Oito dias depois das notáveis demonstrações da importância de uma boa e eficaz formação ordenada - França-África do Sul e Itália-Nova Zelândia - a selecção portuguesa mostrou as suas debilidades neste domínio - impossibilidades genéticas como alguns pretendem fazer crer ou apenas resultado de anos da redutora proibição de empurrar nas camadas jovens de formação?
No final do jogo Daniel Hourcade apontava-me o exemplo de um pilar argentino que passava: É um Puma! Tem já 10 anos de treino de primeira-linha, tem muito trabalho em cima. Ou seja: o tempo como factor crítico decisivo - tinha já os 10 anos que Istvan Balyi, no Long Term Athlete (Player) Development, considera como tempo mínimo necessário para se desenvolver capacidades e atingir o nível máximo; tinha já o tempo que Malcom Gladwell (in Outliers) considera ser necessário para garantir o sucesso especializado.
A questão que se coloca ao nosso cinco-da-frente passa por muito treino específico - já que a inexistente competição interna pouco ajuda. Analisando as duas formações em confronto - a argentina e a portuguesa - detectam-se imediatamente diferenças que vão desde a posição do corpo - mais baixos sempre os jaguares - dos pés e do seu movimento - existem avanços a considerar - da direcção do olhar e da projecção do corpo para o contacto - questão de colocação do centro de gravidade - num conjunto de aspectos que tornam o sistema mais ou menos capaz. Tratando-se de uma das melhores escolas do mundo - inventores da terrível bajadita - ver e rever o vídeo do jogo nas formações ordenadas é - e não apenas para quem participou - uma lição que deve ser analisada e aproveitada.
Sem cinco-da-frente não é possível obter resultados de bom nível. Da sua eficácia nas formações ordenadas resultará, noutras fases do jogo, a capacidade de concentrar adversários para conseguir criar o tempo e o espaço que permitirão que a equipa possa correr e circular a bola. Com estes ou outros jogadores – aqueles que se mostrem capazes - os portugueses, tendo pouco tempo para atingir o nível necessário ao confronto internacional, precisam de descobrir soluções adequadas. Porque sem isso é ilusória a possibilidade de qualificação…
Houve melhorias no posicionamento dos três-quartos. Abandonada que foi a profundidade excessiva e aproximando-se da linha de vantagem, as linhas atrasadas - nas raras vezes em que puderam sair no pé da frente - deixaram indicações que, com maior adaptação ao cara-a-cara e maior rapidez na adequação das linhas de corrida para apoio do portador, compreenderam como podem atacar eficazmente as defesas adversárias. Esta questão da adaptação das linhas de corrida tem uma importância fundamental para ultrapassar as organizações defensivas actuais: é necessária uma percepção colectiva do momento decisivo da oportunidade. O que exige uma leitura atempada da linguagem corporal do portador da bola e a adequada resposta de geometria variável. Ou seja: o apoio, fechando o cone, tem que se aproximar das costas do companheiro, deixando-se aspirar no mesmo corredor e preparando-se para receber a bola em situações de enorme dificuldade técnica – compete aliás ao apoio, garantir a eficácia do passe. E assim a bola, em vez de morrer no chão, manter-se-á viva, prolongando o movimento de desequilíbrio da defesa. Estes momentos, se percebidos e ajustados colectivamente, transformam-se em progressões a que a defesa, desequilibrada, tem enormes dificuldades de resposta. A disponibilidade, organizada colectivamente, de cada um permitirá soluções de acordo com as situações que o movimento da bola suscita possibilitando então um comportamento da equipa objectivo e onde o todo valerá mais do que a soma das suas partes.
Um grande problema continua, no entanto, a ser o jogo-ao-pé. Sem precisão e sem propósito, não é arma ofensiva e torna-se apenas recurso. E assim é muito difícil controlar um jogo. Determinante no jogo contemporâneo, as diversas formas do jogo-ao-pé tem que ser estrategicamente adequadas ao correr do jogo e ao seu movimento. Não as utilizar eficazmente resulta num enorme e arriscado esforço de conquista de terreno.
A rever continua a utilização das bolas recebidas de pontapés adversários. O lançamento dos contra-ataques é defeituoso quer na leitura espacial, quer nos elementos que envolve ou que se disponibilizam. E também na forma previsível como pretendem avançar.
Gostei da passagem de Pedro Leal para defesa (é um típico jogador do três-de-trás onde encontra a liberdade de expressão necessária às suas características) e a entrada de Emmanuel Rebelo para formação - com passe mais rápido, de maior precisão e com hábitos de jogar sob pressão - parece ser a melhor solução actual. A equipa fica mais consistente quer na distribuição quer no jogo - por maior sentido colectivo - à volta das concentrações e aumenta as possibilidades de intercalação e lançamento do contra-ataque.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
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