto de selecções nacionais.
Como jogador, foi 17 vezes internacional a ponta, terceira-linha e pilar (a ponta foi uma maldade que lhe fizeram: como era grande e forte podia parar os “monstros” dos romenos...). No CDUL, onde participou na conquista de 11 campeonatos nacionais, tinha a qualidade de obrigar os companheiros a darem o seu melhor nem que fosse com uma palmada disfarçada — pedagógica, dizia — numa qualquer molhada, de “agressão do adversário” — “Então já te deram e tu ficas-te?!” perguntava com um ar mal disfarçado de brincadeira. E nunca saiu do campo zangado fosse com quem fosse.Nuns tempos em que ainda havia muito de “postes às costas”, o Quim Pereira foi, pelos processos e métodos utilizados, um modernizador do rugby português. Com ele houve um salto do “vamos lá
jogar” para uma organização relacionada com o Desporto de Rendimento que o Rugby português haveria de percorrer.
O Rugby Português em geral e o CDUL em particular devem muito ao Quim. O CDUL porque foi ele que, durante anos e alguns deles muito difíceis no pós-revolução de Abril, o manteve vivo, na permanência como clube rugbísticamente qualificado. A sua mala do carro foi, ao longo de anos, a secretaria do clube. Aí se guardavam todos os documentos como as fichas e licenças dos jogadores, os equipamentos e as bolas. Em dia de jogo era, depois de ter passado na lavandaria e de definir a equipa, abrir a mala, retirar as licenças, preencher o boletim-de-jogo, distribuir os equipamentos, pegar nas bolas, fechar o carro e ir para o campo para jogar. Mas os trabalhos do Quim não acabavam aqui, se ao sábado eram seniores, ao domingo eram juniores. E os treinos, para uns e outros e numa sequência constante, eram quase todos os dias da semana...Uma vida dedicada ao Rugby.
Nuns tempos em que ainda havia muito de “postes às costas”, o Quim Pereira foi, pelos processos e métodos utilizados e para além do contributo para a formação humana, desportiva e cívica de centenas de jovens, um modernizador do rugby português. Com ele houve um salto do “vamos lá jogar” para uma organização relacionada com o Desporto de Rendimento que o Rugby português haveria de percorrer.PRIMEIRA SELECÇÃO FEMININA DE XV DE PORTUGAL
Agora que se vai jogar o Portugal-Bélgica a contar para o Women’s Trophy 2021/22 mostro, 26 anos depois, a fotografia, com os nomes das pioneiras dos treinadores Henrique Rocha e Vasile Constantin da primeira selecção feminina de Portugal que jogou contra a Alemanha em 15 de Maio de 1995.
Esperemos que desta memória isolada se encontre agora a continuidade necessária da representação nacional feminina.
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
O NORTE EM GRANDE
sábado, 20 de novembro de 2021
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
JAPÃO NATURALMENTE FAVORITO
Portugl defronta, em estreia oficial, pela primeira vez — o jogo de 2007 foi um treino e não jogo oficial e que, por isso, ambos os países não atribuíram internacionalizações — o Japão, actualmente na 10ª posição do ranking da World Rugby.
Dada a diferença de posicionamento e de pontuação, o Japão é naturalmente favorito com a teórica vantagem de 19 pontos de jogo de diferença.
Portugal tem neste jogo um teste para medir as suas capacidades competitivas em relação ao RE Championship 2022 que apura para o Mundial de França. Com ainda dois jogos dso Lusitanos antes do início da nova época internacional, os Lobos terão, a partir do que este jogo demonstrar, tempo de correcção e adaptação para a melhor preparação.
sexta-feira, 5 de novembro de 2021
PORTUGAL FAVORITO CONTRA O CANADÁ
De acordo com os valores e classificação do actual Ranking da World Rugby, os Lobos, neste 5º jogo que irão disputar com o Canadá, amanhã sábado, no CAR Rugby do Jamor e apesar das quatro derrotas anteriores, são favoritos à vitória com uma previsão de diferença, como se pode ver no quadro abaixo, por 16 pontos de jogo.
E se o prognóstico contraria absolutamente o último resultado entre os dois países, em Lisboa e em 2013 com 52-13 favorável aos canadianos que marcaram 7 ensaios, 4 transformações e 3 penalidades contra 1 ensaio e uma penalidade do lado de Portugal, também acontece que antes do início da pandemia os prognósticos dariam para um jogo em casa uma vantagem para Portugal por 3 pontos para, um ano depois, a vitória continuar a ser portuguesa, agora por 6 pontos.
Entretanto e apesar de duas das derrotas canadianas terem sido contra a Inglaterra e o País de Gales — que pela distância de pontuação do ranking ser superior a 10 pontos não tiveram qualquer influência no seu posicionamento que, aliás, já era inferior a Portugal — as outras derrotas foram contra os Estados Unidos e o Chile, resultados que valeram ao Canadá ficar fora do apuramento para o Mundial 2023.
Por outro lado Portugal conseguiu nos seus últimos 5 jogos internacionais 3 vitórias por números que, para além do valor da vitória em casa do adversário, ainda acrescentaram os bónus de vitórias superiores a 15 pontos de jogo. Daí que o algoritmo, que não pondera mais nada para além da objectividade dos valores, não estando errado no favoritismo que concede aos Lobos pode também não estar longe da actual diferença entre as equipas. Veremos amanhã...
quarta-feira, 3 de novembro de 2021
O RETORNO DO 5/8?
O papel do médio-de-abertura, com as alterações de Junho de 2020 referentes à zona-de-placagem, permitindo uma mais rápida disponibilidade da bola, modificou-se. Tornou-se mais exigente na leitura e na consequente decisão. Mas também no movimento e linhas-de-corrida. Para além do facto de serem obrigados a adaptarem-se a outras tarefas — nem sempre serão os primeiros receptores dos passes daqueles que, embora muitas vezes sem o nº 9 na camisola, os fazem das situações "expontâneas"...
O recurso a jogadores com características próximas dos tradicionais médios-de-abertura — boa leitura, bom jogo ao pé, capacidade de aceleração e de variação do jogo — em lugares como 1º centro ou defesa não é novidade. Os franceses, os irlandeses, os australianos ou os ingleses já recorreram, desde os anos 80, à utilização de dois aberturas de formação, umas vezes para não deixarem de fora dois talentos, outras para encontrar soluções contra determinado tipo de tendências de organizações defensivas. Mas nunca com as intenções actuais.
Curiosamente os neozelandeses, os inventores dos 5/8, quando recorrem a dois aberturas — e fazem-no muitas vezes para não prescindirem da categoria dos seus talentos na posição (tendo até já jogado com três aberturas — 10, 12 e 15) — utilizam-nos, na maior parte das vezes nos lugares de abertura e defesa. No fundo o objectivo é o mesmo: permitir que uma jogador com os hábitos de leitura e decisão esteja sempre disponível e suficientemente próximo para tirar partido das rápidas bolas dos reagrupamentos.
O nome de 5/8 para o que hoje designamos por abertura e 1º centro então com a designação de Primeiro e Segundo 5/8 nasceu na Nova Zelândia — terá sido Jimmy Duncan capitão dos All Blacks de 1903 que assim os designou na altura em que o número de avançados estacionou em oito e aumentou o número dos 3/4.
Se o facto da velocidade de disponibilização da bola a que se juntava muitas vezes uma concentração de defensores, já chama a atenção para a vantagem de ter um parceiro de características idênticas junto ao tradicional abertura com a consequente capacidades de uma segunda distribuição do jogo e a possibilidade de explorar de forma mais eficaz quer o recurso do ataque em duas-linhas quer pela capacidade de uso do jogo-ao-pé mais preciso e capaz de explorar espaços vazios na defesa adversária.
Este retorno, com a aplicação da nova Lei dos 50:22, está a ganhar uma maior dimensão. Que, aliás, faz todo o sentido. Porque as alternativas para um 5/8 (12) mostram-se inúmeras... principalmente porque, quando já tem a bola à sua disposição, os seus adversários defensores já tiveram que alterar a sua posição inicial para — perdendo a comodidade do conhecido — tomarem a decisão de novos caminhos a seguir e, muitas vezes nesse necessário movimento de nova ocupação, deixando livres outros espaços que podem ser explorados com proveito.
No momento sequente ao da conquista da bola e com a bola entregue ao abertura atacante, o ponta-aberto da defesa terá, logo que percebe que o jogo atacante se fará ao largo, que subir para o nível da segunda-cortina defensiva para não deixar encurtar a defesa em relação ao número de atacantes. E é aí que entra o papel do 5/8 — que pode jogar ao pé para o espaço deixado livre pelos outros membros da anterior 3ª cortina defensiva. E repare-se que o 4ª elemento que se prepara para integrar a 3ª cortina ainda não percorreu o espaço que lhe garantirá a profundidade defensiva necessária.
Pode assim perceber-se as vantagens do recurso a um duplo do abertura. E se o defesa tiver também as capacidades de um abertura actual — esse cada vez mais vagabundo de múltiplas funções — o ataque ganha uma dimensão superior, controlando tacticamente o tempo e conseguindo que o domínio territorial não dependa apenas das vantagens físicas.
A equipa da França, que joga contra a Argentina neste fim‑de‑semana prepara-se para utilizar esta estratégia chamando para abertura e 1º centro os notáveis Mathieu Jalibert e Roman Ntamack numa primeira experiência com vista ao Mundial de 2023. Embora não indo tão longe que recorram a um terceiro abertura para o lugar de defesa, não deixara de ser curioso observar o comportamento táctico da adaptação que o formação e novo capitão, Antoine Dupont, fará na sua cobertura defensiva. Poderá continuar a ser um libero entre a 2ª e 3ª cortina defensivas? Como palpite poderá dizer-se que, para a linha e ângulos-de-corrida defensiva de Dupont, muito dependerá da capacidade de deslizamento da defesa francesa.
Novos caminhos estratégicos com a sua construção táctica parecem assim surgir desta recente alteração que pode, muito bem, tornar o jogo mais espectacular.
Nota: a Lei 50:22 estabelece que se um pontapé for efectuado dentro do meio-campo do chutador e sair, depois de ter tocado no chão, pela linha-lateral da área-de-22, o lançamento subsequente pertencerá à equipa do chutador. Ou seja, com um bom gesto técnico de pontapé uma equipa pode colocar-se, com a vantagem das decisões que lhe permitem o seu próprio lançamento, dentro da zona vermelha do campo adversário e, realmente, conquistar terreno com o propósito de marcar ensaios.
terça-feira, 2 de novembro de 2021
UM CAMPEONATO COM POUCO EQUILÍBRIO
segunda-feira, 2 de agosto de 2021
UM JOGO DIFERENTE?
O trabalho da tradução das Leis do Rugby de 2018 que tenho feito com o Jorge Mendes Silva (Jójó), o Nuno Miranda e o Ferdinando Sousa tem-me lembrado o Bill Beaumont e a frase que me disse no Estádio Universitário quando lhe mostrei a Lei em inglês que, na escrita, contrariava a sua certeza: "Isso não interessa nada, nós jogámos assim!" e o "assim" correspondia à interpretação que faziam e não ao que estava escrito no livro das Leis do Jogo. A diferença entre o valor do costume e o conceito que nos rege transferida para uma visão imperial que o sir pretendeu impôr a um mero comendador republicano...
Uma das maiores dificuldades da tradução das Leis do Jogo esteve no facto de que a sua escrita nem sempre corresponder ao que está definido ser o que se passa em campo. Daí e porque o Rugby não é património bife e ser jogado por mais de uma centena de países — são 110 os países que compõem a lista do ranking da World Rugby — termos feito uma série de recomendações de melhoria da compreensão das redacções com maior aproximação à realidade do jogo que enviamos, com conhecimento e autorização da Direcção da FPR, aos serviços competentes da World Rugby. Imperialmente ainda não recebemos qualquer resposta...
E é claro que a tradução googliana para português do Brasil não nos serve.
A questão essencial das Leis do Jogo é esta: ninguém consegue, ao contrário do futebol por exemplo, aprender o jogo lendo o livro de Leis. E para quem diz que pretende a sua ampliação global, estamos conversados... E a redacção das Leis Experimentais realizada pelos experts da World Rugby, não vem ajudar nada na compreensão do jogo.
Como sabem aqueles que estão mais próximos do jogo, houve alterações experimentais às Leis do Jogo que entraram em vigor a 1 de Agosto e que dizem respeito aos seguintes conceitos: a) 50:22 - um pontapé dado dentro do meio-campo do chutador e que faça a bola sair indirectamente (bola bater no chão ou num adversário) pelas linhas laterais da área-de-22 adversária dará o direito à sua equipa ao lançamento da bola no alinhamento consequente — ou seja modifica-se o conceito estratégico de conquista territorial; b) ao recomeço do jogo por um pontapé de ressalto sobre ou atrás da linha-de-ensaio sempre que a bola fôr colocada dentro da área-de-ensaio por jogo ao pé ou por transporte e que haja um toque-no-chão da equipa defensora ou ainda por adiantado do atacante — mas nada se dizendo sobre outras resoluções para saídas de bola pelas linhas finais das área-de-ensaio; c) acabar definitivamente com a já proibida carga-de-cavalaria que víamos fazer com a formação de grupos de jogadores que recebiam a bola praticamente já lançados e que se agarravam ao novo portador da bola para romper as linhas defensivas normalmente na sequência de um reagrupamento; d) Limitando a apenas um jogador a ligação ao portador da bola, nomeadamente nas situações de pick-and-go, para evitar colocar o defensor numa perigosa insegurança física.
Estas Leis experimentais vão provocar alterações estratégicas ao jogo — pense-se na nova possível exploração do jogo ao pé com a 50:22 e como se poderá evitar a exploração do recomeço sobre a linha-de-ensaio — que poderemos perceber já no próximo Nova Zelândia - Austrália.
Se a adaptação, não sendo bem preparada, poderá criar problemas, a falta de clareza das leis pode criar maiores problemas à arbitragem e à compreensão táctica do jogo. E a nossa próxima época internacional será decisiva para garantir o caminho para o Mundial 2023…
Acresce a estas complicações que, por falta de clareza de definição na introdução das Leis Experimentais, haverá uma forte hipótese — se não houver o acrescento necessário que determine a não aplicação da 50:22 aos Sevens — que o último jogo da variante como a conhecemos tenha sido, num jogo de grande qualidade táctica, a final feminina Olímpica de Tóquio 2020 Para aqueles que gostam de ver a variante como um jogo de velocidade, de demonstração de habilidades técnicas e boa leitura espacial e das debilidades posicionais defensivas, a possibilidade de utilização da 50:22, transformando o Sevens num mero jogo de pontapés de conquista fácil de território, é real.
Que esta imagem que se publica não se transforme — para o que é necessário que os legisladores acordem a tempo —na saudade do Sevens que gostámos.
As novas Leis Experimentais serão o adeus aos Sevens clássicos? |
domingo, 18 de julho de 2021
BELA VITÓRIA! QUE ENTRE A FANFARRA!
Com esta bela vitória de 49-26 (20-14 ao intervalo) sobre a Rússia no belo estádio de Nizhny Novgorod, os Lobos, porque se trata do último jogo da 1ª volta que definirá o acesso ao Mundial 2023 e que haverá ainda alguns meses de preparação da 2ª volta, podem desfraldar bandeiras e passar um Verão divertido e tranquilo. Construiram uma boa e importante vitória que mantém acessível o acesso ao apuramento para o Mundial de 2023.
sexta-feira, 16 de julho de 2021
A VITÓRIA DEPENDE DA ATITUDE, O RESTO TEMOS
quinta-feira, 15 de julho de 2021
SETENTA INTERNACIONALIZAÇÕES NÃO O FAZEM CONCIDADÃO
As autoridades australianas não autorizaram, de novo, o pedido de naturalização de Quade Cooper, jogador profissional de Rugby, hoje com 33 anos, porque, ao que se lê não terá correspondido à exigência —“person engaging in activities of benefit to Australia — de serviços relevantes à Austrália. Ou seja um homem, nascido na Nova Zelândia e que, com 13 anos foi, com a família, viver para a Austrália e que, em 2005, partiu para uma digressão à Inglaterra com a equipa das Escolas da Austrália onde ocupava a posição de médio-de-abertura e pela qual jogou 9 vezes. Em 2008 jogou pela Austrália Sub20, 5 vezes. A partir de 2009 jogou 70 — SETENTA! — vezes com a camisola dos Wallabies — esteve presente no Mundial de 2011 —pelos quais marcou 154 pontos. Pertencendo à equipa de Sevens em 2016, não esteve presente nos Jogos Olímpicos do Rio porque não lhe tinha sido atribuída a cidadania australiana e não cumpria assim a exigência olímpica de nacionalidade. Portanto e ao que parece nada disto conta para que lhe possa ser atribuída a nacionalidade australiana — usaram-no enquanto puderam mas...foi-se...pouco importa.
Podem explicar o porquê do abuso desta decisão prepotente que se mostra — o que parece há-de ser — de enorme falta de senso comum num desagradecimento despropositado? Não, não vão explicar e utilizarão toda a retórica que conheçam para justificar o injustificável.
Felizmente que em Portugal — por mais que demorem processos de naturalização —o mundo é outro e não é possível a existência de um caso destes: nenhum atleta que represente Portugal teria (terá) um problema de naturalização rejeitada. E porquê? Porque o Decreto-lei nº 248-B/2008 — proposta da responsabilidade de Laurentino Dias então Secretário de Estado da Juventude e do Desporto — determina, no ponto 1 do seu Artigo 63º, Selecções Nacionais que: A participação em selecção nacional organizada por federação desportiva é reservada a cidadãos nacionais.
Portanto, qualquer atleta que vista a camisola oficial de Portugal para uma competição desportiva é cidadã[o] nacional, é português(a). Venha de onde vier, antes de pertencer a uma selecção nacional @s atletas têm a nacionalidade portuguesa. O que impede que, por uma qualquer vontade enviesada de um qualquer político sentado à secretária da sua importância, exista um preconceituoso abuso.
E por ser assim, os atletas das selecções portuguesas como os andebolistas Iturriza, Salina, Alexis Borges, o canoísta Antoine Launay, a cavaleira Luciana Diniz, @s judocas Jorge Fonseca, Anri Egutidze, Rochele Nunes, Bárbara Timo, as mesatenistas Fu Yu, Jeni Shao, a nadadora Tamila Holub ou @s atletas Auriol Dongmo, Evelise Veiga, Lorine Bazolo, Nelson Évora, Pedro Pichardo, que estarão presentes nos Jogos de Tóquio 2020 com a camisola portuguesa, não terão a desfeita da ingratidão. E os seus resultados serão, genuinamente, nossos resultados. Resultados portugueses pelos quais ficaremos gratos.
segunda-feira, 12 de julho de 2021
ORA AÍ ESTÁ!
Já quase não me lembro de ter visto um XV de Portugal a entrar para um jogo com a determinação, focagem e coesão como vi neste jogo entre os Países Baixos v. Portugal. E até o receio, pela paragem excessiva dos jogos competitivos em Portugal, de que a selecção nacional não estivesse capaz de se apresentar na necessária capacidade física, ficou de imediato afastada.
A equipa portuguesa entrou objectiva, com a lição bem estudada e apostada — aprendendo com erros de anteriores inícios de jogos — em não se deixar surpreender. Pelo contrário, procurou desde logo surpreender. O que conseguiu e de tal maneira que aos 13’ minutos de jogo ganhava por 21-0 com 3 ensaios marcados.
Para além da atitude competitiva que permitiu desde logo demonstrar as diferenças entre uma equipa que diz pretender estar no próximo Mundial de 2023 e outra que demonstrou estar ainda muito longe de constituir uma equipa competitiva para este nível, houve interessantes aspectos técnicos e tácticos que demonstraram — pesem embora algumas distracções que permitiram os pontos adversários — a diferença.
sexta-feira, 9 de julho de 2021
A IMPORTÂNCIA DE UM JOGO
quinta-feira, 8 de julho de 2021
A IGNORÂNCIA DAS LEIS DO JOGO
domingo, 27 de junho de 2021
O MOVIMENTO ATRAVESSOU A MANCHA
No início da minha ligação ao Rugby, os olhos estavam em cima dos franceses que faziam um jogo espectacular - dos AllBlacks havia poucas notícias e só se sabia que eram muito bons e que tinham uma visão simples e facilmente compreensível do jogo através dos Princípios Fundamentais com que o caracterizaram. E foi com o jogo de então dos franceses que percebi que a criatividade - a manobra - poderia sobrepor-se à força bruta e tirar maiores vantagens (só bastante mais tarde encontrei o conceito de Nun'Alvares Pereira de que se deve "no combate fazer prevalecer a manobra sobre o choque" que sintetiza tudo aquilo que deve ser feito neste jogo de combate que é o Rugby) e que assim seria permitido a portugueses - que não são o povo mais atlético do mundo - serem internacionalmente competitivos.
Com o passar dos anos o jogo francês com o seu "movimento" - de que aprendi os fundamentos com Pierre Villepreux que me abriu as portas ao conhecimento de René Delaplace - foi, infelizmente regredindo e deixou de ser uma referência.
A entrada de inúmeros jogadores vindos de outros países, de outras culturas desportivas e rugbísticas e que não tinham língua comum de entendimento terá dado nisto: o elemento de máxima comunhão do jogo, como acontece sempre que não há interpenetração cultural, era o seu aspecto mais simplório e de mais fácil compreensão: o choque, a colisão, o tentar vencer a organização defensiva não pelo movimento das combinações mas sim pela criação de desequilíbrios conseguidos pelo confronto directo das forças. Enfim, a aculturação do jogo traduziu-se numa regressão do estilo de jogo do hexágono que deixou de ser atractivo e de iluminar os caminhos do progresso da modalidade. E o jogo aproximou-se da memória que existia dos traços culturais das velhas lutas entre povoações, numa espécie de vale-tudo para colocarem a bexiga de porco na praça dos contrários.
Disto tudo me lembrei ao ver, neste fim‑de‑semana, as finais do campeonato francês — entre o Toulouse e o La Rochelle — e do campeonato inglês, entre o Exeter Chiefs — campeão em título — e o Harlequins. Porque a diferença entre a colisão francesa permanente e as manobras em movimento inglesas foram como do dia para a noite. Entre o tédio e o entretenimento.
No jogo entre os finalistas franceses — e também europeus —predominou a colisão na procura da ultrapassagem da linha-de-vantagem através da força e a consequente demora reequilibradora da reciclagem da bola — sabe-se que tudo o que seja mais demorado do que 2 segundos para libertação da bola significa a possibilidade de reorganização defensiva, resultando daí um ataque em inferioridade numérica, aperta da vantagem dum eventual desequilíbrio criado ea consequente necessidade de voltar à primeira-forma, numa repetição constante sem surpresa e ou criatividade.
Onze ensaios numa final fazem-na memorável — imagino o gozo dos que tiveram a sorte de assistirem ao vivo... — e mostram que o Rugby não tem que ser o jogo sensaborão e sem riscos que vamos vendo cada vez mais espalhado por esse mundo fora — também vi um insuportável Geórgia-Holanda...
O único interesse que encontrei na final francesa — que teve o dobro dos pontapés do jogo inglês — foi o jogo-ao-pé de Thomas Ramos que, desta vez e por lesão de Ntamack, jogou como médio-de-abertura e que deu uma lição de inteligência táctica de utilização do pontapé (veja-se a diferença, num jogo e noutro, do número de pontapés efectuados em jogo, bem como o número de alinhamentos em cada jogo) quer no jogo em pressão, quer em ocupação de terreno A qualidade do jogo-ao-pé de Ramos foi tal que o jogo deveria pertencer à biblioteca, servindo como aula, a todos, treinadores incluídos, que queiram ocupar o lugar "10" de uma equipa — os nossos internacionais Jerónimo Portela e Jorge Abecasis fariam bem em aproveitar algum do seu tempo para estudarem as decisões e as formas do jogo de Ramos nesta final. Uma verdadeira lição! Que exige muito conhecimento do jogo para permitir as leituras de que deu mostra.
E se os franceses fizeram mais placagens, os ingleses falharam apenas metade para um mesmo número de ultrapassagens da linha-de-vantagem. O que significa que o elevado número de ensaios não aconteceu por falhas da defesa mas porque houve as manobras de continuidade suficientes para desarticularem as defesas. E o número de turnovers conseguidos — 23 contra 6 — mostra claramente o diferente tipo de jogo das duas finais: a colisão que leva o corpo ao chão nem sempre nas melhores condições de manutenção da posse e do tempo de libertação e a escolha do tempo de contacto com a posição adequada para a libertação imediata da bola — entrar de frente leva ao primeiro tipo de contacto, avançar o ombro contrário ao do transporte da bola leva ao segundo. Uma diferença que faz toda a diferença entre paragens e constantes recomeços de mais do mesmo e a destabilizadora continuidade do movimento, normalmente utilizada em sequência do mesmo sentido mas com todas, dependendo da leitura, as possibilidades de contrariar o posicionamento adversário mais organizado ou mais forte.
Pelas duas finais vistas e que correspondem ao já visto anteriormente nas meias-finais dos dois campeonatos, parece que os conceitos do Rugby de Movimento atravessaram a Mancha e começam a desenvolver-se. O que significará, se esta transformação for uma realidade, que — e porque a cultura rugbística tem aí um enorme berço — que o Rugby inglês, fazendo jus ao seu enorme número de jogadores, pode tornar-se uma potência capaz de ombrear com os AllBlacks. Há quem se lembre do que este tipo de jogo de movimento fez de um país de pouca riqueza e reduzida população como o País de Gales nos anos 70. Alguém recordou a lição e está — para bem e gozo de todos nós espectadores — a utilizá-la. Espera-se que para bem do Mundial de 2023...